Bienal de Veneza
VIAGENS DA ARTE ANGOLANA
Há viagens materiais e viagens mentais. Todas elas igualmente possíveis, mas nem todas realizáveis.
1. A viagem de sonho dos quatro candengues num carro de areia da praia, para além de pura evasão dos sentidos, na in inita possibilidade da Fala, resume o resíduo de uma Utopia que o pós-guerra legou a todos os angolanos. É com este vídeo de Binelde Hyrcan que abre esta crónica de uma caminhada pela Bienal de Veneza, na praça de Santo Stefano, em San Marco, sorria um sol ardente de inais de Junho, até ao pavilhão de Angola, no primeiro andar do palácio Pisani, sob o lema “On ways of travelling” (Sobre formas de viajar), aberta desde 6 de Maio e onde icará até 22 de Novembro de 2015, data do encerramento da bienal das bienais.
2. António Ole instalou (se) na Bienal: zinco precário e ângulos de betume concreto. Banheiras de plástico da zunga ou das dizangas íntimas. Da roupa misturada pelas mwambas e bagagens de quem nunca viajou. Garrafas de gasosas – paradoxo de uma transparência re(in)utilizável). Terra vermelha do lugar onde brincamos. António Ole soube conjugar (ou conciliar) a idiossincrasia bantu com a universalidade (ou interpenetrações) das Culturas Universais. Até porque a nossa idiossincrasia cultural bantu nunca podia deixar de ser contemporânea. Talvez haja mais é um equívoco na elucidação do termo “contemporâneo”. Porque é que o Pensador Tchókwe não há-de ser contemporâneo?
3. Nelo Teixeira. O povo usa caminhar. Transmutando-se. Robotizando-se. (Des) consumindo-se.
4. Délio Jasse. Passaporte. Fronteiras do tempo e da geogra ia seladas num carimbo onde se lêem História(s) sob as águas recorrentes da memória. Arte horizontal. Do rés-do-chão. Para ver com os bicos dos pés.
5. Francisco Vidal. African industrial revolution. Das indústrias que não se desamericanizam, nem com os olhos de Keny West redesenhados nessa obsessão extrema de ixar a Arte num pan letarismo idiomático.
CONCLUSÃO: o facto de o tema geral da Bienal de Veneza ser TODOS OS FUTUROS DO MUNDO não signi ica que Angola não tenha, dentro de portas, artistas futuristas capazes de bem representar o país. Aquilo que muitas vezes se julga futurista por andar colado à ocidentalização, mais não é que um sub-pro- duto dessa morfomania a que chamam Arte Contemporânea e que Picasso, Pollock e outros desconstrutoes da Arte lançaram para a posteridade e que cobra milhões aos grandes magnatas do Capital, arte que nós, os comuns mortais trabalhadores, jamais usufruiremos senão nos catálogos.