A HUMANIDADE E A GUERRA
INTRODUÇÃO A guerra precede o Estado e ela é tão antiga quanto é a humanidade. As suas origens estão patentes nos primórdios da humanidade. No decurso da evolução humana, a guerra evoluiu e revestiu-se de várias características. Na modernidade, ela assumiu outra dimensão e continuou a determinar o curso da história. Ela esteve na origem do surgimento e derrube de impérios e suas sociedades, bem como ela proporcionou o aparecimento e desmoronamento de Estados. Ela contribuiu para o avanço técnico-científico da humanidade, como também esteve na origem dos grandes desastres e hecatombes por que passou a humanidade.
A guerra sempre foi companheira da humanidade. Todos os povos a face da terra viveram em maior ou menor grau a guerra. Por isso, neste texto, vamos fazer uma incursão retrospectiva sobre a guerra ao longo dos tempos mas com o propósito de avaliá-la como fenómeno social e ver como ela evoluiu e como se caracterizou em certos períodos históricos.
Desta maneira, em primeiro lugar, vamos descrever a guerra desde as civilizações pré-clássicas até às clássicas para perceberemos como tudo se passou de maneira concreta. Em segundo lugar, analisaremos a guerra do período medieval até à modernidade para identi icarmos os seus pontos fortes.
A GUERRA NOS PERÍODOS PRÉ-CLÁSSICOS E CLÁSSICOS
A guerra evoluiu com o desenvolvimento das sociedades humanas. A melhor maneira para percebermos essa evolução, é penetrando no passado da humanidade. A guerra ganhou forma no seio das civilizações pré-clássicas. Estas civilizações surgiram no im da pré-história e mantiveram-se até ao século V a.C. As civilizações egípcia, mesopotâmica e siro-palestiniana viveram a guerra mas cada uma a sua maneira.
Penetrando na história da guerra da Mesopotâmia, vamos encontrar informações que atestam que a guerra civilizada começou na Suméria. A guerra com carácter ininterrupto começa precisamente na Suméria. No decurso do tempo, a guerra tornou-se intensa e começaram a despontar, no seu seio, os primeiros líderes militares. Fruto dessa liderança militar, a especialização militar começou a ter lugar e a metalurgia das armas foi-se fazendo sentir. Outro aspecto digno de nota, devido ao carácter ininterrupto da guerra, é o aparecimento do conceito de batalha militar. Esta concepção ganhou, entretanto, forma com o desenrolar dos tempos.
Outro conceito que emergiu na Suméria foi o da campanha militar devido às incursões que se faziam a longa distância. Ainda no contexto das guerras que se travavam, e em consequência dos vários interesses em jogo, na Suméria apareceu o primeiro imperador da história – Sargão da Acádia. Este imperador, no seu tempo, conduziu de maneira exitosa mais de trinta e quatro guerras. Por aqui, podemos atestar o carácter ininterrupto da guerra.
Na Mesopotâmia deu-se, entretanto, no segundo milénio a. C., um “koine tecnológico” do ponto de vista militar. Este avanço tecnológico modi icou, por sua vez, muitas das questões relativas à guerra. Tanto mais que surgiram novos guerreiros mais bem treinados e muito mais abalizados para a guerra. Outra grande novidade foi, sem qualquer dúvida, o aparecimento do carro de guerra. Em paralelo, criaram um arco composto. Na verdade, estes avanços tecnológicos da época conferiram mobilidade e izeram dos guerreiros homens muito mais devastadores.
Com isto a guerra tinha alcançado outra dimensão, de tal sorte que nestas condições a Assíria, como mais uma civilização da Mesopotâmia, alcançou o esplendor militar. Por isso, Assíria era no século VIII a. C um Estado guerreiro e que manteve o seu exército em plena campanha. Por força do papel militar que ela desempenhou na guerra, o seu exército converteu-se naturalmente em exército modelo.
Os traços mais característicos da Assíria estavam patentes no carro de guerra e na sua organização logística. Ela possuía uma capacidade logística que permitia as suas tropas efectuarem marchas de longa distância. As suas tropas eram capazes de efectuar marchas até 480 km. Eles introduziram os barcos e o recrutamento de cidadãos para o serviço das armas. Também foram eles que conceberam a ideia de prisioneiro de guerra. Por tudo isto, este modelo de exército transitou, com o tempo, para as demais civilizações da Mesopotâmia e fora desta região.
Outra civilização pré-clássica que viveu a guerra foi com certeza a Egípcia. Do ponto de vista militar, o Egipto tinha um certo atraso tecnológico e vivia de certo modo despreocupado porquanto julgava que ele não tinha ameaças externas. O seu exército com carácter permanente tinha armamentos muito rudimentares e atrasados em comparação com outros povos. As suas formas de combate estavam aquém das demais sociedades.
A situação mudou no Egipto quando eles foram invadidos pelos Hicksos. Um povo que era militarmente mais avançado que os egípcios. Eles dispunham de carros de guerra e possuíam um potencial imperial. Subjugaram por algum tempo o Egipto, até ao momento em que os egípcios expulsaram os invasores e passaram a prestar maior atenção às coisas da guerra. Numa fase mais avançada, o Egipto apareceu como potência militar. A prova está patente na descrição que se faz sobre a Batalha de Kadech.
No tempo apareceu a primeira civilização clássica. Trata-se da civilização Grega. Ela surgiu no século XVIII a. C. e permaneceu até ao ano 476. O seu aparecimento fez brotar um novo espírito militar. Com a irrupção da nova mentalidade militar, surgiram novas ideias e formas de organização, o que se re lectiu de forma directa sobre a maneira de empregar as tropas. Em termos de organização militar, o exército tinha carácter permanente e o seu adestramento era constante. No seio do exército também imperou o espírito democrático, atendendo as suas origens e o clima que se vivia em Esparta.
Nestas condições a unidade militar de base era a falange. Ela representava uma forma concreta de organização de combate e simbolizava a táctica grega. Mas por força da vida militar e da sua valorização no seio da sociedade grega despoletou o espírito espartano. De resto, este era o clima que reinava em Esparta, onde os jovens eram recrutados, desde muito cedo, e eram submetidos à treinos militares rigorosos.
Quando Alexandre “o Grande” assumiu o comando militar, por força dos desa ios militares da sua época, ele foi forçado a modi icar a forma de organização da Falange. Aliás, foi na Grécia onde se travaram duas grandes batalhas históricas devido ao signi icado de cada uma. Um é a Batalha de Maratona, que teve lugar em 490 a. C. Nesta batalha o que esteve em disputa foi o destino da democracia e sua defesa em oposição à tirania. Outra foi a Batalha de Arbelas, que sucedeu em 331 a. C. Nesta batalha esteve em disputa da