O desejo de Calabaeto “TEM QUE SE TRABALHAR MAIS PARA A EXPANSÃO DO SEMBA”
MATADI MAKOLA
Com António Miguel Francisco ´Calabeto´ colhemos, entre outros assuntos, a nobre intenção do Semba galgar de forma consistente por outras terras além de Angola, o sonho de ser ritmo das paradas internacionais e ser fonte de outras fusões por se encontrar nele.
Jornal Cultura - Como vê o semba nestes frescos anos de 2000?
Calabeto -Vejo o semba de uma forma extremamente positiva. O tempo corre e a vida passa, nada é estático. Houve um certo desenvolvimento de acordo a dinâmica que a própria vida nos impõe e a música não foge à regra. Nós, quando começamos, isto lá para a década de 50, também encontramos os mais velhos com quem aprendemos e não estagnamos. A partir daí imprimimos outra visão e fomos desenvolvendo, e, só para dar uma ideia, a titulo de exemplo, quando comecei a cantar o semba era de uma rotação muito rápida. Hoje já temos o semba cadenciado e a sua integração obriga a constituição de teclados, metais, coisas que antes não acontecia. Estamos diante de um quadro em que o semba tem tudo para evoluir muito mais. Mas também é bem verdade que tem que se trabalhar mais para a expansão do semba, porque ele não sai e está tudo con inado em Angola. Será preciso trabalhar para que se a irme como as outras músicas africanas, que hoje conquistaram lugares de destaque em paradas internacionais. Porque nós estamos ainda um bocadinho parado.
JC - Acha que o governo deveria intervir?
Calabeto -Eu acho que sim. Porque nos, os músicos, não temos capacidade inanceira. Isto tem custos e só o Estado é que tem possibilidades para esse im. Por mais que a gente tente, não conseguiremos. Nos anos oitenta a então Secretaria de Estado da Cultura organizava a Quinzena de Intercâmbio Cultural,por força da parceria que mantinha com alguns países. É assim que muitos de nós chegamos a actuar em muitos países e os cantores estrangeiros também vi- nham para cá. Só que isso parou, desconhecemos os motivos e estamos aguardando esperançosos por melhores dias.
JC - Este período das roupagens abusivas pode ser bom para o semba?
Calabeto -Bom, é um fenómeno que nós temos de trabalhar para descobrir o que realmente se passa. Por exemplo, eu conheço músicas que têm 50 anos de existência e quando tocam toda a gente se levanta para dançar. Mas muito concretamente, não sei o que realmente se passa. No meu caso, há a música ´Ngui dia ngui nua´ que até hoje as pessoas ainda me pedem para cantar com grande fulgor. É bem verdade que a inovação existe e ela tem de existir, porque a vida é dinâmica. Quanto a intenção dos jovens para a evolução do semba, ela tem de ser feita com alguma atenção, porque se exagerarem correm o risco de deturpar aquilo que é de raiz, e acho que uma das questões fundamentais está na forma da sua composição e estilização para posteriormente ser apresentada ao público. JC - O que está a acontecer? Calabeto -Por exemplo, nós temos jovens que têm se saído muito bem. Mas o que é que eles fazem e que muita gente não concorda: vamos ver, um jovem cantor pega na música do Robertinho tal e qual como é e vai gravar. Mas isto não é nada, porque melhor seria o próprio Robertinho a cantar.
JC - O dinheiro feito com as roupagens…
Calabeto -Quanto a isso, a UNAC e a SADIA em tempo oportuno virão a público para de inir quem é quem e a partir daí começarmos a lidar melhor com essas coisas. Porque não podemos permitir o que tem estado a acontecer. É inadmissível! Um camarada pega na música de um outro artista vai para aí e para lá, ganha concurso com a música do outro e ainda sem respeito e consideração ou remuneração pelo autor da música. Infelizmente, é isso que ainda acontece em Angola. As entidades competentes vão cuidar deste assunto e tudo correrá melhor.