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É só mais uma, é longa e está cheia de gente, é igual a todas as outras, mas é totalmente diferente. É longa, está cheia de gente e até está asfaltada, o que por aqui é meio surpreende­nte, mas não é isso que a faz diferente. É só mais uma rua como tantas outras que há na cidade, porém mais longa e dolorosa de atravessar do que todas as outras, supostamen­te há quem nunca chegou ao im dela, e está cheia de gente; os condutores que levaram almas a atravessar­em-na sabem-na perversa e a vêem bela, porque os favorece, abastam-na de almas distinguid­as por um carácter que foge aos seus e assistem sorridente­s os couros lá deixados sem nunca lá terem posto os seus. Suposto era ser mais uma rua, mas de tantas almas que residem nela e em cada alma um ideal, e em cada ideal um mundo, tal rua, acabara por ser um mundo formado por um contraste de mundos, e tal mundo convertera-se numa prisão em que as grades são o ideal que celuli ica a essência que lhe fez o que é. Os encarcerad­os percorrem-na com certeza nesciada em busca de liberdade, vendados por própria arrogância que não os deixa ver que se condenam mais, com passos marcados para trás a um só pé. Obcecados em ser livres, perseguem em ideal quem os aprisionou, esquecendo-se do que são, restando assim o que também são, evoluem cada vez mais como prisioneir­os e apenas como prisioneir­os, como moradores deste mundo e apenas como moradores. Há que perceber que não obstante ter sido aprisionad­o neste mundo, não há outro detentor da chave para a sua liberdade, para o atalho ao im da rua, apenas os próprios, apenas os encarcerad­os a têm, não os “encarcerad­ores”.

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