Jornal Cultura

A HUMANIDADE E A GUERRA

- MIGUEL JÚNIOR

INTRODUÇÃO A guerra precede o Estado e ela é tão antiga quanto é a humanidade. As suas origens estão patentes nos primórdios da humanidade. No decurso da evolução humana, a guerra evoluiu e revestiu-se de várias caracterís­ticas. Na modernidad­e, ela assumiu outra dimensão e continuou a determinar o curso da história. Ela esteve na origem do surgimento e derrube de impérios e suas sociedades, bem como ela proporcion­ou o aparecimen­to e desmoronam­ento de Estados. Ela contribuiu para o avanço técnico-científico da humanidade, como também esteve na origem dos grandes desastres e hecatombes por que passou a humanidade.

A guerra sempre foi companheir­a da humanidade. Todos os povos a face da terra viveram em maior ou menor grau a guerra. Por isso, neste texto, vamos fazer uma incursão retrospect­iva sobre a guerra ao longo dos tempos mas com o propósito de avaliá-la como fenómeno social e ver como ela evoluiu e como se caracteriz­ou em certos períodos históricos.

Desta maneira, em primeiro lugar, vamos descrever a guerra desde as civilizaçõ­es pré-clássicas até às clássicas para perceberem­os como tudo se passou de maneira concreta. Em segundo lugar, analisarem­os a guerra do período medieval até à modernidad­e para identi icarmos os seus pontos fortes.

A GUERRA NOS PERÍODOS PRÉ-CLÁSSICOS E CLÁSSICOS

A guerra evoluiu com o desenvolvi­mento das sociedades humanas. A melhor maneira para percebermo­s essa evolução, é penetrando no passado da humanidade. A guerra ganhou forma no seio das civilizaçõ­es pré-clássicas. Estas civilizaçõ­es surgiram no im da pré-história e mantiveram-se até ao século V a.C. As civilizaçõ­es egípcia, mesopotâmi­ca e siro-palestinia­na viveram a guerra mas cada uma a sua maneira.

Penetrando na história da guerra da Mesopotâmi­a, vamos encontrar informaçõe­s que atestam que a guerra civilizada começou na Suméria. A guerra com carácter ininterrup­to começa precisamen­te na Suméria. No decurso do tempo, a guerra tornou-se intensa e começaram a despontar, no seu seio, os primeiros líderes militares. Fruto dessa liderança militar, a especializ­ação militar começou a ter lugar e a metalurgia das armas foi-se fazendo sentir. Outro aspecto digno de nota, devido ao carácter ininterrup­to da guerra, é o aparecimen­to do conceito de batalha militar. Esta concepção ganhou, entretanto, forma com o desenrolar dos tempos.

Outro conceito que emergiu na Suméria foi o da campanha militar devido às incursões que se faziam a longa distância. Ainda no contexto das guerras que se travavam, e em consequênc­ia dos vários interesses em jogo, na Suméria apareceu o primeiro imperador da história – Sargão da Acádia. Este imperador, no seu tempo, conduziu de maneira exitosa mais de trinta e quatro guerras. Por aqui, podemos atestar o carácter ininterrup­to da guerra.

Na Mesopotâmi­a deu-se, entretanto, no segundo milénio a. C., um “koine tecnológic­o” do ponto de vista militar. Este avanço tecnológic­o modi icou, por sua vez, muitas das questões relativas à guerra. Tanto mais que surgiram novos guerreiros mais bem treinados e muito mais abalizados para a guerra. Outra grande novidade foi, sem qualquer dúvida, o aparecimen­to do carro de guerra. Em paralelo, criaram um arco composto. Na verdade, estes avanços tecnológic­os da época conferiram mobilidade e izeram dos guerreiros homens muito mais devastador­es.

Com isto a guerra tinha alcançado outra dimensão, de tal sorte que nestas condições a Assíria, como mais uma civilizaçã­o da Mesopotâmi­a, alcançou o esplendor militar. Por isso, Assíria era no século VIII a. C um Estado guerreiro e que manteve o seu exército em plena campanha. Por força do papel militar que ela desempenho­u na guerra, o seu exército converteu-se naturalmen­te em exército modelo.

Os traços mais caracterís­ticos da Assíria estavam patentes no carro de guerra e na sua organizaçã­o logística. Ela possuía uma capacidade logística que permitia as suas tropas efectuarem marchas de longa distância. As suas tropas eram capazes de efectuar marchas até 480 km. Eles introduzir­am os barcos e o recrutamen­to de cidadãos para o serviço das armas. Também foram eles que conceberam a ideia de prisioneir­o de guerra. Por tudo isto, este modelo de exército transitou, com o tempo, para as demais civilizaçõ­es da Mesopotâmi­a e fora desta região.

Outra civilizaçã­o pré-clássica que viveu a guerra foi com certeza a Egípcia. Do ponto de vista militar, o Egipto tinha um certo atraso tecnológic­o e vivia de certo modo despreocup­ado porquanto julgava que ele não tinha ameaças externas. O seu exército com carácter permanente tinha armamentos muito rudimentar­es e atrasados em comparação com outros povos. As suas formas de combate estavam aquém das demais sociedades.

A situação mudou no Egipto quando eles foram invadidos pelos Hicksos. Um povo que era militarmen­te mais avançado que os egípcios. Eles dispunham de carros de guerra e possuíam um potencial imperial. Subjugaram por algum tempo o Egipto, até ao momento em que os egípcios expulsaram os invasores e passaram a prestar maior atenção às coisas da guerra. Numa fase mais avançada, o Egipto apareceu como potência militar. A prova está patente na descrição que se faz sobre a Batalha de Kadech.

No tempo apareceu a primeira civilizaçã­o clássica. Trata-se da civilizaçã­o Grega. Ela surgiu no século XVIII a. C. e permaneceu até ao ano 476. O seu aparecimen­to fez brotar um novo espírito militar. Com a irrupção da nova mentalidad­e militar, surgiram novas ideias e formas de organizaçã­o, o que se re lectiu de forma directa sobre a maneira de empregar as tropas. Em termos de organizaçã­o militar, o exército tinha carácter permanente e o seu adestramen­to era constante. No seio do exército também imperou o espírito democrátic­o, atendendo as suas origens e o clima que se vivia em Esparta.

Nestas condições a unidade militar de base era a falange. Ela representa­va uma forma concreta de organizaçã­o de combate e simbolizav­a a táctica grega. Mas por força da vida militar e da sua valorizaçã­o no seio da sociedade grega despoletou o espírito espartano. De resto, este era o clima que reinava em Esparta, onde os jovens eram recrutados, desde muito cedo, e eram submetidos à treinos militares rigorosos.

Quando Alexandre “o Grande” assumiu o comando militar, por força dos desa ios militares da sua época, ele foi forçado a modi icar a forma de organizaçã­o da Falange. Aliás, foi na Grécia onde se travaram duas grandes batalhas históricas devido ao signi icado de cada uma. Um é a Batalha de Maratona, que teve lugar em 490 a. C. Nesta batalha o que esteve em disputa foi o destino da democracia e sua defesa em oposição à tirania. Outra foi a Batalha de Arbelas, que sucedeu em 331 a. C. Nesta batalha esteve em disputa da

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Cavaleiros Mossi com reféns

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