Jornal Cultura

MÃOS NEGRAS

Poema de Ed Mulato (Brasil)

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Mãos que vadias, vazias, remontam estranhas estórias de seus orixás. Mãos de iabás. Mãos que arrancadas, recobrem, no Congo, estórias do sangue que houve por lá. Mãos que não há. Mãos que amarradas, inúteis, são presas, e perdem, na vida, seu tudo, seu lar. Mãos de assustar. Mãos que apresadas em mastros, tumbeiros, imóveis se vendem, por nada, aqui. Mãos de zumbis. Mãos que se estendem ao negro cativo, perdido, vendido, na Terra Tupi. Mãos que não vi. Mãos brutas que rasgam o solo do eito, arrancam do peito a dor de sonhar. Mãos de plantar. Mãos bentas que curam, fazendo mandingas, embalam cantigas p’ro dono sonhar. Mãos de ninar. Mãos que revoltas, rabiscam ideias, buscando revoltas nos sonhos da vez. Mãos de malês. Mãos que se soltam no mato, no mundo, reinventam Angolas da cor de sua tez. Mãos de quem fez. Mãos que se perdem, vazias de emprego, sem chance, sem leite, esperança ou ar. Mãos de esperar. Mãos que se abrem, acolhem, enxugam prantos saudosos de sua união. Mãos que se dão. Mãos que se buscam, unidas na prece, esperam a paz escondida entre irmãs. Mãos de Iansãs. Mãos postas que buscam, em acto de fé, a paz de sua raça e sua remissão. Mãos de perdão. Mãos juntas que enxugam, acolhem e curam, trabalham, procuram a paz entre irmãos. Mãos Negras.

Minhas mãos!

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