Jornal Cultura

O FIM DA SOLIDÃO DA BD ANGOLANA

PRÉMIO NACIONAL DE CULTURA E ARTES

- MATADI MAKOLA

Daqui para frente, a BD angolana passa a ser vista com outros olhos. A atribuição do Prémio Nacional de Cultura e Artes, na disciplina de Artes Plásticas, ao Núcleo de Jovens Angolanos de Banda Desenhada. Para o cartoonist­a Olímpio de Sousa: “Felizmente a banda desenhada deixa de ser uma arte solitária, depois de treze anos de solidão.”

“A imaginação, a criativida­de, e, sobretudo, a angolanida­de estão patentes nestas obras”, de ine a ministra da Cultura, Carolina Cerqueira, alguns dos itens que justi icam a atribuição do Prémio Nacional de Cultura e Artes (PNCA), durante a gala de entrega dos prémios, realizada na noite do dia 10 de Novembro no Cine Tropical. Por outro lado, acresceu destacando que a iniciativa serve também para engrandece­r a nação e resgatar os valores culturais dos diferentes pontos de Angola, visando ser “um exercício de unidade nacional e de fortalecim­ento da cultura angolana”. Estiveram presentes iguras importante­s da cultura e da cena política angolana, como os distintos Higino Carneiro, governador de Luanda, João Lourenço, ministro da Defesa, Roberto de Almeida, PCA da Fundação Sagrada Esperança, que se juntaram aos artistas e testemunha­ram a entrega das estatuetas e diplomas de mérito aos vencedores, que também recebem um valor pecuniário avultado em três milhões e meio de kwanzas para cada disciplina. A gala

A boa música e dança angolanas foram os principais ingredient­es para exaltar o momento. O Ballet Tradiciona­l Kilandukil­o fez começar a noite com o número Ngolo, descrito por Maneco Vieira Dias, director da companhia, como “um momento de exaltação e festa, em que se invoca a alegria para saudar os vencedores”. Mas, e porque era véspera do incontorná­vel dia 11 de Novembro, a companhia se adiantou apresentad­o um número especial em homenagem a Agostinho Neto, desa iando-se a coreografa­r um dos seus poemas mais conhecidos, Renúncia Impossível, fazendo recurso à elevada interpreta­ção feita pelos Irmãos Kafala. a música fez-se com a trova de José Kafala, que interpreto­u Ngola e Cruci ixo, a voz forte de Ndaka Yo Wini, que interpreto­u Tchiungue, da autoria de Joaquim Viola, e Cantares da Terra, Selda, que interpreto­u Morro da Maianga e Esperanças Idosas, Gari Sinedima, que interpreto­u Nvula, de Filipe Mukenga, e Tchipalepa, de André Mingas, Kyaku Kyadaff, que interpreto­u Ntoyo, de Teta Lando, e Belina. Os jovens talentos, conforme justi icou Kyaku, tentaram fazer alguma coisa nova, nesta continuida­de na modernizaç­ão. “Seria fundamenta­l interpreta­r os sucessos, como forma de manter vivo o passado. Só para dar exemplo, Mito Gaspar é um exemplo concreto, é um exímio trovador, um artista de mão cheia, que chega a ser um exemplo de inspiração a vários artistas”.

Mito, ao ser entrevista­do, comungou com a opinião dos jovens e traduziu a atribuição do prémio como um sinal claro de grande responsabi­lização. Asseverou que sempre olhou para música como um sector de in luência, formação e informação, o que acarreta um responsabi­lidade social muito grande, que não pode estar reduzido ao mero capricho de imitarmos, de querermos fazer aquilo que os outros melhor sabem fazer. “Temos de ter a consciênci­a de trazer alguma tradição e criar referência dentro dos parâmetros dos nossos valores culturais. O meu mais franco objectivo sempre foi contribuir para a valorizaçã­o da diversidad­e cultural, porque imperou muito a ideia de que havia uma única vertente cultural, o que não faz jus a todo este mosaico artístico-cultural que Angola possui. Porque o que se sabia era o que vinha sendo divulgado, preterindo o que de melhor e excelso acontecia no interior. Achei que tínhamos essa responsabi­lidade de repor a justiça, e mostrar que devemos fazer de tudo para a valorizaçã­o da nossa complexida­de artística”, analisa.

Se o Anselmo Ralph cantasse em kimbundu

Anselmo Ralph foi o escolhido para fechar a noite, com o seu mais recente sucesso Todo Teu. Enquanto músico, começou por felicitar todas as pessoas que fazem de tudo para a preservaçã­o de eventos que dão a entender que a nossa cultura não é só feita de música. “Tem um leque de disciplina­s artistas que merecem o seu carinho, pela qualidade que estas apresentam, obrigando ao reconhecim­ento de fazedores de outro tipo de artes. É importante”, avalia. E acrescenta: “Mesmo quando é um estilo internacio­nal, o melhor é faze-lo à nossa maneira, tendo sempre o ADN da maneira angolana”. A seu ver, sobre o reconhecim­ento de músicos fora do nosso país, consequênc­ia da intenção de internacio­nalizar a música angolana, sugere que tudo passa primeiro por um reconhecim­ento consensual dentro do nosso próprio país. Explica: “Devemos ser nós os primeiros a dar valor e orgulharmo-nos, porque isso acaba por ser transmissí­vel lá fora”.

Anselmo fez saber também que tem aprontado um projecto novo e que ao que pretende será bilingue, cantado em português e espanhol. Claro está que isso levanta alguma inquietaçã­o, a ver com a valorizaçã­o das nossas línguas nacionais. Ou seja, como seria bom se o sucesso todo de Anselmo carregasse também a preocupaçã­o da valorizaçã­o e uso corrente de uma das nossas línguas. E questionad­o sobre

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 ??  ?? Da esquerda: Lindomar, Cremilda de Lima, Olímpio, Tché Gourgel, Marisa Júlio, Mito Gaspar, Carolina Cerqueira, João Lourenço, Mário Bastos, Jorge Cohen e Paulo Lara juntos na foto de família na noite da atribuição dos prémios
Da esquerda: Lindomar, Cremilda de Lima, Olímpio, Tché Gourgel, Marisa Júlio, Mito Gaspar, Carolina Cerqueira, João Lourenço, Mário Bastos, Jorge Cohen e Paulo Lara juntos na foto de família na noite da atribuição dos prémios
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Anselmo Ralph

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