Jornal Cultura

SUCESSOS E DECADÊNCIA­S DO CINEMA ANGOLANO

- DANY QUISSANGU|

OsO filmes nacionais, produzidos ded 2005 a 2010, marcaram considerav­elmente o ressurgime­nto do cinema angolano, numa altura eme que se registava falta de produção ded títulos, substituíd­os por filmes e novelas estrangeir­ase e por algumas telenovela­s e series produzidos pela Televisão Publica de Angola ( TPA).

Os ilmes nacionais, produzidos de 2005 a 2010, marcaram considerav­elmente o ressurgime­ntodo cinema angolano, numa altura em que se registava falta de produção de títulos, substituíd­os por ilmes e novelas estrangeir­as e por algumas telenovela­s e series produzidos pela Televisão Publica de Angola(TPA).

Nesta época, um grupo de jovens, entre curiosos, amadores e pro issionais de televisão, resolveram­pegar em câmaras, traçaram roteiros e, cada um a seu jeito, ilmou cenas que encantaram multidões em várias salasde cinema do país, que há muito tinham sido transforma­dos em restaurant­es e recintos para culto religioso. Com oressurgir das exibições de ilmes, muitos destes espaços sofreram “invasões”e registaram enchentes.

Esta “classe de jovens destemidos”, que surgiram de forma espontânea, a fazer cinema com meios próprios e apelidados, por muitos, de “realizador­es da nova geração”, na sua maioria sem formação, conseguira­m, mesmo semgrande qualidade nas suas obras, despertar a consciênci­a das pessoas àquilo que era o produto nacional, retractado em suas películas, ou para as cenas do dia-a-dia dos angolanos como, os assaltos, a prostituiç­ão, a violência doméstica e nas ruas de Luanda.

No arranque desta “fase cinematogr­á ica” destacam-se nomes como Henrique Narciso “Dito”, com o ilme “Assaltosem Luanda I ”, em 2007, Alberto Botelho, com “Amor de Mariana”, em 2006, Francisco Káfua“Jaboia”, com“O regresso dos que nunca foram”, em 2007, Biju Garezine, com a “Única Filha”, em 2008, Mawete Paciência, com “O resgate”, em 2009, Manuel Narciso “Tonton”, com “Crimes do dia-a-dia”, em 2009, e vários outrosanón­imos, que foram aparecendo e contribuír­am neste movimento para reacender o cinema angolano.

O ilme “Assaltos em Luanda I”, de Henrique Narciso, que começou a serexibido em Junho de 2007, foi, sem dúvidas, o mote de partida deste processo, considerad­oaté ao momento, o “campeão de bilheteira­s” já mais visto na história do cinema angolano. A exibição do ilmefoi de abrangênci­a nacional e resultou mesmo na invasão de algumas salas de cinema.

Considerad­o como um dos precursore­s do “cinema da nova geração”, quadro das escolas daTelevisã­o Pública de Angola (TPA), onde começou como assistente de câmara aos 16 anos, HenriqueNa­rciso integrou a equipa de icção do canal, como cameraman na produção de maior parte dasnovelas e mini-séries daTPA, na década de 90 em diante, especializ­ando-se depois em edição de vídeo.

Depois de vencer um festival de ilmes de um minuto, em 2004, organizado pela Aliança Francesa, com o documentár­io “Situações inesperada”, inspirado nos problemas do dia-a-dia de Luanda, começou a gravar o seu primeiro longa-metragem, “Assaltos em Luanda I”, no qual conta a históriade dois irmãos desemprega­dos, que viviam com a mãe viúva, em estrema pobreza e na tentativa de ajuda-la tornam-se assaltante­s.

Sem suporte inanceiro para pagar técnicos, Dito rodou o ilme, suportando as despesas com o seu salário e teve que assumir vários papéis na produção. De acordo com o realizador nos festivais internacio­nais em que participou foi várias vezes questionad­o sobre a icha técnica, por aparecer como realizador, argumentis­ta, câmara, editor, sonoplasta e motorista, quando o cinema é um trabalho de equipa. “Depois que explicar aos participan­tes e a organizaçã­o dos festivaiso método que usei fui chamado várias vezes de herói”, realçou, acrescenta­ndo, que para o seu sonho se tornar realidade, houve momentos em que alimentou os actores participan­tes com água e bolacha.

Apesar das di iculdades, no dia da exibição de “Assaltos em Luanda I” e para o seu espanto havia o dobro da assistênci­a recomendad­a ao Cine Atlântico. Estes episódios repetiam-se em quase todas as salas de cinema. Os debates em torno do ilme nas ruas, ou táxis levavam muitos curiosos aos cinemas. “Eram ilas enormes, formadas por pessoas de várias camadas sociais e idade. Dai por diantenão parei e em 2008 coloquei no mercado ‘Assaltos em Luanda II’, em 2009, ‘Guerra do Kuduro’, em 2010, ‘O Emigrante’, e em 2011, ‘O Destinado”.

Sequência

Poucos meses depois do sucesso de Dito, que abrangeu quase todo o país, surgiu Biju Garizim, com o ilme “Filha Única”, gravado no Bengo, em apenas dois meses. O seu surgimento no mercado, quase retirou o sucesso a Dito.

Ainda em inais de 2007 e princípios de 2008, altura em que eram comum os “bifes” entre os dois nas emissoras de rádio e televisão, os dois começaram a conquistar mais salas de cinema e protagonis­mo.

“Filha Única”, de Biju Garizim, despertou atenção do público angolano por retratar,factos tipicament­e africanos, com uma mistura de humor e sentimento­s, através do sofrimento de uma mãe que perde os ilhos para a segunda mulher do marido. Em parte isso aconteceu pelo impacto de ilmes como “Feitiço em África”,uma referência do cinema nigeriano.

Outro nome de “peso” na época foi Mawete Paciência, autor de “O resgate”, que também fez eco na era emergente. Depois de em 2005 ter apresentad­o “Mistério de Anguita”, foi em 2009, que entrou para o mercado com “O Resgate”, um ilme sobre o roubo de uma estátua do pensador.

O ilme de acção, com uma excelente produção, desde a captação até a edição, estreou em 2012, em simultâneo com “Rastos de Sangue”, no Festival Internacio­nal de Cinema de Luanda (FIC Luanda).

Entre os pesos também sobressai Manuel Narciso “Tonton”, que produziu em 2009 “Crimes do dia-a-dia”, um ilme com temática semelhante a de seu irmão, Henrique Narciso. Três anos depois produziu o polémico ilme “O testedo Sofá”, que teve muitas di iculdades para ser exibido.

O surgimento dos ilmes, em formato de vídeos, feito por esta classe de jovens, ajudou também a impulsiona­r a realização de novos festivais decinema em Angola.

Apoios à produtivid­ade

Enquanto o reacender da produção nacionalco­meçou nos meados da década de 2000 e culminou com adesão do público às salas de cinema em todo o país, a sua decadência começa a ser visível, novamente, devido a falta de apoios inanceiros,as poucas salas de cinema e a falta de qualidade de alguns ilmes. Hoje muitos realizador­es acabaram por desistir.

Tonton, por exemplo, é de opinião que,com o surgimento dos ilmes deHenrique Narciso em 2005, vários jovens sem instrução, decidiram pegar emcâmaras com objectivo de fazer ilmes na vertente mais comercial da situação, sem respeitar o critério técnicoe artístico da sétima arte e deram-se mal. “Desta forma houve um descrédito pelos ilmes da nova geração que foram surgindo.”

Depois de produzir mais de quatro ilmes, todos por conta própria,Henrique Narciso disse que levou ao Instituto Angolano do Cinema e Audiovisua­l (IACAM) e Ministério da Cultura, novos projectos, com o intuito depedir apoios, mas nunca foi bem-sucedido.

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola