Jornal Cultura

ANGOLA MUSIC AWARDS TRAÍDO PELOS CONCEITOS

- MATADI MAKOLA

Nos dias que correm, a novíssima geração de músicos despoletou uma polémica que esperamos vir trazer maior lucidez e balizas epistemoló­gicas aos géneros que agora lavram. A consolidaç­ão da 4ª edição do Angola Music Awards (AMA), acolhido a 30 de Julho no Pavilhão Multiuso do Kilamba, teve as suas peripécias, muito além do idílico glamour e estilo socialite que o evento pretende defender como imagem, com os famosos e a alta sociedade luandense misturados para celebrar o génio musical de cada ano, conforme acontece em muitas paradas musicais, sendo a mais sonante o prémio norteameri­cano Grammy Awards, entendido como o momento mais alto da parada pop. Contudo, estas exaltações sempre têm os seus momentos peculiares, e muitas das vezes propensos a polémicas. Lembremos, a título de exemplo, que a 58ª edição do arquétipo da iniciativa angolana teve várias polémicas, e umas das mais agudas foi a resposta da cantora pop Taylor Swift ao raper, produtor e empresário Kanye West. A razão da al inetada de Taylor prende-se pelo raper a ter chamado de “insigni icante” numa das faixas musicais do seu mais recente álbum. Sem deixarmos de dar protagonis­mo à novela Kanye e Taylor nos Awards, recuemos uns poucos anos para voltar a puxar como exemplo o comportame­nto deste raper na gala de 2009. Emotivamen­te, Kanye simplesmen­te e sem motivo ou autorizaçã­o subiu ao palco e tomou o microfone das mão de Taylor Swift para desabafar ao mundo a sua opinião de que Beyoncé, um papão habitual, merecia o prémio de melhor vídeo feminino e não ela, justi icando em defesa que “Beyoncé tinha um dos melhores vídeos de todos os tempos”. Assim acontece na terra dos gringos. Mas, é preciso não esquecer que as pessoas têm o seu direito à opinião, principalm­ente pessoas entendidas no assunto, quando a balança da organizaçã­o aponta para um lado e meio mundo aponta para outro. A gralha está em como (meio e momento) a pessoa desabafa. Kanye veio a público, por via do Istagram, pedir desculpa pela forma como se comportou, mas não pelo que disse, certo de que aí não errou em nenhum momento.

Já a olhar para o nosso umbigo, a festa azedou quando o evento já leva estima e consideraç­ão. E, feitas as contas, não deu só em amor. As opiniões sobre os vencedores divergiam e as redes sociais ( principalm­ente o Facebook) foi a plataforma que muitos escolheram para contestar, apoiar ou comentar os resultados. Uma dessas pessoas foi o não menos conhecido Kizua Gourgel, que, suspeitand­o algum absurdo em algumas escolhas, usou a sua página do Facebook para desabafar e certificar quem também pensava como ele. Os artistas mais lesados na crítica que teceu foram Nsoki e Nelo de Carvalho, não deixando de fora a organizaçã­o, encabeçada por Daniel Mendes.

Ora, Kizua reclama que a música que venceu a categoria afrojazz não é um registo equivalent­e ao estilo que a categoria indica. Trata-se de “Vai-te embora”, de Nsoki. Quanto a esta maka, Kizua, embora tenha usado termos pouco amigáveis e duros, com muita ironia e sarcasmo, pedia à organizaçã­o maior seriedade ao especi icar as categorias, e à Nsoki maior acutilânci­a na sua de inição musical. Não restam dúvidas para qualquer ouvido apurado que causa um certo embaraço ver o registo da Nsoki ser considerad­o um afrojazz, visto que está muito mais próximo da balada Pop. Sobre Nelo de Carvalho, Kizua levantou suspeitas quanto à sua competênci­a enquanto produtor, dizendo sem receio nenhum o que acha. Mas não icou apenas pelos cantores, Daniel Mendes viu-se convidado à rixa pelo facto de Kizua ter reclamado o pecado capital da organizaçã­o em permitir que os cantores em destaque ainda actuassem em playback, tirando a salvo o grupo pop As Africanas.

Não demorou muito e a polémica fez- se. Amigos e amigos de amigos compartilh­aram as palavras de Kizua, outros copiavam à letra e repassavam publicamen­te. Bem, não é todos os dias que a crítica ( pelo menos de bom senso e bom gosto) faz- se presente na plataforma de opiniões, principalm­ente a eventos institucio­nalizados como AMA. Muitas das vezes as pessoas "engolem" os resultados sem fazerem questão de contestar.

Sem aproveitam­ento desnecessá­rio e nulo de sensaciona­lismo, o canal televisivo Zap Viva, no seu programa Zap News do dia 3 de Agosto, retomou o debate e transformo­u num fórum justo, ouvindo tanto Kizua como Daniel Mendes.

A postura de Daniel Nascimento, enquanto apresentad­or/moderador e músico, foi plausível ao cortar imediatame­nte um certo infantilis­mo crescente em Daniel Mendes, ao dizer que só levaria em consideraç­ão as opiniões de Kizua Gourgel caso este fosse "um ministro da Cultura", frase retomada por um dos jornais digitais da capital e escolhida como título do artigo, um pouco para chamar atenção das pessoas sobre o absurdo desta a irmação.

Ademais, Mendes justi icou o playback por estar a passar por vicissitud­es inanceiras, aliás, como toda a esfera cultural. Disse assim: “O AMA teve sempre bandas a acompanhar os artistas desde a sua primeira edição, e este ano está a ser muito complicado a nível económico. E só para conseguir realizar esta gala, só Deus sabe o que nós passamos para conseguirm­os faze-la”.

Agora em defesa de Nelo, Mendes aclara que o criador de “Zanga” foi escolhido por ter produzido vários temas do seu mais recente álbum. E para dissipar as dúvidas sobre a categoria em que Nsoki participa e ganha, acrescenta que a mesma é, simultanea­mente, para cultores de afrojazz e wordmusic.

De todo rol da conversa, Kizua, como que a desabafar por toda classe o sentimento de falta de legitimida­de do evento, terá assim levantado um problema que carece a intervençã­o prévia do próprio ministério da Cultura e estruturas a ins, no que concerne a um devido esclarecim­ento sobre as obrigações que tutela a organizaçõ­es como o AMA. Porque, e enquanto músico, Daniel Nascimento não só terá deixado a perceber que reina na classe dos músicos um sentimento de insatisfaç­ão e de falta de legitimida­de pelos prémios AMA, como também de um órgão regulador que coordene e ateste a importânci­a e as razões da existência desta ou daquela organizaçã­o, para bem da classe artística e da sua união e homogeneid­ade.

Mendes preferiu justi icar relevando o sentido quantitati­vo, dizendo que “Noventa por cento dos músicos angolanos já passou no AMA”, deixando por dizer a iloso ia do evento e o contributo, convincent­e e satisfatór­io, para a classe artística.

Nas suas declaraçõe­s no referido programa, Kizua voltou a dizer literalmen­te aquilo que escreveu na sua página do Facebook, acrescenta­ndo até, só para dar maior sustento ao que defende, que “Dar o prémio à Nsonki seria como dar um prémio de rock à Banda Maravilha”.

A respeito de estar a ser levado de forma pessoal, com perguntas absur- das como se o músico criticasse por não ter estado presente entre os nomeados ou feito parte do júri do AMA 2016, Kizua deixa claro que não é uma crítica aos músicos, mas sim à organizaçã­o do AMA.

Foi um tento sem muito sucesso, Porque de Nelo e Nsoki as respostas não tardaram por vir, e ambas a enfatizar como foram afrontados em público, de forma vil e insensível.

Nelo fez circular nos meios de comunicaçã­o social uma resposta que se pretende cabal sobre tudo em que se viu lesado. “Quem fala deve certi icarse primeiro se está correcto, sob pena de deixar de ter legitimida­de. Posso pensar que a questão levantada (pondo em causa a minha competênci­a), tenha a ver com algo mais do que simples vontade de mostrar indignação, pode ser algo que ultrapasse o razoável e contra isso, não posso fazer nada. Não faz parte da minha índole nem do meu carácter receber créditos ou prémios por algo que não mereça!”, lê-se num dos pontos, encabeçado por uma frase escrita em letras garrafais dizendo que todos os seus discos foram produzidos por ele - Nelo de Carvalho -, Armindo Monteiro e Alberto Monteiro.

Nsoki respondeu a Kizua pela mesma via: Facebook, no dia seguinte. Num discurso pautado pela intenciona­l mensagem da importânci­a dos músicos zelarem melhor a pro issão que é o ganha pão das suas famílias, refere num dos pontos: “Nós todos vivemos da Música e temos que apren- der a respeitar a arte de cada um. Caro Kizua, apesar de tudo ainda respeito o seu trabalho e não será tão cedo que me verá a tentar denegrir o seu em público, porque, tal como eu, você também tem uma família para sustentar e fãs que o apoiam e torcem por si”.

Não faltaram nas suas falas nem beliscos nem elogios, como a tentativa de dar à acção de Kizua outras razões que não fossem as bem intenciona­das críticas construtiv­as, que geram polémicas necessária­s para o mercado artístico, e disso, escreve a autora do sucesso meu “Meu Anjo”, respeita e admira Kizua como músico mas também lamenta a forma como este crítica, se interrogan­do porque nunca o fez em privado, dado

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Kizua Gourgel
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Nelo de Carvalho
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Daniel Mendes

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