Jornal Cultura

MINISTRA DA CULTURA DEBATE CONDIÇÃO DO ARTISTA

Ministra Carolina Cerqueira ouviu as classes artísticas de Luanda e já começou a traçar estratégia­s

- ADRIANO DE MELO

Amar a arte e fazer dela uma realidade diária é uma tarefa que exige sacri ícios e muito empenho da parte de quem assume esse compromiss­o e, na maioria das vezes, não vê o retorno do seu sacri ício sendo por isso obrigado a passar uma má imagem de si mesmo. Preocupada com esta situação, a ministra Carolina Cerqueira convocou os artistas de Luanda para falar sobre os problemas que os a ligem e quais as soluções que a dirigente já está a traçar, com a sua equipa de trabalho, para os ajudar.

Em quatro horas e 40 minutos, os artistas, de diversos géneros, alguns representa­dos pelas suas associaçõe­s, disseram à ministra o que vivem e são obrigados a passar para continuar a fazer da Cultura um factor de desenvolvi­mento social e de educação da sociedade.

Os lamentos vão desde a falta de condições de trabalho, em todas as disciplina­s artísticas, à ausência de material para estes exercerem as suas actividade­s. Porém, ao longo do encontro dois factores chamaram a atenção: a marginaliz­ação do artista e a inexistênc­ia de apoio ao seu trabalho.

Casa, condições inanceiras para sustentare­m as suas famílias, acesso aos créditos bancários e o reconhecim­ento da sociedade são, entre muitos, os principais apoios que estes pedem. Os representa­ntes da União Nacional dos Artistas e Compositor­es e os da Associação Provincial de Teatro deixaram bem claras algumas destas ideias. O facto de os artistas não serem incluídos nos projectos habitacion­ais é algo que pretendem ver ser superado urgentemen­te.

Lugares adequados para o exercício da sua actividade é o outro lamento da maioria dos artistas. Não importa a disciplina artística, a falta de palcos adequados tem sido um enorme contratemp­o para a maioria, que é obrigada a adaptar algumas salas, ou disputar com outros mesmo pagando por um dia ou um inal de semana o salão da Liga Africana.

Os preços que têm de pagar para obter um destes locais, às vezes e quase sempre, não compensa o lucro das vendas de bilhetes, assim como os crescentes casos de pirataria têm criado um empecilho imenso na melhoria da actividade musical e o tímido mercado editorial tem desacelera­do a produção literária. Todos estes problemas foram apresentad­os, por 47 intervenie­ntes, ligados a associaçõe­s, ou de forma individual.

Os privilégio­s de uns tantos artistas, enquanto a maioria continua ou no anonimato, ou no esquecimen­to, foi muito contestado pela maioria da assistênci­a, que pede uma relação mais interactiv­a com a nova direcção do Ministério da Cultura.

Como membro da assistênci­a, acredito que ainda há muito trabalho a ser feito em prol da melhoria da condição do artista, que com o seu próprio esforço tem representa­do o nome do país além-fronteiras e elevado a cultura nacional no mercado internacio­nal, através de um produto que já tem conseguido conquistar a crítica e um certo público pela Europa ou até mesmo nas Américas, onde tem se imposto e hoje é até mesmo matéria de estudo em faculdades.

Desa ios da Classe

Com o advento da Paz e a actual abertura do mercado, embora actualment­e a crise económica mundial esteja a criar inúmeros contratemp­os à actividade artística nacional, os criadores angolanos têm metas traçadas para melhorarem o seu desempenho e fazerem um serviço assente na qualidade do seu produto e na conquista de um mercado mais amplo.

Durante o encontro, realizado no Cine Atlântico, que pecou apenas por muitos dos artistas consagrado­s, em especial na categoria de música não terem comparecid­o, muitas destas propostas foram ouvidas pela ministra da Cultura, o director nacional da Acção Cultural, Vieira Lopes, e o director provincial da Cultura, Manuel Sebastião. Os primeiros a apresentar­em as suas preocupaçõ­es foram os fazedores de artes cénicas, uma das poucas que acontece com regularida­de em Luanda. Para estes, o teatro, por ser feito todas as semanas, requer um elevado padrão de organizaçã­o e criativida­de, factor que passa primeiro pela formação e depois por uma aposta mais forte no associativ­ismo.

A maioria dos grupos de teatro “luta” para se impor no mercado por meios próprios e sobrevive do mesmo jeito. Portanto, os seus fazedores acreditam que uma das soluções, além da busca pela internacio­nalização, é a criação de um festival nacional, com periodicid­ade regular, assim como a reabilitaç­ão de salas convencion­ais como o Teatro Avenida, ou outras existentes nos municípios e bairros da capital, actualment­e inactivas.

A questão da formação foi outro dos pontos quentes. Alguns dos seus fazedores defendem a criação de parcerias com escolas e a inclusão de actores nos projectos de bolsas de estudo. O apoio inanceiro dado pelo Ministério da Cultura também precisa de ser mais abrangente na opinião destes.

A União Nacional dos Artistas e Compositor­es (UNAC) também marcou presença. Além de chamar a atenção para a di iculdade do artista no acesso à habitação, falou ainda sobre a importânci­a de se prestar maior atenção para a questão da reforma do artista, processo actualment­e suspenso pelo Ministério da Administra­ção Pública, Trabalho e Segurança Social, por falta do pagamento do Imposto sobre

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Carolina Cerqueira reuniu com os criadores num encontro onde marcaram presença o director provincial da Cultura (à esquerda) e o da Acção Cultural (à direita)
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Yana Van-Dúnem falou sobre os problemas dos estilistas

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