O NASCIMENTO OUSADO DO UNIÃO RECREATIVO DO KILAMBA
Poli Rocha, o comandante do União Recreativo do Kilamba, estreante da classe B que à primeira levou o título para o seu Rangel, nos fez crer no dia 7 que os nzambis da folia o protegem, que tem o destino marcado para brilhar no Entrudo de Luanda. Tem dado mostras de forçar uma reforma estética que nos conduza da tradição à modernidade sem perder as peculiaridades de base de um carnaval de raiz. Não comandou apenas um grupo, deu sinais de que tem em mão as rédeas de uma visão do que pode ser o carnaval fugidio a clichés de épocas passadas e que ainda são a estética dominante, fazendo o carnaval parecer uma insistente repetição de estilo e formato. O União Recreativo do Kilamba conseguiu 793 pontos, o União Kabocomeu 726, o União 54 691, sendo os três do topo da classe B, que no próximo ano des ilam na classe A, juntamente com o União Etu Mudyetu e o União Twabixila, quarto e quinto lugares.
A Alegoria do União Etu Mudyetu tinha como performance um carro fúne- bre a levar um caixão, que simbolizava o enterro do músico bangão. Foi assim, com um mtambi, como diziam na canção cujo refrão era “Bangão wa ya yie”, que abriu o Entrudo da classe B, naquela tarde de domingo, 7. A exibição se mostrou inferior à alegoria e ao canto. Vimos um comandante presente mas um semba sem muito de novo.
União Operário Kabocomeu dançou kazukuta e repetiu o gesto da homenagem a Bangão. A banga das sombrias já começava a fazer a festa de carnaval. O comandante e as senhoras rodopiavam em cada bater dos calcanhares, com as sombrinhas a tomarem o balanço giratório. Teve grande sucesso na falange e na canção, de grande profundidade e feita num kimbumdu acessível.
O União Recreativo do Kilamba (do Rangel), criado em 2015, fez na canção uma homenagem às Gingas do Maculusso, que contou com a presença desta divas no solo da Nova Marginal. Imaginação, simetria, ordem, cor e magia contagiantes. Tão bem aplaudido que mesmo que não viesse a ganhar o prémio, poderia ir à casa certo de que conquistou o coração dos presentes à primeira vez. A sua rainha trajava tradição e modernidade num vestido elegante e uma cora ao estilo de miss. As movimentações do comandante e o conteúdo e arranjos da canção foram os pontos fracos do grupo. O União Geração Sagrada dançou semba e fez uma homenagem à tia Zita Nguma. Tiveram uma cantora e um comandante sem muita atitude. Um grupo carnavalesco bastante reduzido, e sem expressão ou re inamento.
União Juventude Kapalanga dançou kazukuta. Fez uma homenagem aos vencedores do carnaval. Vimos as habituas sombrias e os giros e toques de calcanhar e a movimentação dos paus. Mas não deu um grande resultado, mostrando-se sem imaginação e pobre coreogra ia.
União Kwanza dançou kabetula e foi de boa intenção. Mas deixou visível a falta de maturidade e atitude competitiva
União Twafundumuka dançou semba. Fez uma homenagem, na canção, aos meios de comunicação social e apresentou um dos painéis mais bem trabalhados. Um grupo organizado com qualidades para disputar os lugares cimeiros, quando bem feito os trabalhos de casa.
União 54 dançou semba. Tiveram a corte real das mais bem comportadas, aproveitando muito bem os espaços e movimentações circulares que deram um belo efeito estético. União Jovens da Cacimba dançou semba. As mamãs vestidas a bessangana foi o trunfo do grupo, que também teve uma das apresentações mais carismáticas.
União Juventude do Kilamba Kiaxi dançou um semba pouco vistoso. Cantaram a luta contra a sida. Foi muito pouco ousado. Um comandante que não soube se impor e uma corte real sem novidades.
União Angola Independente teve um cantor estático e uma canção pouco convincente, embora tenham criado luidez e estética na movimentação.
Unidos do Kilamba Kiaxi cantaram a importância dos acontecimentos do ano de 1961 na História de Angola. Um cantor pouco convivente e um comandante que não movimentava as falanges ao detalhe do apito.
União Twabixila, que dançou semba, foi muito bem organizada e apresentou uma madura actuação. Cantaram o senso.
União Domant de Cacuaco dançou semba. Louvaram no canto as danças de carnaval e apelaram à harmonia entre os grupos. A dançarina roubou toda a cena, oferecendo uma performance que extravasou as barreiras do semba.