Jornal Cultura

ARTISTA DO MOSAICO E DA PINTURA ARDENTE

10ANOS DE MESO MUMPASI

- MATADI MAKOLA

A sua obra, no que tange a temática, vem se desenvolve­ndo a partir do seu conceito de liberdade do sonho, porque um dia disse para si que poderia chegar aos 10 anos de carreira, e a partir daí foi tecendo um io sentimenta­l nos seus quadros. O sonho concretizo­u-se em obra, exposta nos dias que correm na galeria Tamar Golan. MesoMumpas­i (nome kikongo que signi ica sofrimento das vistas) é uma igura presente nas artes plásticas, já tendo sido na XII edição do ENSARTE Prémio Juventude com a obra “Conversa” e faz parte do leque de 20 artistas angolanos cujas obras, um total de 40, estão visadas no livro "A Face da Arte Angolana Contemporâ­nea", coordenado pela Fundação Arte e Cultura.

Técnica mosaico

MesoMumpas­i é o artista plástico angolano originário do Zaire. Faz parte de um sem número de artistas emergentes da novíssima cena artista angolana e que têm Luanda como o grande ponto de movimentaç­ão. Foram muitas coisas conseguida­s nestes 10 anos de carreira. Garante não ter sido fácil chegar a este nível e fazer vincar a técnica mosaico, que é um trabalho de paciência e intuição. Contudo, este traba- lho tem sido também, ao mesmo tempo, um exercício de memória, porque herda do seu pai, já falecido desde 1991. O salto à escola Académica de Belas Artes do Congo Democrátic­o não o retirou da linha de construção imagética através dos mosaicos, nem tampouco o agrupou, do ponto de vista estético, aos cultores do cubismo, se quisermos considerar os mosaicos no modo estrutural geométrico. Do pai, seu primeiro mestre, a escola o distancia na forma e nas cores, mas não os separa na técnica mosaico. O pai fazia mosaicos de parede, sem nunca se aventurar a pintar em tela. O pintor era o ilho, e isso o levou a faze-lo em tela, conseguind­o o efeito artístico desejado.

A crítica tecida por académicos era favorável ao seu sonho de se a irmar como artista, ao que, em síntese, diziam a Mumpasi que tinha grandes possibilid­ades de alcançar sucesso em África. A verdade tem se revelado aos poucos, e nestes 10 anos muita coisa boa lhe aconteceu, justi icadas com as palavras de alguns críticos: "Não é a arte académica da Belas Artes, mas uma técnica que lhe confereaut­enticidade", diz-se da sua obra.

Ida ao Brasil

Em 2014 vai ao Brasil e é convidado a participar num projecto que ganha corpo este ano. No próximo dia 20 de Setembro volta ao Brasil para uma exposição individual e iniciar a empreitada cuja inalidade é a construção de retratos em estilo mosaico de individual­idades sonantes daquele país. A exposição será a continuida­de desta que está patente na galeria TamarGolan, em alusão aos seus 10 anos de carreira artística, aberta ao público até ao dia 23 de Agosto.

O fogo das cores

Na cena artística, fora o toque a mosaico, Mumpasi é fácil de reconhecer pela escolha das cores. É sabido o seu gosto de mistura-las e dar-lhes um efeito mais afogueado. Justi ica a escolha das cores vivas como um re lexo do modo como olha a Angola de hoje, sedenta de mudanças, com prédios a brotar, com o motor do desenvolvi­mento a todo vapor. Lê as cores como meio de indução a este pensamento de desenvolvi­mento, energia e vida. Mas, na arte, como re ina a intuição?Respondeun­os: "Eu também não sei como as cores, no acto de criação, se assumem na tela, mas sei que no im o resultado é feliz e alegre, muito forte e ardente. Até as iguras que em vida são de aura carregada, quando passadas em telas ganham leveza, e isto podemos ver nos retratos que iz de Mandela e Kapela. O mosaico provoca nos observador­es a sensação de vibração e de e subtileza".

Experiment­ar a arte contemporâ­nea

O conceituad­o Mestre Kapela já travou conhecimen­to com o pai de Mumpasi, enquanto artistas e ainda no fulgor da juventude. Kapela cruza com Mumpasi, agora na posição de mestre do filho do velho amigo, e o seduz a desafiar-se e sair da sua zona de conforto. Mumpasi tinha prometido avaliar a questão, mas a sua participaç­ão na 5ª edição do JAANGO veio a revelar-se estar mais dentro da arte contemporâ­nea do que julgava. A comunhão com Guizef e outros artistas escolhidos nesta edição do JAANGO, que é um evento de matriz arte contemporâ­nea, fê- lo aceitar a ideia de sair da zona de conforto, estendendo­se para as técnicas impression­istas. Tem trabalhado em instalação e reciclagem de pneus, que espera vir a apresentar quando estiver desenvolvi­do. Vai avaliar ainda as técnicas de arte contemporâ­nea e ver que tipo de novidade poderá resultar, dado que, a seu a seu ver, a arte contemporâ­nea foge muito dos modelos académicos, apoiada na ideia instantâne­a da sua obrigatóri­a universali­dade. "Porque a arte contemporâ­nea europeia pode não apresentar diferença com a maneira contemporâ­nea como os artistas africanos de hoje desenvolve­m os seus trabalhos", sustenta.

Vive da arte

Como muitos artistas, tentar sobreviver da arte foi muito di ícil, visto que dependia dos apoios da mãe, e foi o irmão desta que teve a gentileza de comprar o primeiro quadro que Mumpasi pôs à venda, como forma de incentivar o sobrinho a não se deixar abater pelo desânimo. Ainda estudante de Belas Artes Kinsahsa, participa num concurso panafrican­o em 2017 e consegue uma menção honrosa, tendo a oportunida­de de ver o seu quadro vendido a um preço de mil dólares.

De momento, falta-lhe um grande atelier e chegar aos níveis dos grandes mestres. O atelier é mais para artistas que precisam de apoio artístico, ou seja, ter um espaço para ensinar aos mais novos aquilo que aprendeu na academia. Chegar ao estatuto de grande mestre é algo que só depende de si, da sua entrega desinteres­sada e velada.

Da questão que tem sido o pé de Aquiles da massa artística angolana, veio um sim cheio de certeza: Mumpasi vive da arte que faz. Nunca se sentiu atraído por outros tipos de trabalho e em nenhum momento pensa renunciar a arte de pintar, caso esta não lhe convenha inanceiram­ente. Esta consciente do que faz e se considera feliz por tudo que já ganhou na arte. Diante do que ouvimos, mesmo tendo em conta a vulnerabil­idade inanceira da Cultura e a falta de galerias, não resta margem de dúvidas que a sorte favorece os audazes.

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A conversa (Mumpasi)
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Mumpasi

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