MINISTRA DA CULTURA DEBATE CONDIÇÃO DO ARTISTA
Ministra Carolina Cerqueira ouviu as classes artísticas de Luanda e já começou a traçar estratégias
Amar a arte e fazer dela uma realidade diária é uma tarefa que exige sacri ícios e muito empenho da parte de quem assume esse compromisso e, na maioria das vezes, não vê o retorno do seu sacri ício sendo por isso obrigado a passar uma má imagem de si mesmo. Preocupada com esta situação, a ministra Carolina Cerqueira convocou os artistas de Luanda para falar sobre os problemas que os a ligem e quais as soluções que a dirigente já está a traçar, com a sua equipa de trabalho, para os ajudar.
Em quatro horas e 40 minutos, os artistas, de diversos géneros, alguns representados pelas suas associações, disseram à ministra o que vivem e são obrigados a passar para continuar a fazer da Cultura um factor de desenvolvimento social e de educação da sociedade.
Os lamentos vão desde a falta de condições de trabalho, em todas as disciplinas artísticas, à ausência de material para estes exercerem as suas actividades. Porém, ao longo do encontro dois factores chamaram a atenção: a marginalização do artista e a inexistência de apoio ao seu trabalho.
Casa, condições inanceiras para sustentarem as suas famílias, acesso aos créditos bancários e o reconhecimento da sociedade são, entre muitos, os principais apoios que estes pedem. Os representantes da União Nacional dos Artistas e Compositores e os da Associação Provincial de Teatro deixaram bem claras algumas destas ideias. O facto de os artistas não serem incluídos nos projectos habitacionais é algo que pretendem ver ser superado urgentemente.
Lugares adequados para o exercício da sua actividade é o outro lamento da maioria dos artistas. Não importa a disciplina artística, a falta de palcos adequados tem sido um enorme contratempo para a maioria, que é obrigada a adaptar algumas salas, ou disputar com outros mesmo pagando por um dia ou um inal de semana o salão da Liga Africana.
Os preços que têm de pagar para obter um destes locais, às vezes e quase sempre, não compensa o lucro das vendas de bilhetes, assim como os crescentes casos de pirataria têm criado um empecilho imenso na melhoria da actividade musical e o tímido mercado editorial tem desacelerado a produção literária. Todos estes problemas foram apresentados, por 47 intervenientes, ligados a associações, ou de forma individual.
Os privilégios de uns tantos artistas, enquanto a maioria continua ou no anonimato, ou no esquecimento, foi muito contestado pela maioria da assistência, que pede uma relação mais interactiva com a nova direcção do Ministério da Cultura.
Como membro da assistência, acredito que ainda há muito trabalho a ser feito em prol da melhoria da condição do artista, que com o seu próprio esforço tem representado o nome do país além-fronteiras e elevado a cultura nacional no mercado internacional, através de um produto que já tem conseguido conquistar a crítica e um certo público pela Europa ou até mesmo nas Américas, onde tem se imposto e hoje é até mesmo matéria de estudo em faculdades.
Desa ios da Classe
Com o advento da Paz e a actual abertura do mercado, embora actualmente a crise económica mundial esteja a criar inúmeros contratempos à actividade artística nacional, os criadores angolanos têm metas traçadas para melhorarem o seu desempenho e fazerem um serviço assente na qualidade do seu produto e na conquista de um mercado mais amplo.
Durante o encontro, realizado no Cine Atlântico, que pecou apenas por muitos dos artistas consagrados, em especial na categoria de música não terem comparecido, muitas destas propostas foram ouvidas pela ministra da Cultura, o director nacional da Acção Cultural, Vieira Lopes, e o director provincial da Cultura, Manuel Sebastião. Os primeiros a apresentarem as suas preocupações foram os fazedores de artes cénicas, uma das poucas que acontece com regularidade em Luanda. Para estes, o teatro, por ser feito todas as semanas, requer um elevado padrão de organização e criatividade, factor que passa primeiro pela formação e depois por uma aposta mais forte no associativismo.
A maioria dos grupos de teatro “luta” para se impor no mercado por meios próprios e sobrevive do mesmo jeito. Portanto, os seus fazedores acreditam que uma das soluções, além da busca pela internacionalização, é a criação de um festival nacional, com periodicidade regular, assim como a reabilitação de salas convencionais como o Teatro Avenida, ou outras existentes nos municípios e bairros da capital, actualmente inactivas.
A questão da formação foi outro dos pontos quentes. Alguns dos seus fazedores defendem a criação de parcerias com escolas e a inclusão de actores nos projectos de bolsas de estudo. O apoio inanceiro dado pelo Ministério da Cultura também precisa de ser mais abrangente na opinião destes.
A União Nacional dos Artistas e Compositores (UNAC) também marcou presença. Além de chamar a atenção para a di iculdade do artista no acesso à habitação, falou ainda sobre a importância de se prestar maior atenção para a questão da reforma do artista, processo actualmente suspenso pelo Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social, por falta do pagamento do Imposto sobre