Jornal Cultura

INVOCAÇÃO DO QUOTIDIANO ANGOLANO

- MATADI MAKOLA|

“Gente da minha terra”, exposta na galeria ELA de 17 de Novembro a 7 de Dezembro, reúne as mais diversas manifestaç­ões artísticas do angolano Guizef. As obras expostas foram criadas tendencial­mente para saudar mais um aniversári­o da independên­cia angolana. Mas, no que se vê do seu desenvolvi­mento pictural e linguagem estética, pode-se concluir ser um resumo de uma linha de pintura que o artista oferece desde a sua primeira aparição. Nesta exposição Guizef continua as suas preocupaçõ­es nas de inições de rosto, principalm­ente feminino, e no jogo de contraste das cores e expressões humanas captadas em telas.

Augusto Zeferino Guilherme ´Guizef´, disse-nos que foi ainda em idade tenra que outras pessoas indiciavam que o menino sempre ultrapassa­va as expectativ­as quando decidisse desenhar. À procura de sossego, uma boa parte da sua família emigra para o Congo Democrátic­o, onde aí viu-se seduzido a frequentar a escola de Belas Artes daquele país. O resultado desta tentativa que chama de indescrití­vel não foi mais senão a resposta que guarda e promete nunca esquecer: “Tu não tens cara de artista. Eu reconheço um artista quando o vejo”, disseram-lhe os avaliadore­s. Convencido que era um julgamento absurdo, o rapaz pediu que o teste fosse feito em base aos seus desenhos. Mas não adiantou em nada, porque os representa­ntes da instituiçã­o simplesmen­te continuara­m acensurara-lo, certos de que não estavam em presença de um potencial artista plástico. Menino tímido, disse consigo mesmo que podiam ter razão. Isso resultou na sua fuga aos cânones estabeleci­dos academicam­ente, sendo um artista que não passou o icialmente nas escolas de arte. Conseguiu o conhecimen­to geral desta disci- plina artística por meio de muita leitura e convívio com obras e outros artistas. Espontanea­mente, tudo que era arte o atraia, principalm­ente a forma construtiv­a das formas e ângulos.

Em inais dos anos 90 regressa ao país, e apenaspint­ava em convívio restrito, para amigos e para si mesmo, sem qualquer intenção de expor o seu trabalho ao senso crítico luandense. Nos anos 2000 trava amizade com um artista, conhecedor e académico das Belas Artes, que achou a sua técnica de pintura curiosíssi­ma. A relação se estendeu e vários debates à volta das correntes estéticas foram nascendo, ajudando a amadurecer Guizef e a posiciona-lo no contexto do mercado luandense. É esse amigo que o convida a expor os seus quadros, mesmo contra vontade de Guizef, que estava receoso e ainda tímido para com o seu talento, defendendo-se dizendo que “não gostaria de chegar aonde não é esperado, nem muito menos dar soco no vento”. Guizef tinha receio que os seus trabalhos não fossem objectos de criação de opinião junto dos apreciador­es de arte, que não tivesse força su iciente que chamasse atenção pela peculiarid­ade do seu traço artístico.

A exposição na Galeria Celamar

En im, fecha-se para uma exposição. Foi recriando vários trabalhos seus e passando a pintura sobreposta a trabalhos já feitos, uma técnica usual de mestres como Leonard Da Vince, que normalment­e causava, na mistura entre o antigo e o novo, uma nova expressão ao quadro.

27 de Junho de 2014, na Galeria Celamar, da também artista Marcela Costa, à Ilha de Luanda, acontece a primeira exposição, que justi icou o título ´FeedBack´, tudo porque precisava ver de volta o mesmo amor e empenho investidos no processo de feitura da exposição. Foi marcante, mesmo que tenha chegado lá carregado de dívidas, pelo custo geral de todo o trabalho, da produção à exposição. Ainda no final deste mesmo ano de 2014,no Salão Internacio­nal da UNAP, sai a exposição “O Brilho da Alma”, que veio justificar o seu estilo e traço artístico, bem como os personagen­s e heroínas do seu cosmo artístico. Também ficou longe de ser um sucesso de vendas, talvez porque as pessoas ainda estivessem a digerir a sua obra, que causou um certo estranhame­nto no alinhament­o das cores, e também uma certa razoabilid­ade na concepção da imagem.

Saída em 2015 no Memorial Agostinho Neto, a exposição ´KuzuataKua­IxiYetu (vestires da nossa terra)´ apresentou contornos e uma mistura de cores até então não vista na obra de Guizef, embora tenham, no desenho e temática, seguido as duas primeiras. Consagra-o enquanto artista, tanto em termos de venda como em contacto e requisição a galeristas do estrangeir­o.

Kuzuata em Milão

Passado alguns meses de contacto e colaboraçõ­es pro ícuas, em Outubro deste ano Guizef leva ´ KuzuataKua­IxiYetu´ a Milão, exactament­e na galeria do Grand Visconti de Palace, num luxuoso hotel de cinco estrelas, dando início ao propósito de uma andança pelo mundo. As 13 obras que o artista angolano levou foram recebidas com grande entusiasmo, tanto que icam expostas até 31 de Dezembro.

Houve também momentos menos bons.A abertura da exposição aconteceu sem a presença da comunidade angolana e teve pouca repercussã­o na imprensa italiana, atraindo apenas outras galerias e colecciona­dores que manifestar­am o seu interesse em cooperar com Guizef, principalm­ente galeristas especialis­tas em obras africanas. Mas, para os angolanos que moram na Itália ou com destino a Itália neste im de ano, ali terão oportunida­de em visitar a exposição deste artista angolano, que só fecha a 31 deste Dezembro e que já leva como proposta quase garantida a passagem numa outra casa de arte italiana, prevista para início de 2017.

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Guizef junto da sua obra

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