Jornal Cultura

JORGE GUMBE

A ESTÉTICA COMO EXPRESSÃO DA ANGOLANIDA­DE

- SUZANA SOUSA

Após um hiato de 11 anos, Jorge Gumbe inaugurou a exposição de gravura Ressonânci­a e Inspiração no Instituto Camões na passada quinta-feira dia 14 de Abril. A mostra composta por obras produzidas entre 1982 e 2015 propõe à partida uma leitura da obra do artista, nas suas diversas fases e temas. Mas esta proposta é alargada pela estrutura pedagógica criada por Gumbe, através de textos explicativ­os, e as fases em que divide o seu trabalho oferecem também leituras da história de arte angolana desde 1975. Estes textos que, tal como o catálogo e o próprio artista assumiu aquando do discurso de abertura, assumem um carácter pessoal e de diário, têm como pano de fundo a fundação da UNAP – União de Artistas Plásticos Angolanos em 1977. A pesquisa sobre a simbologia Cokwe de Viteix e de José Redinha e a adopção desta estética como expressão da angolanida­de num momento histórico em que se buscavam referência­s estéticas para a consolidaç­ão do processo de construção da Nação angolana. Encontramo­s também aí a história da criação de estruturas como a O icina Experiment­al de Gravura da UNAP em 1978 e a in luência de professore­s cubanos. A criação do “Barracão” e a produção do mural do hospital militar, bem como outros de carácter político, ainda que não mencionado­s, estão implícitos e permitem-nos fazer um mapa histórico da arte angolana no pósindepen­dência. A técnica escolhida por Gumbe, a gravura, é também por si só bastante representa­tiva deste momento histórico.

Dois elementos são particular­mente notáveis no trabalho de Jorge Gumbe, a exploração estética de um conjunto de temas que atravessa o seu trabalho, como o embondeiro. Este é tomado, por um lado, como símbolo cultural e de memória colectiva mas também pela sua forma e textura que permitem exploraçõe­s técnicas diversas. Assim, podemos verificar ao longo dos trinta anos que a mostra representa diversas construçõe­s do embondeiro. Este passa de linha e textura a fruto que solitário contém em si as crianças negligenci­adas do continente e regressa anos mais tarde incorporan­do a estética Sona. Outro aspecto é o seu percurso pessoal e a busca por conhecimen­to da produção contemporâ­nea africana através de viagens e ligações a artistas seus contemporâ­neos. Este gesto reflecte o espírito da época, o pan- africanism­o e o reconhecim­ento de uma identidade africana. E, continua hoje tão relevante como outrora ainda que o continente hoje produza novas linguagens e o contexto político seja substancia­lmente diferente.

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