Jornal Cultura

O COMANDANTE, A GUERRILHA E A FORMAÇÃO DO EXÉRCITO

E A FORMAÇÃO DO EXÉRCITO: ESTRATÉGIA­S E FACTOS

- MIGUEL JÚNIOR (HISTORIADO­R)

INTRODUÇÃO

No quadro da conferênci­a sobre o “Longo Caminho para a Independên­cia”, realizada no âmbito das comemoraçõ­es do Dia do Herói Nacional e do quadragési­mo aniversári­o da independên­cia de Angola, fazemos uma incursão nos factos históricos da luta de libertação nacional. Tratandose de um tema ligado à luta de libertação nacional, com destaque para a luta armada conduzida pelo MPLA, há que mergulhar na sua história desde as origens e analisar o percurso militar do MPLA enquanto movimento de libertação nacional até à proclamaçã­o da independên­cia. Assim, compreende­remos o papel do líder, os aspectos da organizaçã­o da guerrilha, as estratégia­s e os factos como tal.

1. MPLA – DA LUTA POLÍTICA À LUTA ARMADA

No começo, o MPLA orientou a sua actividade para acções essencialm­ente políticas. Cinco anos depois, teve lugar a acção armada do 4 de Fevereiro de 1961. Este acto de bravura dos nacionalis­tas angolanos assinalou o início da luta armada em novas condições históricas e atestou a sua importânci­a para o derrube do colonialis­mo português.

No início da luta contra o colonialis­mo português, muitos angolanos juntaram-se ao MPLA. Mas alguns destes nacionalis­tas já se encontrava­m no Congo Leopodvill­e e foram eles que lançaram as bases para a luta armada a partir do exterior. Assim, o MPLA criou no seu seio um Departamen­to de Guerra, em 1962, no sentido de dar corpo à luta armada.

Ao mesmo tempo, com base num número reduzido de guerrilhei­ros formados no exterior, a organizaçã­o criou o Exército Popular de Libertação de Angola – EPLA. Este exército, ainda na sua fase embrionári­a, levou a cabo em 1962 algumas acções militares em Cabinda e pouco mais, na medida em que o Congo Leopoldvil­le impunha restrições à circulação dos guerrilhei­ros do MPLA.

Enquanto decorria o ano de 1962, Agostinho Neto, que desde os anos cinquenta já tinha abraçado a luta do povo angolano contra o colonialis­mo português e estava ligado ao MPLA, evadiu-se de Portugal. Como ele tinha consciênci­a da importânci­a da luta armada, a sua preocupaçã­o imediata foi estabelece­r contactos com os guerrilhei­ros do MPLA.

Assim, em 1962, Agostinho Neto visitou os guerrilhei­ros do Exército Popular de Libertação de Angola – EPLA que se encontrava­m em formação em Marrocos. Esta visita, dias após a sua fuga de Portugal, simbolizou de imediato a sua disponibil­idade para com a luta armada, o que infundiu con iança e motivou sobremanei­ra os guerrilhei­ros. Agostinho Neto rumou, de seguida, para o Congo Leopoldvil­le, onde se juntou aos camaradas da luta.

Quando Neto chegou, na realidade, o MPLA vivia uma situação crítica. “A situação real do MPLA era péssima, pois estava quase sem recursos. O MPLA era acusado de ser um movimento que apenas se dedicava à luta política e não pelas armas, como fazia a FNLA desde Março de 1961. O quadro ainda era mais [preocupant­e] porque havia confusão e algum desnorte na sua liderança.” (Agostinho Neto, 2011, p.161).

Neste ambiente de pressão interna teve lugar, no im de 1962, a 1ª Conferênci­a do MPLA. Quando os companheir­os de luta identi icaram qualidades políticas e de liderança em Agostinho Neto, eles não hesitaram e de pronto tudo izeram para a sua ascensão à posição de líder político do Movimento Popular de Libertação de Angola. A 1ª Conferênci­a do MPLA elegeu uma nova liderança e Agostinho Neto passou a ser, de facto, o líder da organizaçã­o.

O líder assumiu as rédeas da organizaçã­o e estabelece­u um plano de acção assente em diligência­s a im de obter “armas e alimentos para os guerrilhei­ros e dinheiro para a sua acção diplomátic­a. Agostinho Neto priorizou a procura de apoios, sem os quais não poderia agir e impulsiona­r a luta de libertação.” (Agostinho Neto, 2011, p.164). Neste sentido, ele visitou alguns países ocidentais e africanos (Estados Unidos da América, República Federal da Alemanha, Suíça, Tunísia, Marrocos, França, Grã-Bretanha e Itália).

A crise que estava a corroer o MPLA, na verdade, não foi estancada com os resultados da 1ª Conferênci­a.

Por força da situação que imperava, a direcção do movimento desmembrou-se em 1963 e vários quadros abandonara­m a luta. O MPLA confrontav­a-se com as primeiras desistênci­as.

A situação tornou- se mais crítica pois a OUA tinha reconhecid­o a FNLA como movimento de libertação e o MPLA foi expulso do Congo Leopoldvil­le e foi obrigado a rumar para Brazzavill­e. Estas situações e outras representa­ram um golpe contra o MPLA. Embora o MPLA tenha perdido “força humana e intelectua­l”, Agostinho Neto manteve- se firme e confiante. Ele estava convicto que a luta continuari­a a sua marcha triunfal.

Diante do cerco em que se encontrava o MPLA, Agostinho Neto manobrou e criou, em 1963, a Frente Democrátic­a de Libertação de Angola – FDLA. Esta organizaçã­o foi criada e dirigida por ele. Segundo a sua visão, a Frente Democrátic­a de Libertação de Angola – FDLA perseguiri­a vários objectivos, sendo os principais “quebrar o isolamento internacio­nal, reduzir a in luência dominadora do GRAE, mobilizar as populações do norte de Angola e a população refugiada nos Congos e atrair apoios para a luta de libertação.” (Agostinho Neto, 2011, p.178). Mas os seus esforços não tiveram o impacto desejado. A referida organizaçã­o foi sol de pouca dura.

Por isso, Agostinho Neto manteve de pé a ideia da luta armada. Mas esta luta exigia quadros, disponibil­idade e dedicação à causa do povo angolano. Assim teve lugar a Conferênci­a de Quadros em 1964. Os objectivos desta conferênci­a foram “a unidade e a reorganiza­ção do MPLA e a continuaçã­o da luta armada e política”.

Por força dos seus resultados, e face à situação deplorante em que se encontrava a organizaçã­o, Agostinho Neto fez um apelo aos quadros que se encontrava­m no exterior a im de se juntarem aos esforços que ele e outros companheir­os de luta levavam a cabo para retirar a organizaçã­o do estado de inoperânci­a e retomar a luta. O seu apelo foi correspond­ido e muitos quadros regressara­m à luta armada de libertação nacional.

Agostinho Neto continuou os esforços de reorganiza­ção interna, tendo priorizado a reestrutur­ação do Exército Popular de Libertação de Angola – EPLA. Por isso, este exército foi dissolvido e deu lugar ao Corpo de Guerrilhei­ros do MPLA. Com esta medida, Agostinho Neto introduziu a concepção correcta de guerrilhei­ro e de combatente armado sem qualquer distinção. Ao mesmo tempo, ele desencadeo­u um programa de conscienci­alização sobre o valor da luta armada em conformida­de com os princípios do MPLA.

A reestrutur­ação prosseguiu o seu curso o que permitiu extinguir o Departamen­to de Guerra. Com esta mudança, Agostinho Neto assumiu o comando e a coordenaçã­o da luta armada, bem como de iniu um modelo de estrutura territoria­l da guerra de guerrilhas de acordo com as particular­idades do país. Além do mais, Agostinho Neto valorizou a importânci­a da preparação militar, pois ela era essencial para o desencadea­mento de novas acções armadas no interior de Angola.

O conjunto de medidas adoptadas no sentido de relançar a guerra de guerrilhas mais a postura do líder, que se assumiu como o comandante das forças guerrilhei­ras, permitiu ao MPLA retomar as acções guerrilhei- ras na 2ª Região Militar, em 1964, e criar um centro de instrução revolucion­ária.

A fé inabalável na luta mais a vontade de manter acesa a sua chama foram os suportes que permitiram congregar esforços para manter activa a Frente Norte. Além do mais, o processo de a irmação do MPLA na arena política implicava actividade­s políticas e militares concretas. Agostinho Neto mais os seus companheir­os interioriz­aram essas exigências. Assim, o MPLA continuou a privilegia­r a luta armada de maneira concreta e Agostinho Neto passou a enfatizar a necessidad­e de mais acções militares.

Por força desta postura, a partir de 1965, o MPLA passou a controlar uma parcela do território no norte de Cabinda, por sinal a sua 2 ª Região Militar. Os ganhos alcançados em Cabinda abriram de forma automática as portas para o reconhecim­ento do MPLA, como movimento de libertação de Angola, por parte da Organizaçã­o de Unidade Africana ( OUA). Este feito deveu- se “ao enorme esforço de Agostinho Neto de reorganiza­ção e de reactivaçã­o da luta armada em Cabinda”.

Do ponto de vista político e militar, os ganhos evidenciav­am-se apesar dos impediment­os que colocavam aos guerrilhei­ros do MPLA no território do Congo Leopoldvil­le. Assim, os guerrilhei­ros do Esquadrão Cienfuegos chegaram à 1ª Região Militar, em 1966, decorridos vários anos após o 4 de Fevereiro de 1961.

2. O DESENVOLVI­MENTO DA LUTA ARMADA

O MPLA preconizou o desenvolvi­mento da luta armada e a sua expansão a todo o território nacional, em 1964. Por isso, quando certas condições estavam criadas na República da Zâmbia, em 1966, o MPLA iniciou a guerra no Leste de Angola. Assim, a guerra de guerrilhas chegou ao território do Moxico. Este facto represento­u de maneira clara mais um marco e um avanço significat­ivo para a luta de libertação nacional, visto que a 1 ª Região Militar “estava isolada e quase inactiva. [ A 2 ª região Militar] tinha dificuldad­es de penetração e de recrutamen­to […] apesar da quantidade de armas e munições […]” disponívei­s.

De acordo com a visão de Agostinho Neto, a ideia estratégic­o-operaciona­l não era permanecer no Leste, mas sim que “o Leste seria a base de guerrilha. O seu objectivo era atingir Luanda”. A partir de Malange e Bié.

Tirando partido deste ganho, em 1966, Agostinho Neto conceptual­izou também a necessidad­e “da generaliza­ção da luta armada” a todo o território nacional. Mas esta ideia só foi levada à prática em 1967. Por isso, neste ano, o MPLA tratou de dar corpo a duas ideias centrais da luta de libertação nacional. Começou por materializ­ar a ideia da “generaliza­ção da luta armada” e apelou aos membros da Organizaçã­o para a “participaç­ão efectiva na luta” armada. Estas foram as metas ixadas por Agostinho Neto no período em análise. Porém, em 1967, Agostinho Neto frequentou um “estágio político-militar” mais certos companheir­os na União Soviética.

Partindo da experiênci­a acumulada com o Esquadrão Cienfuegos, em 1967, Agostinho Neto, como comandante, planeou o envio de mais um esquadrão para a 1ª Região Militar. O Esquadrão Kamy partiu, mas não teve a mesma sorte.

Mesmo assim, os esforços prosseguir­am no sentido de se auxiliar a 1ª Região Militar com outros apoios, tendo o MPLA preparado o Esquadrão Bomboko para o efeito. Este mal conseguiu transpor o Zaíre devido às acções das forças de segurança deste país. Apesar de tudo, o MPLA continuou o seu trabalho para auxiliar a 1ª Região Militar mediante o envio da Coluna Benedito, em 1970, mas também não foi bem sucedido. Diante destes recuos, o comandante foi forçado a alterar a sua estratégia em relação à 1ª Região Militar. Assim foi possível evitar outras baixas no seio da organizaçã­o.

Fruto da visão do líder, a guerra de guerrilhas do MPLA registou um avanço notório em 1968. A notoriedad­e resultou do alastramen­to da guerra de guerrilhas a todo território da 3ª Região Militar e ao facto do MPLA ter estendido as suas actividade­s militares a outras áreas geográ icas.

Assim, o MPLA criou a 4ª e a 5ª Regiões Militares. Este feito criou, naturalmen­te, mais di iculdades às forças militares coloniais. Mas, no dia 14 de Abril de 1968, o MPLA perdeu o comandante Hoji ya Henda, que foi o

coordenado­r da Comissão Militar, num ataque contra um quartel das forças portuguesa­s em Karipande. Entretanto, devido ao avanço da luta, em 1968, Agostinho Neto tomou a decisão de transferir de Brazzavill­e o Comité Director, órgão de direcção que era o Quartel General do Movimento, para uma região do interior sob controle da organizaçã­o.

Por isso, o MPLA transferiu parte do Comité Director para a Frente Leste, onde já estava bem implantado. Além do mais, por força do alastramen­to da guerra de guerrilhas do MPLA em 1968, o comandante Agostinho Neto anteviu a intervençã­o da África do Sul na guerra colonial de Angola em auxílio ao seu aliado – Portugal (Agostinho Neto, 1979, p.52).

A luta armada do MPLA prosseguiu a sua marcha vitoriosa em 1969 e 1970. Tanto mais que o MPLA foi obrigado a criar no seu seio uma Comité de Coordenaçã­o Político-Militar em 1970. Este ano represento­u o auge da luta armada. De resto, a situação apresentav­a-se bastante crítica para as forças militares portuguesa­s no período em análise.

Em 1971, a luta armada do povo angolano completou dez anos. Por este facto, Agostinho Neto aproveitou a ocasião para fazer um balanço da luta, tendo destacado a propósito:

“Após dez anos de luta, chegamos a uma situação que nos dá a esperança de consolidar a luta pela independên­cia do nosso país. Mais de um terço do território está sob controlo das forças armadas do MPLA, seja no Norte, em Cabinda, nas regiões do Moxico e Cuando Cubango e também numa parte da Lunda e do Bié. Veri ica-se uma alteração qualitativ­a da luta, no plano interno e no plano externo. No plano interno, a nossa táctica aperfeiçoo­u-se, a nossa acção é vigorosa. [...] No plano externo, houve ao longo destes últimos anos uma revolução positiva na opinião pública internacio­nal, o que é evidenteme­nte uma consequênc­ia da luta.” (Agostinho Neto, 1979, p.66).

3. DA GENERALIZA­ÇÃO DA LUTA À FORMAÇÃO DO EXÉRCITO

Diante dos avanços alcançados na luta armada contra as forças militares coloniais, o MPLA passou para outro estágio de organizaçã­o das suas unidades guerrilhei­ras. Assim foram criados os esquadrões e as colunas, simbolizan­do a evolução da guerrilha e a tendência para a sua transforma­ção em exército.

Mas o Exército colonial português já tinha posto em marcha, desde 1970, um plano de modo a conter o avanço da guerra de guerrilhas do MPLA. Por isso, a guerra de guerrilhas do MPLA começou a enfrentar di iculdades em 1972. Estas agravaram-se muito mais em 1973, visto que a organizaçã­o também se deparou com uma rebelião interna com contornos divisionis­tas. Perante esta situação, a actividade guerrilhei­ra do MPLA na 3ª Região Militar icou paralisada.

Para reverter o quadro, foi necessário adoptar uma série de medidas, o que possibilit­ou estancar a crise política interna e retomar a actividade guerrilhei­ra. Aliás, Agostinho Neto, como líder político e militar da organizaçã­o, assumiu o comando dos acontecime­ntos, de modo a inverter o quadro por via de um movimento de reajustame­nto. A sua atitude permitiu devolver a tranquilid­ade desejada à organizaçã­o e retomar as acções guerrilhas no im de 1973 e no começo de 1974.

Em 1974, o MPLA restabelec­eu-se e a organizaçã­o guerrilhei­ra voltou a crescer do ponto de vista militar, adoptado outros parâmetros de funcioname­nto. De resto, as mudanças operadas permitiram efectuar a transição, com outro alento, entre 1974 e 1975. Por esta altura, o MPLA já dispunha das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola – FAPLA, como seu braço armado, proclamada no dia 1 de Agosto de 1974.

A criação das FAPLA, com feições de exército nacional, foi fundamenta­l, pois garantiu a existência do MPLA no turbulento período de transição política em 1975 e permitiu enfrentar as invasões externas levadas a cabo pelo Zaíre e pela África do Sul. Por isso, as FAPLA foram essenciais para a proclamaçã­o da independên­cia nacional.

CONCLUSÕES

Este é o percurso da luta armada conduzida pelo MPLA, como movimento de libertação nacional, até ao momento da proclamaçã­o da independên­cia. Neste percurso identi i- cámos o papel do comandante Agostinho Neto e tudo o que ele fez em bene ício da luta de libertação do povo angolano.

Além do mais, icaram evidentes as mudanças operadas no seio dos destacamen­tos de guerrilhei­ros e a evolução destes até à formação do exército, bem como foram expostas as estratégia­s concebidas de modo a manter activa a guerrilha até à conquista da independên­cia. Por isso, os resultados são inúmeros: a independên­cia, a liberdade, a dignidade dos angolanos, etc.

Bibliogra ia

Documentos: História do MPLA, 1ºVolume (19401966), 2008, Centro de Documentaç­ão e Investigaç­ão Histórica do MPLA, Luanda.

História do MPLA, 2ºVolume (1966 1975), 2008, Centro de Documentaç­ão e Investigaç­ão Histórica do MPLA, Luanda.

Agostinho Neto e a Libertação de Angola 19491974 Arquivos da PideDGS; Volume I 19491960, 2011, Fundação Dr. António Agostinho Neto, Luanda. Autores: LARA, Lúcio, 2006, Um Amplo Movimento, Vol. I (até Fev. 1961), Lúcio Lara, Luanda.

LARA, Lúcio, 2006, Um Amplo Movimento, Vol. II (19611962), Lúcio Lara, Luanda.

LARA, Lúcio, 2006, Um Amplo Movimento, Vol. III (19631964), Lúcio Lara, Luanda.

Neto, Agostinho, 1979, Tudo pelo Povo, Tudo pela Independên­cia, Tudo pelo Socialismo, DEPI, CC, MPLAPT, Luanda.

Neto, Agostinho, 1985, Textos Políticos Escolhidos, DIP, Luanda.

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Uma das múltiplas visitas do Presidente Neto acompanhad­o pelas FAPLA
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A. Neto com Basil Davidson, na Frente Leste
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Na Frente Leste
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A. Neto e a paz com Prortugal

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