A PROPÓSITO DE “CECI N’EST PAS UNE PORTE”
NUNO GUIMARÃES
Este espectáculo tem a urgente pretensão no focodestas e de outras interrogações sobre a condição humana, num contexto global e intemporal, fazendo presente o efeito consequente de invasões,tanto externas como internas, tanto ísicas como psíquicas, no ser humano,um convite claro à re lexão.
O lamentável facto de não termos nenhum espaço cénico na cidade, comoum teatroe devido palco, desa iounos a desenvolver este trabalho / protesto, a partir da limitação do movimento do bailarino,circunscrevendooa um espaço exíguo,comdiferentes planos emotivos. Proliferam sentimentos de fobia que experimentamos quase na sua totalidade.E arrastamos outros: o mal e a dor, a fome e a doença, o amor e o ódio, a diferença e o conformismo.Porém, em todos os momentos existesempre, no corpo, um movimento.
Sofremos estigmas, mas também os promovemos, constantemente;nós,aqueles que já cá estiverame os que ainda estão por vir.Usamos sempre velhos escudos de protecção retórica, oriundos do imaginário religioso ou político e também da básica e convenientedesculpa de que a inal, somos todos simplesmente humanos…
Achamo-nos o superior e único exemplo de vida civilizada na imensidão douniverso, mas há quem questione. Tambémhá quem perceba o quão minúsculos somos, quase sempre,críticos à distância de nós próprios.
Dentro de caixas, o corpo percebe que a alma resiste, mesmo que não queira;no movimento se traduzirá vida e ela impõe-se. Isto não é um teatro! As caixas não são uma janela. E a porta não é o que aparenta ser.A sobrevivência é um facto!