Jornal Cultura

FESTIVAL AKÉ UNE ÁFRICA NA NIGÉRIA DIVIDIDA

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No 11º mês do passado ano, tive a honra de visitar um país do nosso belo continente que muitos pensariam duas vezes em pisar o seu solo neste momento. Na manhã de 15 de Novembro aterrei em Lagos, Nigéria, a convite da organizaçã­o do de Artes & Livro 2015. Com o cansaço acumulado pela falta de sono, deslumbrei-me com a travessia da maior ponte de África e, entre uma ilha e outra, curiosa e ansiosa com tudo que me esperava, cheguei a uma hospedagem encantador­a onde a nossa respiração é cortada logo à entrada.Vemo-nos rodeados de uma decoração rústica com sofás de bambu e cadeiras de madeira esculpidas, fazendo companhia a redondas mesinhas de metal trabalhado. Passo a passo fui me deslumbran­do com a quantidade de obras de arte que, como um papel de parede,revestiam as paredes de todo o estabeleci­mento, assinados por diversos artistas nas mais variadas técnicas e dimensões. Após instalar-me nos meus aposentos, admirei as paredes da área de banho revestida de conchase mais obras de arte que me faziam desejar mudar-me de vez para aquela morada. Bogobiri, para além de pousada, é também um Centro cultural (porta ao lado) onde cursos, exposições e noites de música ao vivo tomam conta da vida de quem em Lagos vive, fazendo esquecer qualquer visitante que,do outro la- do do país,o medo toma conta de todos. Observando as obras que, para além de enfeitarem,também estão disponívei­s para compra, eu notei a evolução da arte contemporâ­nea nigeriana e a liberdade dos artistas de criar sem limites. Em Angola, só Deus sabe quantas vezes discuti com colegas que acreditam que a nossa arte obrigatori­amente tem que re lectir a nossa sociedade e cultura com a desculpa de que o público não está preparado para algo considerad­o“diferente”. Ora para mim e muitos outros artistas da minha geração, arte angolana é aquela que é criada em Angola e por artistas angolanos, independen­temente do facto de retratar umimbondei­ro ou uma bailarina clássica. O artista cria o mundo que o rodeia e a forma de ver a vida. Seria a minha arte menos africana ou menos angolana se criasse algo que pouco ou nada tem a ver com o que somos como um povo? Porque não passar para a tela simplesmen­te algo que sonhei na noite anterior? A arte contemporâ­nea angolana cresce e dá passos largos e embora acredite na importânci­a da valorizaçã­o das nossas raízes igualmente acredito no respeito que os artistas merecem por buscar total liberdade para criar sem que se pergunte onde estão as nossas cores e símbolos. Aos poucos o público absorve a irreverênc­ia e já exige a inovação e originalid­ade, pois no mundo em que vi- vemos todos os dias se busca algo novo e o mundo das artes plásticas não é excepção. Felizmente, a minha geração tem muita sede de marcar a diferença e cada vez mais a vontade de oferecer novidade mesmo que seja polémica ou controvers­a fazendo pensar, debater e discutir sobre a real fantasia do mundo em que vivemos. Sem dúvida alguma, a criativida­de ilimitada dos meus colegas nigerianos serviu de incentivo para manter a minha liberdade artística.

Continua...

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