PALÁCIO DE FERRO IMÓVEL COM CARÁCTER DE EXCEPÇÃO
Imóvel com carácter de excepção
Com o desenvolvimento urbano desapareceram de Luanda muitas construções antigas e notáveis que historiavam a evolução da arquitectura e a vida citadina no decurso de alguns séculos. Ou seja, desapareceram os edi ícios representativos de cada época e de cada estilo arquitectónico que ofereciam um panorama contínuo e completo do passado de Luanda.
Muitas dessas obras já se perderam para sempre, sacrificadas a interesses restritos ou a conveniências de ocasião!
Por casualidade da sorte, icou ainda de pé até agora um edi ício singular, que é, justamente, o exemplar mais valioso de um período histórico e de um tipo novo da técnica de construir, correspondente à segunda metade do século XIX.
É conhecido por “Palácio de Ferro” e situa-se na zona baixa da cidade de Luanda entre as Ruas Major Kanhangulu e Engrácia Fragoso.Trata-se de um imóvel de dois pisos, de planta rectangular, com varandas circundantes e escadas exteriores.Todo ele construído em ferro, não exceptuando mais do que algumas obras acessórias, como sejam o pavimento do piso superior os tectos.
A sua origem é um tanto vaga. Parece que serviu como pavilhão numa Exposição Internacional em París (1900) e que, posteriormente, foi adquirido por uma irma comercial de Luanda, que aqui o mandou reconstruir (montar) e o utilizou para as suas actividades.
Pode-se a irmar que, pelas suas características, pela sua contextura e pela sua singularidade, é uma obra de arquitectura única no seu género, de que não há modelo similar, pelo menos em Angola. Isso justi ica já, plenamente, o interesse que vem sendo manifestado pela sua conservação e preservação.
Na verdade, o Palácio de Ferro, é o exemplar típico, senão mesmo, o mais representativo que temos de uma época histórica e de um sistema construtivo que de inem um período e um estilo diferenciados na evolução da arquitectura.
Durante muitos séculos, a arte de construir baseou-se, como se sabe, no emprego de pedra e do tijolo, em obras de cantaria e alvenaria, que tinham como elementos de suporte as paredes e pilares maciços e volumosos.Eram desta natureza e deste tipo, na generalidade, as construções antigas de Luanda, de que ainda se podem aqui observar alguns exemplares dos séculos passados.
Contudo, os estilos arquitectónicos evoluíam e sucediam-se através dos tempos, mas o sistema construtivo mantinha-se e parecia insubstituível. Essa linha de continuidade, porém, foi quebrada no século XIX. Com a chamada “Revolução Industrial”, que num crescendo irreprimível vinha desbancando desde o inal do século anterior a produção artesanal e os o ícios manuais, operou-se também uma “revolução técnica” de efeitos surpreendentes.
Essas duas revoluções abalaram profundamente os sistemas tradicionais de vida das sociedades, re lectindo-se avassaladoramente nos campos económico e social e em muitos outros aspectos das actividades humanas.Também a construção sofreu o impacto renovador desse movimento revolucionário, que abriu uma nova era para a Humanidade (que, infelizmente, não apresenta só valores positivos).
Os novos processos tecnológicos criaram outros sistemas construtivos, com a invenção da pré-fabricação e o predomínio dos metais.
E aos velhos métodos tradicionais de construção em maciços sucedeu a construção estrutural, com esqueletos resistentes de ferro, industrializados e amovíveis.
Assim, surgiu um novo período para a Arquitectura.
Em meados do século passado começaram a edi icar-se as construções de ferro, montadas nos locais próprios com peças pré-fabricadas e desmontáveis.
A fabricação em série, a resistência e as possibzxilidades de mobilidade permitiu que, este processo construtivo, se expandisse por todo o mundo.
Também para Angola vieram parar alguns exemplares de edi ícios de estrutura metálica, mas nunca este tipo de construção teve aqui grande incremento, talvez por não poder competir com o sistema tradicional, certamente, mais económico.
O mais grandioso e também o mais belo de todos os que ainda subsistem (e já são raros) é, precisamente, o “Palácio de Ferro”. Um outro imóvel com estas características acabou incendiado recentemente (Edi ício do antigo Cabo Submarino, em Benguela).
Ele é, efectivamente, o espécime representativo ou se quisermos o ícone principal daquela fase revolucionária da construção e da arquitectura, original e característica do progresso técnico.
Pode dizer-se que é um modelo único em Angola do tipo de arquitectura universalista da segunda metade do século XIX e do princípio do século XX. Do mesmo modo, pode considerar-se o exemplo que assinala uma época da evolução arquitectural de Luanda.
É de notar que, a par da concepção técnica, de natureza utilitária e funcional, todo o edi ício foi ideado com acentuado sentido artístico, apropriado ao material adoptado. Todo ele está valorizado com profusa orna- mentação metálica, especialmente a escadeira principal e o remate central do frontispício.
Tais fundamentos de inem o valor intrínsecoe excepcional do “Palácio de Ferro”, tornando-se evidente a necessidade e, diríamos mesmo, conveniência de se salvaguardar essa notável obra arquitectural que enriquece o património histórico da cidade.