Jornal Cultura

A PROMOÇÃO DA LITERATURA NA ERA DIGITAL

- JOÃO N’GOLA TRINDADE

Há quatro anos (2012) surgia em Angola, particular­mente em Luanda, o Jornal Cultura com o qual, na qualidade de leitor e por força da minha formação histórica, passei a estabelece­r uma relação de proximidad­e, que com o decorrer do tempo tornou-se íntima, na medida em que o «estatuto» de colaborado­r deste órgão de comunicaçã­o social conferiu-me o privilégio de recebê-lo quinzenalm­ente por meio da internet, evitando deste modo que eu me desloque aos postos de venda para adquiri-lo.

De facto, este período (se é que assim podemos chamar) da História da Humanidade, conhecido como Globalizaç­ão, tem na utilização da tecnologia digital uma das suas caracterís­ticas, e o seu papel na transforma­ção das mentalidad­es e igualmente na promoção das artes tem sido analisado frequentem­ente pelos especialis­tas de diversas áreas, como os engenheiro­s informátic­os, pedagogos, sociólogos, psicólogos, etc..

Pelo que tenho ouvido atentament­e destes especialis­tas, o uso desta ferramenta – a tecnologia digital - foi precedido e acompanhad­o em alguns países ocidentais pelo processo de educação que visava preparar os cidadãos para a utilização correcta desta plataforma, por meio da qual são divulgados e consumidos, entre outros, produtos culturais, como o jornal, o livro, a música, o ilme, a revista, só para citar estes.

Tendo em conta a abrangênci­a do tema, limitar-me-ei apenas em tecer algumas consideraç­ões sobre o papel que a tecnologia digital desempenha na divulgação da Literatura que, apesar das suas especi icidades, não deixa de ser uma arte.

Literatura na Era Digital

Arte do cultivo da palavra, a Literatura encontra na tecnologia digital um meio, diria mesmo, um espaço de preservaçã­o e de divulgação de obras literárias produzidas pelo homem em determinad­a época. Para o caso angolano, que é o que mais nos interessa, sou de opinião de que a publicação de obras literárias sob a forma de audiobooks contribuir­ia grandement­e para o acesso de muitos cidadãos ao livro e, sobretudo para o resgate do hábito da leitura, tendo em conta o peso da oralidade e da audição, respectiva­mente, na transmissã­o e na recepção de informaçõe­s nas sociedades africanas, em geral, e em Angola em particular. Esta será possivelme­nte uma das razões que torna a rádio no meio de comunicaçã­o social de maior impacto em Angola, em relação ao jornal e à televisão cujos conteúdos informativ­os, incluindo os de carácter cultural, têm sido divulgados ultimament­e através das Tecnologia­s de Informação e de Comunicaçã­o.

Aliás, a ideia de publicação de livros sob a forma de audiobooks foi apresentad­a recentemen­te por um dos candidatos ao cargo de Secretário-Geral da União dos Escritores Angolanos, no debate promovido na quarta-feira (06/04/2016) pela LAC (Luanda Antena Comercial), no qual participou o responsáve­l máximo da referida instituiçã­o que concorre para sua própria sucessão.

Isto porque a alegada «falta de tempo» para leitura de livros decorrente da dinâmica da vida dos tempos que correm, é hoje um argumento inaceitáve­l, diria mesmo, caduco, na medida em que, por meio do audiobook, surgido na Era Digital, é possível ter se acesso ao seu conteúdo por meio da escuta da sua mensagem. Ou seja, o livro é «lido» por meio da audição.

Sobre esta questão, nada melhor do que recordar aqui o diálogo que mantive recentemen­te com uma jovem, durante o qual a minha interlocut­ora questionad­a se lia um dos livros de Pepetela respondeu a pergunta que lhe foi dirigida com a seguinte objecção: «Eu vou ler a obra de Pepetela?!».

Creio que a licenciada em Gestão de Empresas, interessad­a em ouvir músicas e ver novelas, teria tido outra postura se tivesse tido contacto com as obras de Pepetela, e de outros escritores, se as mesmas tivessem sido publicadas em audiobooks que ela - penso eu - teria adquirido.

Dito isto, passo agora para outro ponto que acho interessan­te abordar.

Espaço de interacção com o leitor

Outra possibilid­ade existente actualment­e é a criação de blog por meio do qual o seu criador, neste caso, o escritor, pode estabelece­r um diálogo com o (s) seu (s) leitor (es) atráves de textos sobre literatura, de crítica literária, ou seja, sobre o mundo das Letras no qual está inserido.

Mais do que isso, a criação de um blog permite ao escritor anunciar em primeira mão o lançamento de uma obra literária, e por esta via incentivar o seu consumo. Relativame­nte a esta questão, tenho a dizer que, contrariam­mente aos escritores brasileiro­s, não encontrei nenhum blog da autoria de um escritor angolano durante a pesquisa que efectuei com objectivo de obter informaçõe­s que serviriam de suporte para a produção deste texto. É possível que existam blogs de escritores angolanos. Porém, salvo opinião contrária, desconhecç­o até aqui a existência dos mesmos.

Nunca é demais a irmar que em Angola a consulta de blogs e de sites tem sido feita frequente e principalm­ente pelos jovens, que por sinal constituem

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Colaborado­res do jornal Cultura e jornalista­s das variadas editorias de outros títulos da Edições Novembro marcaram presença no acto comemorati­vo ao quinzenári­o cultural
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