Jornal Cultura

CENTRO CULTURAL BRASIL-ANGOLA O CORAÇÃO BRASILEIRO DE SANGUE ANGOLANO

O CORAÇÃO BRASILEIRO DE SANGUE ANGOLANO

- MATADI MAKOLA

Artistas, estudantes, diplomatas, políticos e intelectua­is angolanos e brasileiro­s estiveram presentes no dia 7, segunda-feira, para testemunha­r que o Centro Cultural Brasil-Angola, situado na baixa da cidade, já é um facto na urbe luandense, inaugurado e aberto ao público pelas máximas entidades governamen­tais da Cultura brasileira e angolana. Ao som da marimba e do berimbau, a ministra da Cultura de Angola, Rosa Cruz e Silva, e o ministro da Cultura do Brasil, Juca Ferreira, cortaram a ita e descerrara­m a placa indicativa na entrada do elegante edi ício que será palco do mais nobre intercâmbi­o cultural entre estes dois países. “As literatura­s brasileira e angolana, as artes plásticas, o teatro, a música, o cinema, a dança, o património material e imaterial e as nossas tradições terão aqui um espaço para os fazedores da cultura para que a sociedade angolana possa fazer fruir e fazer jus à Cultura enquanto poderoso instrument­o”, destacou a ministra. O seu homólogo brasileiro, o ministro Juca Ferreira, contextual­izou que “são duas culturas irmãs a todos instantes: na língua, na arquitectu­ra, na culinária, nos tipos humanos, na estética e na linguagem não-verbal. É um passo de signi icativa importânci­a para uma maior aproximaçã­o destes povos, num contexto de nações soberanas em processo de construção, e Angola esteve e está presente de forma marcante na formação do povo brasileiro”. Edi ício do Centro Cultural Brasil-Angola Cedido pela Fundação José Eduardo dos Santos – FESA, o edi ício de primeiro andar foi reestrutur­ado sem pôr em causa a sua a antiga con iguração exterior. O presidente da FESA, Ismael Diogo da Silva, recordou que esta iniciativa é um gesto de retribuiçã­o iniciado aquando da criação da Casa da Cultura de Angola na Baía, Brasil, que motivou o Presidente José Eduardo dos Santos a retribuir o gesto, como reconhecim­ento das cordiais e históricas relações de amizade e a inidade culturais entre os povos, e a impulsiona­r compromiss­os que visam a cedência de espaços e imóveis para o sector cultural em Angola e no Brasil.

Parte indelével da memória colectiva dos angolanos, construído em 1910, próximo da praia do porto-cais, onde então desembarca­vam com seus grandes baús os passageiro­s chegados nos vapores oriundos de Portugal, trata-se do primeiro projecto executado em Luanda com ins de servir de hotel de luxo. É um exemplar que ilustra a arquitectu­ra tropical do estilo da época. Pelas suas caracterís­ticas, virtualida­des e saborosa aquitectur­a, foi promovida a sua classi icação por despacho nº 47 de 8 de Julho de 1992 pela então Secretaria de Estado da Cultura.

“Honra-nos que este edi ício esteja transforma­do num espaço de cultura e arte, que vai fazer a diferença para melhoria da qualidade da vida da baixa, respeitand­o o sentido último do nosso esforço em preservar a nossa história e a nossa cultura. Este momento vai contribuir para que os brasileiro­s e angolanos tenham acesso a algo fundamenta­l como um espaço de populariza­ção de ambas as culturas, preservand­o a sua signi icante estrutura, cuidada e harmoniosa arquitectu­ra exterior e adaptando o seu interior às artes e às humanidade­s”, frisou o presidente da FESA.

Depois de um longo período de declínio e desapareci­mento, o Grande Hotel Luanda foi submetido a um esmerado trabalho de restauraçã­o que durou 2 anos, e renasce como Fénix para retomar o seu devido lugar na cena luandense, pontuou o embaixador brasileiro em Angola, Norton Rapesta. E acrescento­u que mais uma vez abrigará viajantes. Mas, desta feita, viajantes doutro tipo, que não guardam para si o que sentem e o que pensam, e que usarão este espaço para compartilh­ar fantasias, emoções, sonhos, sons, letras. “Este centro nasce com a essência destes dois povos, batendo um coração brasileiro com o sangue angolano a circular por dentro”, conclui.

Sobre as suas exigências, a ministra da Cultura assegurou que é um momento particular na história da cidade capital, que ganha um equipament­o completame­nte restaurado de acordo com os melhores padrões recomendáv­eis pela UNESCO.

Além do plausível cine-teatro Ovidio Melo, em homenagem ao diplomata brasileiro que se empenhou pessoal e pro issionalme­nte no momento decisivo da a irmação da Nação Angolana aos olhos do Brasil, conseguind­o prestigios­amente que o Brasil fosse o primeiro país a reconhecer a independên­cia de Angola, a brasileira Tessa Pisconti, a antiga directora da agora extinta Casa da Cultura do Brasil e directora do novo e cabal Centro Cultural Brasil-Angola, enumerou que está repartido em salas de aulas e leitura infantil e salão de exposição. “Mudamos de local e de designação mas não de objectivos, embora agora com uma acção maior”, esclarece Tessa. Show Kalunga II No palco do cine-teatro Ovidio Melo, uma plêiade de cantores brasileiro­s encerrou o dia 7 encantando o público luandense com as várias facetas que o samba tem. Mariene de Castro acertou as rotas do seu canto e dança angelical com baladas que exaltaram a força da natureza brasileira; Nei Lopes, sempre com novidades na ponta da língua, trouxe de volta o tema ´Candonguei­ro´ e deu-nos a conhecer o bantu Pixinguinh­a, considerad­o o maior músico brasileiro do século XX; Geraldo de Azevedo, o músico do nordeste brasileiro, fez-nos sonhar e correr pelo cais das praias que a sua guitarra fazia nascer, e, num jogo eclético de grande so isticação, compôs uma música com vários recortes e caminhos da poesia de Neto. Foi no início de carreira da conceituad­a Elba Ramalho, há 35 anos, quando se deu a primeira edição do Show Kalunga – com passagens por Luanda, Benguela e Lobito. Daquilo que foi a sua primeira impressão diante de milhares de espectador­es angolanos, Elba conta que era apenas “um violão e ela nervosíssi­ma”. Desta vez, a lauta arrepiava, mas era o cavaquinho que melhor acompanhou Elba, a cantora que interpreto­u o tema da novela Roque Santeiro, cognome do memorável e típico mercado que um dia existiu em Luanda; o violinista Yamandu Costa deixou claro que a música ainda tem como se reinventar ao criar um repertório único, de conhecimen­to intimista; Francis e Olívia Hime e Miúcha foram três notas a desbravar a alma num canto à moda penetrante do fado; Martinho da Vila e Mart´Nália inalizaram o momento com toda uma alegria de deixar a vida nos levar pelo samba que nos ensinou a degustar o funje e a feijoada.

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 ??  ?? Juca Ferreira e Rosa Cruz e Silva inaugurand­o o Centro Cultural Brasil-Angola
Juca Ferreira e Rosa Cruz e Silva inaugurand­o o Centro Cultural Brasil-Angola
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Vista externa do Centro
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Ismael Diogo da Silva

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