DA AUDIÊNCIA DE PAULO VI A NETO, CABRAL E MARCELINO
PROFUSÃO DE INÉDITOS, 45 ANOS DEPOIS Da audiência de Paulo VI a Agostinho Neto Amílcar Cabral e Marcelino dos Santos
Um colóquio assinalou, a 1 de Julho de 2015 em Luanda, o 45 º aniversário da audiência do Papa Paulo VI aos três líderes nacionalistas da África lusófona. Meditou- o sob a temática “O Contributo das Igrejas Cristãs no Processo da Independência de Angola”.
A jornada representou a 6ª edição dos ‘Diálogos em Família”, tradicional iniciativa cientí ica da Fundação António Agostinho Neto (FAAN). A programação original previa a presença do moçambicano Marcelino Dos Santos, único sobrevivente dos três líderes. Os dois outros foram o bissau-guineense Amílcar Cabral e o angolano António Agostinho Neto. A saúde impediu-o em última hora, aclarou a veneranda viúva do Primeiro angolano, Maria Eugénia Neto, e an itriã da conferência no Auditório das AAA. «Por razões de saúde e de outra índole, algumas individualidades infelizmente não estarão presente», aclarou ao saudar a assistência. Frontalidade e verdade histórica Nem esta falha afectou a valia intelectual do exercício, que culminou num festival de revelações inéditas, longe de histérico culto da personalidade.
E a própria viúva deu o tom com estes rasgos de frontalidade e verdade histórica: « As escolas rurais das igrejas cristãs, além de abrir as portas ao domínio das letras e dos números, ajudaram a modernizar e a consciencializar os angolanos. Por essa razão, uma boa parte dos militantes e guerrilheiros da luta de libertação provêm das igrejas cristãs, dos quais destaco o Cónego Manuel das Neves, Joaquim Pinto de Andrade, Reverendo Domingos da Silva, entre outros. (…) As igrejas cristãs também tiveram um papel dúbio e ambíguo nas suas relações com a administração colonial. Por esse facto criaram alguma tensão com o movimento de libertação nacional. Mais tarde, a igreja cristã foi angolanizada e passou a jogar um papel importante na coesão social de Angola e na defesa da unidade e integridade territorial.»
Na mesma linha, Maria Eugénia Neto enalteceu os sogros, Rev. Agostinho Pedro Neto, pai de Agostinho Neto e sua mãe, D. Maria da Silva, «pelo trabalho que realizaram na Igreja Metodista Unida».
Coube a honra da abertura dos trabalhos ao Secretário do Bureau Político para os Veteranos da Pátria e Antigos Combatentes, Paulo Kassoma. Seu breve discurso rea irmou o reconhecimento do partido no poder ao contributo das Igrejas na conquista da independência de Angola.
A FAAN emparceirou com o Centro de Estudos ‘Populorum Progressio-Angola’, na preparação e organização desta 6 ª edição dos ‘ Diálogos em Família’.
Promoção de homens que possam conduzir
Um coquetel de 12 palestrantes introduziu o debate em cada ocasião durante 20 minutos.
Dois vieram do Vaticano, designadamente: Dom Carlos Alberto de Azevedo, Arcebispo, Historiador, Delegado do Ponti ício Conselho para a Cultura; o Prof. Filomeno Lopes, Bissau-guineense, jornalista da ´Radio Vaticano´. Com o Angolano Siona Casimiro, exumaram a memória da histórica audiência, com inéditos pormenores e rico exercício ilosofal.
O prelado, em particular, desvendou a in luência decisiva do Arcebispo de Conacri na época, no surpreendente acolhimento do Papa.
Explicitando suas fontes aturadamente pesquisadas, o veterano Siona frisou:
A audiência do Papa foi precedida de verdadeiras “negociações”, em que intervieram diversas figuras italianas, católicas, atentas à causa dos povos africanos. (…) Estas pessoas, que conheciam a realidade africana, conseguiram que o pedido de audiência fosse examinado, pedido que o Papa imediatamente acolheu de modo favorável.”
O Papa mostrou- se defensor da justiça social e da independência dos povos, tendo recomendado o uso de métodos pacíficos aos seus interlocutores.
Também, lhes disse que a questão mais importante de momento era a promoção de homens que possam conduzir a evolução da situação.
No im da audiência, ofereceu um exemplar da Encíclica ‘Populorum Progressio’ a cada um
Comentário de um Prelado Liberal sob anonimato na altura à AFP: «A surpresa das pessoas não deixa de me espantar: será que não conseguem compreender o Papa? Há anos que os contestadores da direita e da esquerda difundem uma imagem infantil e deformada de Paulo VI. O Papa da Encíclica ‘Populorum Progressio’ e das visitas aos bairros de lata é um dos censores mais lúcidos da sociedade de consumo».
Notável palestrante foi, ainda, o Dr. Jean-Léonard Touadi. Emigrado de Congo-Brazzaville, é hoje em dia Assessor do Ministério das Relações Exteriores da Itália, onde chegou a ser deputado. Abrangência ecuménica A abrangência ecuménica caracterizou igualmente este VI Diálogo em Família, com sorrateiros avisos proféticos à navegação hodierna.
A CEAST falou por D Francisco Viti, Arcebispo Emérito do Huambo, e D Zacarias Kamwenho, Arcebispo Emérito do Lubango.
O primeiro lembrou o seu primeiro frente-a-ferente privado com Neto. Baseado nas impressões que lhe deixou aquele contacto, exortou as jovens gerações a merecerem do orgulho de pertencer e construir uma Nação Africana, livre e em paz no mundo.
D Kamwemho fez uma incursão no remoto reconhecimento da Igreja Católica da identidade especí ica das populações autóctones de Angola. Evocou, de seguida, a sua localização na altura da célebre audiência, o impacto no seio do jovem clero autóctone e a incidência na emancipação acelerada do mesmo - processo em curso até agora. Realçou como partilhou a alegria dos tempos da independência, encantado com a poesia das estrelas até nacionalizadas pelo Povo. E terminou com a divertida piada de interrogar «como está o brilho das estrelas hoje?».
Intervieram, também, o Bispo Emílio de Carvalho, Emérito da Igreja Metodista, e o Bispo Gaspar Domingos, em vigência na mesma con issão. Ambos salientaram as vicissitudes especiais a que foram submetidos correligionários da sua fé e pastores, em proporção aos outros.