ZIZI EXPÕE “NGUIMBI” LUANDA, LUANDO, LUAR, LUNAR
Aberta em Luanda no passado dia 8 na Galeria ELA, “Nguimbi” é uma contribuição, como classifica a artista, de mais de 15 obras que biografam a cidade de Luanda. Tem no tracejado e na composição pictórica uma relevante distância com os seus dois trabalhos anteriores, Retrospectiva do in- maginário Ie II, em que denuncia um misto de tendências das suas experiências na Europa com as suas origens africanas, dando vazão a obras acentuadamente subjectivistas.
Em “Nguimbi, talvez por se tratar de um trabalho temático, o resultado é clarividente e homogéneo. Mistura, óleo e acrílico sobre tela são as técnicas usadas pela artista para a composição destes trabalhos que duraram menos de dois anos a serem concluídos.
No seu olhar de artista, os corpos são a cidade. As pessoas terminam os prédios, e estes são extensões das pessoas, sem possível linha de limite entre as duas entidades. Mas esta senhora Luanda que diariamente vivencia- mosé trazida num azul insistente, talvez o azul do seu mar à volta, estendido como um luando onde se re lecte a lua e os seus habitantes pescam sonhos lunares. Mas também dá-nos, nas cores e tracejados, a candura de uma criança a sorrir ou a chorar.
Em “Nguimbi”, pela forma como constrói as imagens, estão em evidências asin luênciasque Zizi sofre do cubismo, mas misturado com muito do traço de Malangatana. Deste artista, Zizi diz: “Considero um artista inevitável dentro da minha obra”, como se fosse quase espontânea a forma como a sua criação dialoga com a de Malangatana. Mas também é um misto de várias in luências de artistas da Língua Portuguesa que foi abarcando dentro e fora de África, como se pode estabelecer diálogo com a estética do movimento modernista de artistas plásticos brasileiros.
Como surgiu a exposição? Diz-nos que foi de um convite da parte da produção, de Adriano Maia, que abraçou a ideia de pintar a nguimbi (Luanda), à procura de uma proposta e experiência estética que nos levasse não só a um olhar re lexivo sobre a própria cidade mas também a descobrir e criar novas formas de encarar o tecido da cidade. “Foi rápida, infelizmente. Foi em tempo record”, realça. Mas o resultado está longe de ser infeliz, e o mistério da criação tem disso. Ela própria não esconde que também se admira com o resultado. Queria um tema que estivesse à mão e que a desa iasse. Quis faze-lo rápido. Refazer o que tem interiorizado todos os dias quando sai à rua. Foi uma criação automática, mas que exigiu um vagar constante entre as ruas prendadas e menos prendadas da cidade, e também uma pintura do grito já rouco da zungueira, ou de toda a metáfora imagética que a chuva causa quando invade o musseque e sai à tona todos os paradoxos possíveis da modernidade.
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