PRÉMIO LITERÁRIO UCCLA “ERA UMA VEZ UM HOMEM”, DE JOÃO AZAMBUJA PROSA EM CONSONÂNCIA COM A NOSSA ÉPOCA
A obra vencedora do “Prémio Literário UCCLA - Novos Talentos, Novas Obras em Língua Portuguesa” foi atribuída a “Era uma vez um Homem” de João Nuno Rodrigues Pacheco Guimarães Azambuja, de Portugal. O anúncio foi feito dia 5 de Maio - Dia da Língua e da Cultura Portuguesa - pelo Secretário-geral da UCCLA, Vitor Ramalho.
Face à qualidade das obras apresentadas, o júri decidiu atribuir duas Menções Honrosas, uma em prosa e outra em poesia, a:
- “Ausência” de Ana Beatriz Leal Saraiva, do Brasil;
- “Memórias Fósseis” de Wesley d’ Almeida, do Brasil.
Na ocasião, Vitor Ramalho a irmou que perante a grande adesão de candidaturas “tivemos a noção exacta de que a língua portuguesa é aquela que maior produção vai ter no mundo, entre as cinco línguas mais faladas, e que tem a singularidade de ser uma língua materna” pois “estávamos longe de prever que este concurso acabaria por ser o maior que, até hoje, teve em termos de candidaturas”.
Obra Premiada
Uma Vez Um Homem, de João Nuno Azambuja surpreende-nos pela extrema acutilância com que João Nuno Azambuja nos faz entrar no universo convulso e violento de um eu que, ao longo de uma semana, irá revelar, pôr em papel, toda a dor e desencanto, toda a ironia e vontade de viver que a própria existência arrasta consigo. A intersecção de planos vários (interioridade, exterioridade, passado, presente e sonho projectado para um porvir equívoco, que se sabe irrealizável), o léxico brutal em diversos momentos, assim como a capacidade de escrever estados de consciência que ocorrem como luxos ininterruptos de sentimentos díspares, desejo e suicídio, repulsa e compaixão, amor e desencanto, tudo parece ser convocado para páginas onde encontramos uma prosa perfeitamente em consonância com a nossa época.
Menções Honrosas MENÇÃO HONROSA PROSA
Ausência, de Ana Beatriz Leal Saraiva. Como a própria epígrafe revela: a vida «é uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, que signi ica nada». Shakespeare não está aqui como simples nota culturalista de alguém que se lança na aventura de escrever contos. Ausência é um livro que, da frase às imagens, tem momentos de grande virtuosismo verbal. O discurso em primeira pessoa – um sujeito a braços com a maior derrocada interior – onde as personagens, no- mes de mulheres, falam do corpo e do amor, do sexo e da sua impossível e ao mesmo tempo inescapável presença na de inição do próprio feminino.
MENÇÃO HONROSA POESIA
Memórias Fósseis, de Wesley d’Almeida. «Enxerga a lor / com toda a tua retina / Apalpe-a / com toda pálpebra tua. / Assiste – nas pupilas - / todo o seu desabrochar. / Pois não se sabe quando / a cegueira da candura anoitece. / Nem / se o fruto a / manhã será » . É este um dos poemas de Memórias Fósseis, conjunto de poemas onde o tom narrativo e a dicção intimista se misturam equilibradamente para inquirir das «memórias fósseis» de um eu que se encontra dividido entre passado, presente e futuro e quer agarrar o dia como pretendia Caeiro, uma das vozes presentes na dicção de Wesley d’Almeida.
Diálogo de gerações
Este prémio literário UCCLA teve uma grande a luência de candidaturas, sendo 722 autores concorrentes, que candidataram 865 obras (das maiores a luências em concursos literários no mundo da CPLP).
Quanto à diversidade e abrangência, notou-se uma participação plena dos países lusófonos (com grande representação do Brasil) e o alargamento a outras nacionalidades (candidataram-se autores de Espanha, Itália e Canadá, que escrevem em Português).
Quanto ao género, cerca de um terço (281) são mulheres e 441 homens.
Foi um sucesso no seu objectivo de promover jovens escritores (pois 44 candidatos têm dos 16 aos 20 anos, sendo que entre os 20 e os 40 anos houve 362 candidatos).
Por outro lado, veri icou-se um diálogo de gerações, que atraiu ao concurso 72 escritores seniores, com idades entre os 60 e os 90 anos.
O júri foi constituído pelos escritores António Carlos Secchin, Inocência Mata, José Luís Mendonça, José Pires Laranjeira, José Augusto Bernardes, Fernando Pinto do Amaral; João Pinto Sousa, da Editora A Bela e o Monstro, e Rui Lourido, da UCCLA.