ZWA PURA MÚSICA MANGOP
WA será, de 24 a 28 de Agosto, a retoma significativa das actividades musicais da III Trienal de Luanda. Fernando Alvim apresentou este festival de música angolana na sexta- feira à tarde, 12, numa conferência de imprensa acolhida no Palácio de Ferro. Posicionou que é um projecto desenhado em 2008, quando a fundação pensava seriamente na criação de uma revista cultural mas não via sentido faze- la sem que antes começasse por um festival.
Entre as razões do seu surgimento, aponta como intenção atacar o diagnóstico de que uma das grandes máculas do funcionamento da música angolana se consigna na falta de festivais, que servem para dar popularidade e rodagem aos músicos. Por outro lado, para levar os músicos a alternarem ao hábito de só se apresentarem em palcos quando têm concertos.
São oito horas de música por dia e quatro palcos disponíveis, sendo que os concertos começam às 16 e terminam às 0h. Estarão presentes 40 bandas, o que representa 40 concertos, com um total de custo avaliado em 40 milhões de kwanzas, o que perfaz um milhão de kwanzas por concerto. Alvim garante que será um projecto simples, com dois concertos por palco, sem parar. Todo o espaço do Palácio de Ferro está a ser desenvolvido para dar vida a este festival. A escolha das bandas recaiu a um núcleo ligado à fundação, dentre produtores musicais e jornalistas com grande atenção à música. Serão duas homenagens no último dia, 28, ao compositor- mestre Xabanú e ao Presidente da República, José Eduardo dos Santos, enquanto homem de música.
Uma das dificuldades dos desenhadores de um festival, partilha Alvim, é a escolha. Diz este que depende muito da leitura a fazer, mas, no caso do ZWA, decidiram deixar em evidência um segmento que é parte importante do ADN cultural de todos, que é a música popular angolana. Que, no fundo, define Alvim, é aquela música que está enraizada na nossa memória e faz parte dos nossos sintomas culturais, embora esteja muito desaparecida nestes últimos trinta anos. Mas, acautela: “Não se tratará de nenhuma separação de geração e de estilo, visto que o festival terá de tudo, desde a música dita mais tradicional à música contemporânea produzida e tocada por angolanos de todas as gerações”.
Será também uma oportunidade para as novas gerações que não puderam ouvir bandas dos anos 50, 60 e 70, para que possam ganhar dados na compilação das suas memórias musicais com estes espectáculos ao vivo nestes cinco dias de ZWA, sugere.
A filosofia do festival, traça Alvim, é um sistema que abrange o projecto Girabairro Cultural ( música, literatura e fotografia) e já foi solicitado a ser desenvolvido em mais cinco cidades de Angola. Quanto à música, todo empenho se direciona ao sonho de um dia termos um festival por bairro. E o ZWA já tem para 2017 a confirmação dos seus mecenas, que apoiam a abrangência do festival entre o Largo 17 de Setembro até à Fortaleza de Luanda, com possíveis dez palcos internos e 8 externos.
Anteprojecto da BISA
Nos últimos tempos era notória a presença da direcção da Fundação Sindika Dokolo em Portugal, criando laços afectivos com a cidade do Porto. A boa nova veio também arrastada ao ZWA: BISA. Trata-se de uma parceria entre Luanda e Porto para tratar e traçar um assunto que Alvim considera urgente trazer à tona, que é o som do atlântico. Ou seja: “Como todos sabem, o oceano atlântico é um espaço que é um pouco de todos nós, uma segura geografia, e a ideia é fazer em 2018 a primeira Bienal Internacional do Som do Atlântico (BISA)”.
O grande trunfo consiste em exportar bandas angolanas nestas 20 cidades banhadas pelo Atlântico. Cada com a sua vez, durante um ano, de Fevereiro a Novembro, uma cidade acolherá 20 ou trinta bandas das cidades banhadas pelo Atlântico que serão escolhidas. Será possível deixar em circulação oitocentas bandas e mais de quatro mil músicos durante 10 meses.
O BISA traz conceitos específicos, teoriza Alvim, e o primeiro será o impacto e a ramificação da música africana no Atlântico, Américas e Europa; o segundo será a influência da música sul americana, com componentes africanas, no atlântico; a terceira será sobre o impacto da música da América central e do norte; a quarta será a influência da música europeia no atlântico.
É politica da Fundação Sindica Dokolo, enquanto organizador, dar mais tempo, para evitar cair no erro de muitos festivais internacionais, feitos num tempo muito curto, não possibilitando às bandas conhecer detalhadamente a história e estórias das cidades que visitam neste período, sem interagir com os músicos locais. A solução encontrada é que cada cidade anfitriã apresente 20 bandas, para além das 20 ou trinta bandas que virão de outras cidades. Assim, esse número quarenta do ZWA, conclui Alvim, é um treino para o BISA, avisando as produtoras angolanas para estarem preparadas ao mercado musical que se poderá abrir, de casas de música, contacto com grandes produtoras, circulação e inserção normal no circuito musical digital como um passo derradeiro para que a internacionalização da música angolana atinja uma certa normalidade, e não ser sempre uma efeméride quando se levanta a possibilidade de exportação da música angolana.
A experiência recente no Porto, continua Alvim, ajudou a fundação a provar que há música especificamente de Angola mas não é de grande conhecimento lá fora, e acredita ser necessário criar estes caminhos, porque encontra numa nova geração, mesmo ao contrário do que se pode pensar, sólidos sinais de trazer consigo a estética sonora da alma da música angolana.
O que significa zwa
O termo ZWA carrega múltiplos significados, mas todos ligados à raiz das línguas tradicionais. Neste caso, quer dizer som. Sindica Dokolo, presidente da fundação, contribuiu acentuando que em lingala significa toma, relendo assim: toma este som, certamente para todo um mundo por conhecer a música angolana, pura musica mangop, acrescenta Jomo Fortunato aí presente na conferência.
Os significados de muitas palavras das línguas nacionais, não só conseguem ser esteticamente interessantes como também são práticos em dar sentido às coisas, e ZWA significa o som, e há um conceito específico da undação que é intercessões, e a logo marca ilustra um pouco isso, indicando imputes e maneiras de trabalhar a memória musical, completa Alvim.