DESCOBRIR ANGOLA NA ALEMANHA
Na Alemanha sabe-se pouco sobre Angola. A imprensa alemã publica, quando muito e muito de vez em quando, escassas notícias sobre a situação económica do vasto país subsaariano e sobre a sua riqueza em petróleo e diamantes, nunca deixando de mencionar que Luanda é supostamente a cidade mais cara do mundo e repetindo quase sempre os clichés e estereótipos divulgados na Europa sobre qualquer país africano: ninhos de corrupção e de calamidades.
Como a literatura tem a grande capacidade de levar o leitor para dentro de universos desconhecidos, transmitindo-lhe uma noção do que pensam e sentem os seus habitantes, das suas preocupações, da sua história, do mundo que os rodeia, ela cria representações artísticas, imagens, do mundo real que constitui o seu ponto de referência, o seu material de base.
Foi nesta perspectiva que surgiu a antologia Angola entdecken! (Descobrir Angola!), publicada em língua alemã em Julho deste ano na Alemanha pela editora Arachne-Verlag, com o apoio da União dos Escritores Angolanos, do Instituto Goethe de Luanda e da Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas de Portugal.
De Setembro até agora, o livro já foi lançado em Aachen, Berlim, Munique e, por último, no dia 22 de Novembro, em Hamburgo, no âmbito de um Dia de Angola organizado pelo Museu de Etnologia de Hamburgo, com um programa de literatura, cinema e a actuação do grupo de batuque Tussangana de Dresden, este último enviado pela Embaixada de Angola. A antologia Angola entdecken! foi apresentada, juntamente com a antologia bilingue Oxalá cresçam pitangas organizada por Ineke Phaf-Rheinberger, pelo Professor Martin Neumann da Universidade de Hamburgo, com uma audiência de cerca de quarenta pessoas.
O título do livro remete para o importante movimento Vamos descobrir Angola, fundado em 1948 por Viriato da Cruz e Mário de Andrade, que teve grande importância para o processo da independência de Angola, e é um livro de leitura histórica: Reune vinte textos em prosa de catorze autores de renome, como Pepetela, Luandino Vieira, Arnaldo Santos, João Melo ou Ondjaki, que re lectem as diferentes épocas da história de Angola, desde o início da colonização do país até à actualidade. A sua publicação coincide com o ano em que Angola festeja os 40 anos da sua independência e a UEA os 40 anos da sua existência.
O livro pretende ser uma contribuição para divulgar a literatura angolana na Alemanha, uma literatura que segundo a renomada estudiosa das literaturas ibero-americanas Michi Strausfeld tem “grandes autores, injustamente desconhecidos entre nós” que não o seriam se “o mundo literário fosse menos eurocêntrico e não tão dominado pela literatura anglosaxónica”, como ela escreveu na sua recensão de Descobrir Angola!no portal literaturkritik.de (http://www.literaturkritik.de/public/rezension.ph p?rez_id=21366).
O livro pretende também acrescentar aspectos diferentes à imagem que Angola tem na Alemanha, embora a representação o icial do país pareça não estar muito preocupada com essa imagem. A lista de recomendações de leitura enviada no início do ano pela secção cultural da Embaixada pelo menos indicaque as suas prioridades são outras: os dezoito livros cuja leitura é aconselhada têmtítulos como A arte de vender, Todos podemos negociar bem ou O mapa da fortuna.
Entretanto, a nossa descoberta das múltiplas facetas de Angolacontinua – através da literatura e, se possível, também através do contacto real com o país e com as suas gentestão generosas, criativas elutadoras!