SUSANA INGLÊS CANTA NGUNZU
Suzana IInglês brin-brinda-anosda com Ngunzu,Ngunzu um álbum musical que atravessa o tempo e pereniza a ancestralidade mítica, na magia do Mimbu (cantiga).
Suzana Inglês, apesar da longa experiência que tem da vida vivida, mantém intacto o precioso dom que a Natureza lhe conferiu: uma voz cristalina e transparente como a água de uma fonte da montanha. E é dessa voz que esta ilustre senhora – que nos habituou a vê-la nas vestes de jurista, defensora da criança e dos bons hábitos da família – se serve para nos brindar com Ngunzu, um álbum musical em língua quimbundo e que comporta canções que atravessam o tempo e perenizam a ancestralidade mítica, na magia do Mimbu (cantiga). As memórias da sua infância e de toda uma vida, recolhidas para a posteridade, têm um lugar cimeiro no conjunto dos elementos constituintes da identidade nacional, visto que o que a cantora gravou é um repositório da memória mais lata, a memória colectiva do Povo, não só as estórias, mas tam- bém a ritmo-emoção dos instrumentos. Porque, como a própria Suzana Inglês nos disse, na apresentação de Ngunzu, ali no Palácio de Ferro, a 16 de Novembro, “o passado é a rodilha do presente e do futuro”.
Foi Albino Carlos, o apresentador da obra, quem viria a corroborar essa afirmação poética da cantora, ao constatar que “esta obra revela a importância da música de Angola pelo prazer de identificação colectiva e pessoal, soando a cada um e a cada qual em ritmo próprio.”
Mais adiante, Albino Carlos elucida que “sendo que a memória pessoal e a memória colectiva consolidam-se e retroalimentam-se in initamente, através de Ngunzu, Suzana inglês transita e imprime à música a memória do seu tempo, recordando-se de pessoas e de factos, de datas e de lugares.
O próprio título da obra, Ngunzu, transporta-nos para a saudade, apela à nostalgia da idade da inocência, transporta-nos para um território vivido e revisitado por todos aqueles que, vivendo um tempo novo, não querem esquecer o tempo de ontem.
São saudades que se manifestam puras como o primeiro olhar da vida, são saudades derramando- se pelos versos e letras cantados em ritmos de semba, kilapanga ou gospel, quer em compassos cadenciados ou mais intimistas.
Ngunzu destaca-se pelos efeitos de sentidos e estados de alma de grande valor sentimental bem conseguidos graças às potencialidades das línguas nacionais, no caso, o kimbundo, que Suzana Inglês domina como poucos.
Na verdade, a obra de Suzana Inglês notabiliza-se pela profundidade com que resgata aspectos e valores identitários da tradição rítmica e textual do Cancioneiro Popular Angolano”, acrescentou Albino Carlos, na sua dissertação.