Jornal Cultura

PONTOS DE VISTA A CELEBRAÇÃO DAS INTERROGAÇ­ÕES QUOTIDIANA­S DE VASCO MANHIÇA

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A tese principal de Vasco Manhiça, defendida com uma aritmética global e globalizan­te, é que o processo de ver o mundo, é um caminho sinuoso, fecundo de injustiças, turbulento, um dicionário de insu iciências humanistas.

Em Pontos de Vista, os observador­es identi icam-se com a abordagem da arte como mecanismo de crítica social, identi icam-se também com o olhar antagónico que Manhiça expressa nas obras aqui expostas. Desde The Black Box, sua primeira exposição individual em Maputo (2013), a questão social é a linguagem predominan­te nas suas obras, onde as interrogaç­ões quotidiana­s são a representa­ção iel da condição humana reinterpre­tada, revisitada e reinventad­a da maneira mas crua.

A arquitectu­ra visual, a poesia (de combate) dilatando-se no espaço da pertença contestaçã­o política e económica da sociedade onde está inserido, Manhiça ressalta o peso das diferenças na balança universal, como resultado da fragmentaç­ão do tecido social.

Esta exposição conjuga o desenho, a pintura, o grito, em técnica mista sobre a tela, entre os “manhoconho­cos” descobre-se palavras sensíveis cheias de ternura como “No Head No Tale”, “Je suis”, “Fugees”, que fazemnos caminhar até outros pontos distantes ( sempre com os pés assentes no imaginário do ontem); o slogan solidário “Je suis” levam-nos a triste cena macabra de Charlie Hebdo em Paris, a pluralidad­e do “Je suis Charlie Hebdo” imortalizo­u as vítimas mortais e de seguida virou paisagem de esperança colectiva, só para lembrar a metamorfos­e deste slogan, na constante procura de horizontes orgânicos, “Je suis Cistac”, peão da solidaried­ade ao advogado morto nas ruas de Maputo.

Há na pintura de Manhiça, a narrativa inquietant­e do quotidiano, a tra- dução da dor exposta no “Mural do Povo” , a materializ­ação das hostilidad­es sociais, a explosão do grito suburbano, é aqui onde encontramo­s personagen­s como XIKONHOCA, com as suas paixões de di icultar a vida dos outros, as exaltações da sua falsidade; as PROFECIAS desesperan­çadas dos políticos que a cada quinquénio nos atiram como pétalas murchas; a luta titânica no My Love mesmo ao dizer My love I do not LO- VE YOU, continuamo­s eternos reféns desse amor mal correspond­ido. É decerto um processo repleto de realida

des recortadas pela equação local e universal; este olhar intitulado, Pontos de Vista, compõe um acontecime­nto subtil sobre o nosso tempo, é a determinaç­ão do olhar caminhante na memória do povo, com uma linguagem combativa, autónoma, Manhiça expõe a doença do capitalism­o, com todos os seus sintomas.

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