A PROMOÇÃO DA LITERATURA NA ERA DIGITAL
Há quatro anos (2012) surgia em Angola, particularmente em Luanda, o Jornal Cultura com o qual, na qualidade de leitor e por força da minha formação histórica, passei a estabelecer uma relação de proximidade, que com o decorrer do tempo tornou-se íntima, na medida em que o «estatuto» de colaborador deste órgão de comunicação social conferiu-me o privilégio de recebê-lo quinzenalmente por meio da internet, evitando deste modo que eu me desloque aos postos de venda para adquiri-lo.
De facto, este período (se é que assim podemos chamar) da História da Humanidade, conhecido como Globalização, tem na utilização da tecnologia digital uma das suas características, e o seu papel na transformação das mentalidades e igualmente na promoção das artes tem sido analisado frequentemente pelos especialistas de diversas áreas, como os engenheiros informáticos, pedagogos, sociólogos, psicólogos, etc..
Pelo que tenho ouvido atentamente destes especialistas, o uso desta ferramenta – a tecnologia digital - foi precedido e acompanhado em alguns países ocidentais pelo processo de educação que visava preparar os cidadãos para a utilização correcta desta plataforma, por meio da qual são divulgados e consumidos, entre outros, produtos culturais, como o jornal, o livro, a música, o ilme, a revista, só para citar estes.
Tendo em conta a abrangência do tema, limitar-me-ei apenas em tecer algumas considerações sobre o papel que a tecnologia digital desempenha na divulgação da Literatura que, apesar das suas especi icidades, não deixa de ser uma arte.
Literatura na Era Digital
Arte do cultivo da palavra, a Literatura encontra na tecnologia digital um meio, diria mesmo, um espaço de preservação e de divulgação de obras literárias produzidas pelo homem em determinada época. Para o caso angolano, que é o que mais nos interessa, sou de opinião de que a publicação de obras literárias sob a forma de audiobooks contribuiria grandemente para o acesso de muitos cidadãos ao livro e, sobretudo para o resgate do hábito da leitura, tendo em conta o peso da oralidade e da audição, respectivamente, na transmissão e na recepção de informações nas sociedades africanas, em geral, e em Angola em particular. Esta será possivelmente uma das razões que torna a rádio no meio de comunicação social de maior impacto em Angola, em relação ao jornal e à televisão cujos conteúdos informativos, incluindo os de carácter cultural, têm sido divulgados ultimamente através das Tecnologias de Informação e de Comunicação.
Aliás, a ideia de publicação de livros sob a forma de audiobooks foi apresentada recentemente por um dos candidatos ao cargo de Secretário-Geral da União dos Escritores Angolanos, no debate promovido na quarta-feira (06/04/2016) pela LAC (Luanda Antena Comercial), no qual participou o responsável máximo da referida instituição que concorre para sua própria sucessão.
Isto porque a alegada «falta de tempo» para leitura de livros decorrente da dinâmica da vida dos tempos que correm, é hoje um argumento inaceitável, diria mesmo, caduco, na medida em que, por meio do audiobook, surgido na Era Digital, é possível ter se acesso ao seu conteúdo por meio da escuta da sua mensagem. Ou seja, o livro é «lido» por meio da audição.
Sobre esta questão, nada melhor do que recordar aqui o diálogo que mantive recentemente com uma jovem, durante o qual a minha interlocutora questionada se lia um dos livros de Pepetela respondeu a pergunta que lhe foi dirigida com a seguinte objecção: «Eu vou ler a obra de Pepetela?!».
Creio que a licenciada em Gestão de Empresas, interessada em ouvir músicas e ver novelas, teria tido outra postura se tivesse tido contacto com as obras de Pepetela, e de outros escritores, se as mesmas tivessem sido publicadas em audiobooks que ela - penso eu - teria adquirido.
Dito isto, passo agora para outro ponto que acho interessante abordar.
Espaço de interacção com o leitor
Outra possibilidade existente actualmente é a criação de blog por meio do qual o seu criador, neste caso, o escritor, pode estabelecer um diálogo com o (s) seu (s) leitor (es) atráves de textos sobre literatura, de crítica literária, ou seja, sobre o mundo das Letras no qual está inserido.
Mais do que isso, a criação de um blog permite ao escritor anunciar em primeira mão o lançamento de uma obra literária, e por esta via incentivar o seu consumo. Relativamente a esta questão, tenho a dizer que, contrariammente aos escritores brasileiros, não encontrei nenhum blog da autoria de um escritor angolano durante a pesquisa que efectuei com objectivo de obter informações que serviriam de suporte para a produção deste texto. É possível que existam blogs de escritores angolanos. Porém, salvo opinião contrária, desconhecço até aqui a existência dos mesmos.
Nunca é demais a irmar que em Angola a consulta de blogs e de sites tem sido feita frequente e principalmente pelos jovens, que por sinal constituem