Jornal Cultura

NDAKA EVOCA AFRICANIDA­DE NO PALÁCIO DE FERRO

- RÚBIO PRAIA

O músico angolano conhecido pela sua cabaça ( Olukwembo) lança o seu álbum de estreia no final deste ano, disse o artista ao Cultura, na véspera do concerto, dia 30 de Abril. Na madrugada do dia 1 de Maio, Fernando Alvim, um dos responsáve­is máximos da Fundação Sindika Dokolo, subiu ao palco para garantir apoio ao cantor do Lobito. Acresce que, no mesmo local onde esteve o jovem lobitanga, esteve sábado passado, 7 de Maio, Filipe Mukenga . As entradas são gratuitas e tem todos os sábados, no piano, o mestre João Moreira...

Eram cerca de 22: 30 do dia 30 de Abril quando mais de 100 pessoas que aguardavam pelo músico Ndaka Yo Wiñi, termo umbundo que traduzido para português significa “A voz do povo”, começaram a sentir os acordes da banda que suporta o artista que em línguas nacionais interpreta o género lundongo ( canções de roda do Sul de Angola) fundindo com os estilos como sungura, afrosoul, kilapanga, jazz, blues, funk, bossanova e reggae.

E volvidos cinco minutos a voz de Adriano Xavier Docas, nome do BI deste pesquisado­r de ritmos, essencialm­ente africanos, ecoava pelo amplo espaço onde estava montado o palco 1, negro e as cadeiras brancas no Palácio de Ferro.

Ndaka vai chegando ao palco a passo, no fundo tocava um instrument­o executado pelo percussion­ista Dalú Rogée e, ambos imitavam sons de pássaros numa loresta, envolvente.

Trajado de roupa africana, o artista natural do Lobito, herdeiro do Olukwembo (cabaça com a função de bebedouro), postou-se no luando na parte dianteira do palco, com as suas sandálias pretas, de borracha reciclada, as pessoas aplaudiam-no efusivamen­te, até que este começou a interpreta­r Cimboto, o primeiro de 15 temas.

A música que abriu o concerto narra a história de um sapo, no fundo é uma canção proverbial que retrata a in luência dos outros animais na vida das pessoas, ou seja “a água do rio onde tem sapos é imprópria para consumo humano, mas às vezes ignoramos estes avisos da natureza e vamos beber o líquido da vida em condições impróprias”, contou o músico ao Cultura, na véspera do espectácul­o, enquanto aquecia a voz no camarim.

Cabaça guarda mistério

Continua por desvendar que líquido Ndaka sorve da sua cabaça. “Esta cabaça ( Olukwembo), é uma herança que me foi dada pela minha avó, isto representa a minha ancestrali­dade, quem irá tentar contra mim se não tenho grandes posses”?, ironizou o músico.

Houve quem tivesse dito, entre o público, que Yo Wiñi leva vantagens sobre outros músicos. “Ele pode ‘olear’ as cordas vocais com este líquido que tem no Olukwembo”, que aliás é o título do álbum que sai no inal deste ano e, que tinha como título provável ‘Ovitua’ (Costumes), mas tudo é coisa do passado.

Um conselheir­o nato

No concerto de duas horas, Ndaka propôs a reflexão e foi explicando, em síntese a moral de cada letra. “Neste tema Vendamba, música evocativa, canto os problemas que vão acontecend­o no Mundo, porque vi uma criança a ser apedrejada, em virtude de pender sobre ela uma acusação de feitiçaria”.

Em Vakaile a proposta do ex- banqueiro vai no sentido de se evitar os conflitos geracionai­s. “A mente humana não tem género. Os conflitos devem ser evitados”, foi uma das frases fortes do autor da música promociona­l Njolela.

O músico afecto à Kisanji Produções Lda., que trabalha com Nsangu Nzanza ( guitarra), Kris Kasinjombe­la (baixo), Dalú Rogée (percussão), Moisés Lubanzadio (teclas) e Jackson Nsaka (baterista) deixou várias mensagens.

No tema Ombembwa, Ndaka apela a preservaçã­o da paz. “Temos de contribuir para manter a paz”. Por um lado, se aborda a circuncisã­o, por outro, tira um som, enquanto investigad­or, da mandíbula de burro, as pessoas icam extasiadas com o arrojo do artista.

Com o último tema da noite, Ukolo, Adriano Xavier Dokas disse que “todos nós nascemos com uma corda ao pescoço e que, a nossa conduta de ine se ela se aperta ou ica folgada”.

Ressonânci­a Magnética Cultural chegou a Luanda

Cimboto, Lombolola, Vakaile, Ombembwa, Tchove tchove, Ndikaliken­da, Olukwembo, Pasuka, Sandombuwa, Ukolo e Njolela são alguns dos temas com que Ndaka ‘ extasiou’ o público que assistiu o espectácul­o na noite de sábado transacto, 30, no Palácio de Ferro.

“Este repertório é uma réplica do que foi a minha actuação em Nitéroi, no Brasil, no dia 15 de Abril último. Foi uma experiênci­a muito boa. Tive o privilégio de saber mais sobre os direitos de autor e conexos, ou seja, saber mais sobre os meus direitos”, asseverou.

O músico contou que houve muita reciprocid­ade e que o povo brasileiro, apesar de não entender em termos das línguas africanas interpreta­das, se reviu na melodia do cantor, não fosse a música uma linguagem universal.

Pianista João Moreira está na III Trienal de Luanda

O espectácul­o de Ndaka Yo Wiñi em Luanda, enquadra- se no âmbito da III Trienal de Luanda, cujo tema é “Da escravatur­a ao Fim do Apartheid” com um vasto programa multicultu­ral de terça a domingo, até Novembro deste ano.

No interior e na parte de trás do Palácio de Ferro várias propostas artísticas estão à disposição de quem acorre àquele espaço.

Para além das performanc­es de distintos músicos e agrupament­os musicais, há também a exibição de vídeos, o “Projecto Kutonoka” que exalta os ritmos africanos, aos sábados, com o exímio pianista João Moreira, a projecção de vídeos sobre os artistas contemporâ­neos angolanos e a exibição de máscaras tchokwé, entre outras realizaçõe­s culturais.

 ??  ?? Ndaka no palco do Palácio de Ferro
Ndaka no palco do Palácio de Ferro

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola