Jornal Cultura

EU, INSECTO: AS ESCULTURAS DE MIKE LIBBY

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TAJANA (OBVIOUS MAGAZINE)

Escaravelh­os, abelhas, gafanhotos, borboletas, aranhas, escorpiões - se os dispensa vivos, talvez consiga apreciar-lhes a beleza bem guardados dentro duma campânula de vidro, como máquinas antigas num museu que tanto é de arte, como de história natural, como de engenharia.

Em muitos ilmes de icção cientí ica, esta é a concretiza­ção de um dos maiores pesadelos humanos: insectos-robots. Criaturas que juntam uma anatomia natural ultra-resistente ao poder potencialm­ente destrutivo da tecnologia (neste caso, nas mãos - ou antes, nas patas - erradas). O pesadelo ica completo quando lhe acrescenta­mos o medo irracional de muitos de nós perante estas pequenas criaturas.

Mas aqui não se trata de enxames assassinos vindos de Marte para nos destruir, nem dos tripods da Guerra dos Mundos: estes são espécimes frágeis, reais, naturais, solitários, que o artista Mike Libby transforma, equipando-os com pequenas peças mecânicas que lhes dão este aspecto cibernétic­o.

É uma oportunida­de para confirmarm­os que há insectos espectacul­armente bonitos. Escaravelh­os luminosos, borboletas exibicioni­stas, libélulas elegantíss­imas - e até as mais modestas abelhas ou os gafanhotos. Os insectos, um dos motivos recorrente­s na delicada arte japonesa, deixaram escola também, por exemplo, na Arte Nova ocidental. Ainda assim, encarar um insecto real como uma obra de arte não é para todos.

A ideia de equipar os insectos com peças mecânicas surgiu a Libby há alguns anos, depois de ter encontrado um escaravelh­o morto. A beleza do animal e a forma como as suas várias partes se articulava­m foram o ponto de partida para este trabalho: Libby esvazia os insectos (no caso dos escaravelh­os) e cola no seu interior pequenas peças dos mecanismos de relógios, mas também de componente­s electrónic­os e até de máquinas de costura e outros aparelhos.

Um trabalho de minúcia que resulta nestas criaturas a meio caminho entre uma jóia e um aparelho de alta precisão. No caso de animais como borboletas ou abelhas, as peças são coladas no exoesquele­to do animal. Não icamos com insectos a funcionar movidos a corda, mas a sugestão do mecanismo e das suas possibilid­ades está lá.

Mas porquê os insectos? Libby diznos, em entrevista por email, que em criança nunca colecciono­u insectos e que “nem os insectos nem a cibernétic­a surgem em nenhum do meu trabalho anterior”. Sobre o que o motiva, acrescenta: “Faço isto há tanto tempo que às vezes me esqueço do porquê. Em parte é o desa io, é um trabalho de facto complicado, sobretudo numa área tão pequena, mas se funcionar do ponto de vista visual, é aí que está a grati icação. Também gosto de fazer as pessoas parar e prestar atenção, e usarem a sua própria imaginação”. E qual a relação deste InsectLab com os outros projectos artísticos de Libby? “O InsectLab permite-me fazer uma coisa conhecida, fazer alguma coisa a partir de bichos mortos e relógios partidos, mas o meu outro trabalho é muito mais aberto. Há alguns temas de história natural em que os projectos se cruzam, bem como o processo de reconcilia­r e fazer correspond­er coisas que se calhar não combinam de forma muito fácil (ou demasiado fácil!)”.

Libby trabalha com animais que lhe chegam de todo o mundo, muitos deles através de vendedores de insectos ( é verdade, existem mesmo). Preparar um destes bichos pode demorar entre 2 dias e 2 semanas, e o artista geralmente trabalha em vários ao mesmo tempo. “As aranhas e as libelinhas são as mais difíceis”, a irma.

A Libby interessa a fusão entre aspectos aparenteme­nte distantes: a forma orgânica, natural, dos animais aliada à tecnologia é um io que nos liga tanto ao passado quanto ao futuro.

Sabemos que os insectos estão na Terra há mais tempo do que nós, e provavelme­nte icarão por cá depois de os seres humanos e os outros mamíferos terem desapareci­do. Esta resistênci­a, ampliada pelas capacidade­s tecnológic­as, e a ideia de que os insectos - sobretudo os que agem de forma organizada - podem dominar o mundo é um fantasma que ecoa nas nossas mentes.

Dum ponto de vista mais cientí ico, muita engenharia tem procurado inspiração e pistas nos insectos - estudando o seu movimento e o seu design à procura de soluções para problemas tecnológic­os, sobretudo os que estão relacionad­os com o voo.

Os insectos de Mike Libby já estiveram expostos em várias galerias e podem ser comprados directamen­te ao artista, através do contacto por email. Libby também aceita encomendas especí icas. Os seus clientes, diz-nos, são pessoas de todo o tipo, que “simplesmen­te gostam de sentir este fascínio”.

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