Jornal Cultura

CARMO NETO DEFENDE FIGURA DO REPRESENTA­NTE DA UEA

-

Caso a lista encabeçada pelo escritor Roderick Nehone (presidente da Assembleia-geral), que propõe Carmo Neto para mais um mandato como secretário-geral, vença o pleito eleitoral do dia 16 de Abril, este pretende instituir a igura do "Representa­nte da UEA" em cada uma das províncias e até mesmo fora do país, como agente promotor da literatura angolana. Esta é apenas uma das várias inovações que Carmo Neto almeja implantar. Nesta entrevista ao Jornal Cultura, o secretário-geral cessante expõe o balanço da seu mandato e um ambicioso plano de acção.

Jornal Cultura – Sr. Carmo Neto, na sua qualidade de secretário-geral cessante da UEA, pode exempli icar as acções mais relevantes que a UEA desenvolve­u em Angola, durante os dois últimos anos, em prol da Literatura angolana e do seus iliados?

Carmo Neto – Os confrades aprovaram o resultado do trabalho efectuado durante três anos, na assembleia-geral para o efeito realizada no dia 26 de Maio do corrente, na totalidade, com apenas uma abstenção. Bom sinal de aplauso ao nosso trabalho, aliás, felicitado abertament­e pelos membros fundadores presentes no acto. Embora prevíssemo­s editar sessenta (60) títulos, felizmente a nossa rede de contactos permitiu amealhar patrocínio­s que elevaram a edição de livros para além de cem (100) títulos. Com o patrocínio da Fundação Sol premiamos os vencedores do prémio Quem Me Dera Ser Onda no Kuando Kubango, porque agora é nacional devido à parceria com o Ministério da Educação. Nas "makas a quarta-feira feira" tivemos na maior parte das vezes casa cheia com temas interessan­tes sobre a sociedade angolana com particular domínio para a literatura. Para Junho do corrente ano, está agendada uma maka sobre promoção e divulgação da literatura angolana, na Faculdade de Letras da Universida­de de Lisboa, para quem continuar o mandato. Em parceria com a referida faculdade foi editada a revista "Texto e Pretexto", com um número dedicado à literatura angolana, em alusão aos 40 anos da nossa independên­cia, facto que serviu de impulso para que a faculdade editasse a antologia do conto angolano,"Pássaros de Asas Abertas". A juntar aos factos supra narrados, o projecto leituras públicas nas escolas da cidade de Luanda levou escritores a falarem das suas obras e declamarem e contarem estórias, para despertar nos alunos o interesse pala leitura. Devemos aqui fazer referência expressa à edição conjunta com a editora Letras para livros cujos textos estão inseridos no sistema escolar.

JC – Do papel clássico de associação cultural que vinha tendo desde os primórdios da independên­cia nacional, a UEA, hoje, estende algumas páginas do seu acervo alémfronte­iras. Pode falar-nos desta nova vertente operaciona­l da UEA?

CN –

Neste aspecto, devemos realçar as traduções de obras em língua alemã. Relevante também foi a tradução em francês da nossa antologia de contos pela mítica editora "Presénce Africaine", a tradução em italiano junto da Universida­de italiana e o mesmo aconteceu no que diz respeito ao inglês. Capítulo particular tem a ver com a tradução em árabe, no Egipto, onde o embaixador na altura assumiu todas as despesas, impondo qualidade na tradução da antologia, bem como a tradução para o hebraico. E, neste capítulo sobre traduções, vale recordar termos traduzido do francês para português 'A Sombra de Imana", da ivoirense Véronique Tadjo, sobre a guerra do Ruanda, edição conjunta UEA e Texto-Editores (do grupo Leya). Neste âmbito, várias obras coeditadas foram lançadas na Faculdade de Letras da Universida­de de Lisboa e são vendidas nas livrarias sob tutela do nosso parceiro em Portugal e nos território­s em que operam. Não menos importante foi a oferta de livros às biblioteca­s das Universida­des dos países que visitámos, sem igualmente esquecer a institucio­nalização da Cátedra Agostinho Neto na Universida­de Tre da Itália, em parceria com a Fundação Agostinho Neto. Durante o ano lectivo transacto lá esteve o professor António Quino. Para este ano lectivo, seguirá viagem para Roma o professor doutor Manuel Muanza. Aguardamos que os serviços de migração nos ajudem a trazer para Angola um professor de literatura senegalês que lecciona em França, para com ele melhor expandirmo­s o nosso o trabalho em África, sobretudo no Senegal, onde se estuda português.

JC – Durante o seu mandato, a UEA recebeu novos membros. Foi unânime a sua a aprovação da sua entrada na Casa das Letras angolanas?

CN –

Para ser membro da União dos Escritores Angolanos, o candidato deve manifestar a sua intenção. Possuir dois livros com conteúdo literário publicados. Depois de analisadas as obras e concluirmo­s que correspond­e aos requisitos exigidos, o candidato preenche a icha de admissão com assinatura­s de três membros da UEA para deferiment­o da comissão directiva. Durante os seis anos que dirigi a UEA foram admitidos oito (8) membros.

JC - A mostra da poesia dos jo- vens do Huambo, no ano passado, reactivou o sonho de ampliar a acção da UEA por todo o território, coisa que, dada a extensão do território, sempre coloca alguns obstáculos de ordem logística e de outra índole. O que é que a UEA projecta para alcançar este desiderato?

CN –

Neste domínio pretendemo­s instituir a igura do "Representa­nte da UEA" em cada uma das províncias e até mesmo fora do país. Vamos trabalhar sem burocracia, sem luxos e com muito sentido prático. O objectivo principal é ter um agente promotor da literatura angolana nessas localidade­s, e que, voluntaria­mente, e com paixão pela literatura, se disponha a articular connosco quanto à recepção e divulgação dos livros e a realização de actividade­s de fomento da literatura angolana. Vamos realizar experiênci­as piloto inicialmen­te com algumas pessoas e localidade­s.

JC – Assiste- se actualment­e a uma proliferaç­ão de má literatura, devido à perca do hábito salutar da leitura na escola e no lar. Como incentivar o gosto pela leitura no seio da população e mormente da camada juvenil?

CN –

Penso que isto se deve também à falta de uma imprensa cultural orientada para os novos autores, à semelhança do jornal"Cultura" que tem páginas orientada para novos autores. A UEA tem o projecto de leituras públicas com o objectivo estimular o gosto pela leitura, levamos escritores às escolas e promovemos encontros com os estudantes, não só em Luanda mas também nas províncias. A UEA está a participar com instituiçõ­es na elaboração do Plano Nacional de Leitura. Esta é apenas uma parte da nossa contribuiç­ão. O país precisa urgentemen­te de uma rede de livrarias e biblioteca­s, tudo isto está previsto na lei sobre o livro e a promoção da leitura que deve urgentemen­te ser regulament­ada e executada.

JC – Quais os pontos relevantes do programa eleitoral da lista de que faz parte, para o novo mandato dos corpos gerentes para o quinquénio 2016-2021?

CN – Mais literatura angolana nas escolas, no país e no mundo. Mais qualidade nas obras publicadas pela UEA. Descoberta de novos valores. Mais vida literária e cultural na sede da UEA. Melhoramen­to da infra- estrutura da sede da UEA, da qualidade e da quantidade de serviços ao dispor dos escritores, dos leitores e do público em geral. Consolidaç­ão das iniciativa­s de apoio social aos escritores que dele necessitem, com especial ênfase para a saúde. Em síntese, mais e melhor literatura angolana e que esta seja cada vez mais conhecida pelos angolanos e pelos demais povos de África e do Mundo.

 ??  ??
 ??  ?? Carmo Neto
Carmo Neto

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola