O PASSADO NA CONTEMPORANEIDADE
“EXPRESSÕES EM PRATA” NO MUSEU DA MOEDA
Quando entramos no Museu da Moeda,os nossos primeiros an itriões são várias peças de prata, com desenhos exuberantes e diferentes, que con iguram a mensagem de vários criadores angolanos sobre o que representam os 40 anos do país e qual a importância do passado ou da tradição no mundo moderno.
Onze é o número de peças que a organização escolheu para mostrar, através de duas gerações de artistas plásticos, o papel da tradição na construção da personalidade e da identidade nacional. A exposição, que ica aberta ao público até o próximo dia 25, de terça a domingo, das 9h00 às 17h00, é também um alerta para os perigos da aculturação e da desvalorização das raízes tradicionais angolanas.
Sem menosprezar as novas tendências do contemporâneo, “Expressões em Prata”, traz também uma dose de modernidade, pelo talento de jovens criadores, que mostraram a beleza da diversidade e a aposta na preservação e divulgação do legado da tradição. “Exortar o país pela riqueza cultural” foi assim que a Primeira-Dama da República, Ana Paula dos Santos, considerou a exposição, depois de a ter inaugurado.
As peças, disse a Primeira-Dama, são sugestivas e permitem aos visitantes ter uma ideia da signi icância da criatividade dos seus criadores. Ana Paula dos Santos elogiou também a escolha temá- tica e a organização da exposição, idealizada pela CIPRO, pela originalidade de cada uma das 11 peças. “São peças criadas por angolanos que querem dar a conhecer como pensa o país e transmitir a quem não o conhece”, considerou.
No inal, a Primeira-Dama desejou a todos os convidados um interessante encontro com Angola ao longo de 40 anos, assim como pediu um maior incentivo e aposta nos demais criadores de artes, de forma a terem a possibilidade de expressar o seu talento.
Olhar a criação
Para mim, “Expressões em Prata” são 40 anos da história de Angola bem justi icados pelas esculturas expostas, porque como parte da geração de 80 consigo me rever em algumas das peças, como “Fogareiro”, de António Ole, por também ter sido parte da minha vida e a de qualquer um que não tenha nascido depois de 2005, quando o “bum” tecnológico começou a por nas nossas casas os modernismos eléctricos.
“Mawte”, de Etona, é outro motivo de pensamento. Ao ver a escultura, apesar do autor dizer o contrário e o justi icar, ico sempre com a sensação de estar a olhar para um dos símbolos de referência da cultura angolana, o Pensador. O critério está no olhar de quem for visitar a exposição.
A proposta de Massongi Afonso é o batuque, uma peça cujo papel na cultura angolana é fundamental até hoje. Com traços singulares, “Pensando Cultura”, propõe um elogio as artes e a tradição ao som do batuque rítmico.
Os ganhos da paz, a determinação dos angolanos, a luta pela emancipação da sua cultura pelo mundo, a importância da unidade, os bene ícios da liberdade e a actual aposta no desenvolvimento do país estão patentes na mostra em peças como “A Vitória é Certa”, de Fineza Teta, “Liberdade em Ascensão”, de Mayembe, “Angola 40 Anos”, de HelgaGambôa. O crescimento do país é uma das principais propostas temáticas da maioria dos artistas convidados, por representar o renascer da esperança, num país que durante anos sofreu devido a guerra civil e por séculos pagou os danos da escravatura. MpambukidiLun idi, com “Angola 40 Anos”, ou M’PandaVita, no seu “Angola - 40 Anos de Ebulição”, são as provas deste reconhecimento e elogio a paz e aos ganhos proporcionados por estas em diferentes sectores da sociedade. A dinâmica actual e as mudanças e in luências que o modernismo trouxe ao país, em especial nas artes, esta demonstrada em “Angola, o nosso tempo Próprio”, de Miguel Gonçalves e na “Contemporaneidade”, de Amândio Vemba.
A grandeza e o papel da mulher na História do país, no seu desenvolvimento e na estabilização das famílias é enaltecida por Patrícia Cardoso na escultura “Mukembu”, um elogio e homenagem a todas as angolanas.
A mostra, que não se circunscreve somente a cultura angolana, destaca também os símbolos nacionais, num claro alerta à sua importância e maior divulgação hoje, numa época em que a aculturação começa a ganhar mais espaço.