A SITUAÇÃO POLÍTICA NO BRASIL
Senhor presidente, Caros colegas,
A evolução da situação política no Brasil continua a preocupar. Como intelectuais, não podemos, sob o pretexto de neutralidade cientí ica, icar inde inidamente indiferentes.
O Brasil é o segundo país africano em termos de população, especialmente desde que a União Africana decidiu que a Diáspora Africana é a sexta região.
Pelo andamento da carruagem onde as coisas estão indo, os nossos esforços poderão ser em vão se nos mantivermos em silêncio quando o novo governo brasileiro questiona a decisão correcta do regime que o precedeu sobre a obrigatoriedade do ensino da história africana. Na mesma linha, pode muito bem acontecer que esse novo governo venha a deixar de subsidiar a IX volume da História Geral da África. Os sinais de alerta estão aí: o novo governo já está se preparando para remover embaixa- das na África, assim como removeu o Ministério da Cultura. Devemos compreender que este governo não é favorável às camadas mais pobres do Brasil, principalmente os afro-brasileiros e os indígenas, bem como as mulheres.
Não há conhecimento sem interesse humano, como Habermas disse, mas nós já o sabíamos bem antes da sua formulação. E o nosso interesse é que a História de África seja conhecida no Brasil. Proponho que se crie uma comissão que consiga "fazer algo". Eu não posso dizer exatamente o quê, mas precisamos de um diálogo entre nós para decidir, e, sobretudo, buscar a opinião dos dois membros brasileiros para encontrar a melhor abordagem.
Se não pudermos tomar uma posição em nome da UNESCO, pelo menos podemos expressar a nossa indignação como homens e mulheres do Saber, perante uma parte da humanidade que está se deteriorando. Acho que precisamos de reagir e expressar-nos, antes de descerem decisões desfavoráveis ao povo brasileiro e aos povos da África em geral. O nosso silêncio e indiferença seriam sinais de cumplicidade.
Lembremo- nos das palavras de Césaire:
"E sobretudo, meu corpo, bem como a minha alma, guardai-vos de cruzar os braços na atitude estéril do espectador, porque a vida não é um espectáculo, porque um mar de problemas não é um proscênio, porque um homem que grita não é um urso que dança ....”
Peço ao presidente para traduzir a minha mensagem em ambas as línguas e que se dê sequência ao diálogo.
Obrigado a todos.