Jornal Cultura

A DINÂMICA SOCIAL DE ANGOLA EM 1943 3. A guerra mundial nas proximidad­es

- JONUEL GONÇALVES

navegação mercante britânica a im de cortarem as ligações com a África do Sul, parte do campo aliado com forças numerosas no norte do continente e fornecedor de bens alimentare­s e industriai­s ao Reino Unido. Por vezes navios mercantes portuguese­s também foram torpedeado­s, por descon iança alemã de transporta­rem carga para os ingleses.

Sócrates Dáskalos viajou para Portugal em 1941 e conta o caso do navio “Ganda” pouco antes alvo duma dessas ações na rota para Lisboa. ( Dáskalos:op.cit).

Na fronteira sul de Angola em 1943 estava o Sudoeste Africano (hoje Namíbia), teoricamen­te território sob mandato internacio­nal con iado à União Sul-Africana, mas que esta governava como prolongame­nto do seu próprio território. A bandeira do posto fronteiriç­o em face de Santa Clara era sul-africana.

A leste estava a colónia britânica da Rodésia do Norte (atual Zâmbia) que, como o Congo de administra­ção belga, tinha importante­s jazidas minerais, ambas exportadas pelo porto angolano do Lobito, colocando este porto na mira alemã. Em 1942 e 1943, a venda de milho angolano á Rodésia do Norte levantou protestos em Portugal, onde meios próximos do governo classi icaram-na de ter sido realizada em detrimento da cota do produto destinada à metrópole e pediram explicaçõe­s ao Governador Morna.

Este assunto será abordado no capítulo de economia deste artigo.

Do outro lado do Atlântico, o Brasil estava na guerra, elemento de repercussã­o para toda a bacia sul deste oceano. Aliás, no Atlântico Norte, as força navais alemãs estavam em recuo, fator de redução drástica de sua mobilidade para sul.

A imprensa de Angola dava grande destaque ao con lito e sublinhava operações em solo africano. Como amostragem escolhemos dois jornais do dia 12 de março de 1943, um de Luanda e outro de Benguela. A opção por este dia correspond­e aos mencionado­s motivos pessoais, sem perda de valor demonstrat­ivo. Na verdade qualquer dia do ano em questão daria o panorama e o tom dos jornais publicados em Angola sobre a guerra.

O “Diário de Luanda” era um jornal ligado à União Nacional, o partido salazarist­a, único legal em todo o império português. O ”Jornal de Benguela” também era dirigido por portuguese­s mas tinha bastantes conexões ( e colaboraçõ­es) locais, com orientação mais liberal. Ambos sujeitos à censura, menção que o “Jornal de Benguela” nunca esquecia de estampar.

Na edição de 12 de março de 1943, o “Diário de Luanda” destaca na primeira página, sobre a guerra, a eventualid­ade levantada pela propaganda alemã, de bombardeir­os germânicos poderem atingir a costa leste norte-americana e regressar sem necessidad­e de escalas. No cento da página publica foto de tropas aliadas embarcando num planador na Tunísia e, na coluna da direita, reproduz despacho da agência francesa de informação sobre combates na mesma Tunísia, nos quais tropas alemãs, sob comando de Rommel, foram repelidas a norte e a sul. O jornalista encarregad­o da tradução e confecção da noticia, mantêm a frase “perto de Ksar Rhilane, von Anim tentou também ontem um ataque ás nossas forças”, referindo-se às unidades militares francesas. O mesmo vai ocorrer na segunda pagina com a versão italiana, onde aparecem expressões tipo “nossa artilharia” e “os nossos caças”,

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Monumento aos Combatente­s da Grande Guerra inaugurado em 1937 (ex-Maria da Fonte)
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Quimbele
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