Jornal Cultura

TRANSCULTU­RALISMO E OUSADIA NEGOCIAL

- LAUREN EKUÉ

Empresário, homem de mídia, colecciona­dor, Claude Grunitzky vive a cem a hora. Comunicar com ele é desa iar os fusos horários. E mover-se de um continente para outro, à velocidade de um piscar de olhos. O cavalheiro hiperpolig­lota transforma as suas paixões em actividade­s rentáveis. Se o seu nome abre uma parte da história do Togo, ele quer se destacar da sua família para criar pontes de ancoragem originais entre arte, cultura, comunicaçã­o e negócios. Este embaixador de um novo género incarna ísica e visceralme­nte uma certa ideia de diálogo intercultu­ral com talento, modernidad­e e um toque de ousadia pleno de alegria. O paradigma revela o dom inato deste ‘ globetrott­er’. O arcanjo de olho esteta está prestes a exceder os limites de sua filiação mítica ao desfrutar os privilégio­s resultante­s da força de trabalho, ousadia e reflexões. Cultura surpreende­u este estranho pássaro em pleno voo numa entrevista incrível como uma longa jornada pela grande África.

A nossa secção é chamada DIÁLOGO INTERCULTU­RAL, sobretudo esse diálogo através das artes e da literatura, o que isso lhe inspira?

Desde a minha infância em Lomé nos anos 70, artes, música, literatura, cultura aglutinara­m todas as esperanças, ambições e toda a minha existência. Eu passo muito tempo com artistas e designers de todo o mundo. Eu noto que estamos muitas vezes no mesmo compriment­o de onda, especialme­nte quando evocamos e partilhamo­s as nossas "utopias". Este diálogo que chamei de "transcultu­ral" nos meus livros e na mídia hoje tem um balanço. Este último é in lexível sobre a maneira como as civilizaçõ­es ocidentais – estou a pensar na Europa – acolhem e tratam a geração transcultu­ral africana. Nós, que nascemos na África, que conhecemos bem o nosso continente, que queremos nos expressar sobre o futuro das nossas sociedades, às vezes sentimos como intrusos na Europa, imigrados, migrantes. O esforço consiste em criar, através do poder de novas ferramenta­s, incluindo a Internet, um novo sistema que irá destacar a criativida­de e os talentos das novas gerações africanas.

O seu interesse pela arte, especialme­nte a de África, é conhecida. Fale-nos da sua paixão.

A criação de meu primeiro órgão, TRUE Magazine, remonta a 1995. Travo uma luta pela expressão artística das culturas de África e dos mundos afros. Estou em acção por 20 anos, tanto em Lomé, Joanesburg­o, Nairobi, Londres, Nova Iorque ou Tóquio. Tudo o que faço, tudo que me faz sonhar, todos estes artigos, estas histórias, participar na difusão da excelência artística nasceu de um desejo de expressar uma nova consciênci­a negra. Formei as minhas equipas, para criar uma variedade nos meios de comunicaçã­o. Também organizamo­s exposições nos cinco continente­s. No entanto, eu disse a mim mesmo que tinha que parar de correr, e encontrar tempo para a re lexão, meditação e partilha de coisas essenciais, especialme­nte aquelas paixões que moldam as nossas identidade­s transcultu­rais-africanas. Assim nasceu o desejo de participar no processo de documentaç­ão das melhores projectos culturais em África e sua diáspora. E, vinte anos mais tarde, veri ico que o faço a cada dia num movimento colectivo, no seio de grandes redes de transcultu­rais, transconti­nentais, tecidas ao longo dos anos.

Pode a África almejar ao desenvolvi­mento através da arte e da cultura?

O desenvolvi­mento cultural na África não foi bem o que eu imaginei quando comecei na aventura da TRUE e, mais tarde, na TRACE. As atitudes mudaram, por meio da conectivid­ade habilitada pela web. No entanto, esta evolução tem sido mais lenta do que o esperado. Agora, as coisas estão se acelerando. A juventude africana rompe todos os códigos em arte e cultura. Isso transmite muita esperança, e essa energia me move. Encontrar-se hoje nas metrópoles africanas com estes jovens talentos, conduz-nos a um novo cruzamento, estar no centro do futuro. Que intensidad­e! Que promessas, realizaçõe­s, projectos a imaginar, cenários por acontecer, a acontecer..

Você tem algum sentimento de estar possuído pelo desejo de es- tar, através de suas iniciativa­s, à altura do nome que carrega? Será esta uma maneira de se construir a si mesmo, assumindo ao mesmo tempo, a sua herança histórica?

Muitas pessoas pensam que a minha família – os Grunitzky e os Olympio – terão tido um tremendo sucesso na política no Togo. Na realidade, não se passou lá muito bem para aqueles que conseguira­m tomar o poder na década de 1960. Eu monto as minhas próprias iniciativa­s à margem da esfera política. Mantenho a minha independên­cia. Aos poucos, estou cercado por uma equipe incrível, totalmente transcultu­ral. Acolhemos cada vez mais jovens africanos. Trabalhei duro e formei-me em torno de certos valores familiares tanto togoleses como africanos. Gostaria de encarnar uma espécie de modernidad­e africana, uma nova maneira de ser que não renegue a minha iliação nem minha herança togolesa. Este século é promissor. Sinto que seremos bem sucedidos na identi icação, em torno dos jovens africanos e os na diáspora, de novas actividade­s económicas, culturais e artísticas.

Em 2008, você publicou um ensaio “Transcultu­ralismos”. Como vê a evolução deste conceito hoje e como ele se encaixa em seus muitos projectos e estilos de vida?

Eu tive a ideia para o livro "Transcultu­ralismos" em 11 de Setembro de 2001. Na época, eu morava em Nova Iorque e enfrentei o choque dos ataques, eu pensei que faltava um novo livro que enfatizass­e as minhas experiênci­as, as dos meus colaborado­res e amigos, a im de desconstru­ir certos estereótip­os sobre imigração, religião, fundamenta­lismo. Este ensaio é mais uma recolha que ajuda a escapar, de maneira feliz, às barreiras da identidade ixa. Este livro, escrito colectivam­ente, permitiu-me esclarecer a minha visão do mundo, as tensões entre sociedades urbanas, étnicas e luxos emigratóri­os.

Você viaja por todos o lado, tem algum vínculo com a África lusófo-

 ??  ?? CLAUDE GRUNITZKY
CLAUDE GRUNITZKY
 ??  ?? Claude Grunitzky. Foto de Georgia Kuhn
Claude Grunitzky. Foto de Georgia Kuhn
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola