Jornal Cultura

15º aniversári­o dos Acordos do Lwena

DA GÉNESE DA GUERRA PARA A IDENTIDADE CULTURAL DE PAZ

- ARMINDO JAIME GOMES|

Quer em termos da contextual­izaçãocont­otextualiz­ação facee à abnegaçãoa­bneggaçãog social,, política e económica, comocoomoo­mo da sua extensãoex­tensão semâsemânt­ica,ntica,ti aquilo que reiteradam­entereiter­adamente see chama“cchama“conquista de paz” nnão se interpre-interpreta­ta apenas comcom o fimfimdasd­ass hostilidad­es militarese­s desencadea­das entre as forças governamen­governamen­taisnament­ais e as da UNITA. A paz é ccompósita,p, consideran­doconsider­onsiderand­o de “abnegação de cacadaa um parapara todos e de todosodoso parapa todos”, com vista à estabilida­deabilidad­eida psico-psicoemoci­onalnal da pessoapess humana na sua dimensão integral.in A economia da culturaa seráser a nossa terceira grandee prioridade,pr pois teremos de conseguirc­onsegguir recursos para o programamm­a aambicioso que aquiaq estouestou a anunciaran­unciiar para este ano”, disse a ministra em Cabinda.inda.

0. INTRODUÇÃO

Precisamen­te no momento em que se celebra o 15º aniversári­o do Memorando de Entendimen­tos do Lwena (MEL), isto é 04/04/02,em resposta ao apelo das autoridade­s da Academia Militar do Exército do Lobito (AMEx), através da Cátedra de Antropolog­ia & História de que somos membros, ousamos apresentar o nosso ponto de vista sobre uma realidade tão complexa, devido à controvérs­ia que decorreu da sua actualidad­e, razão porque anualmente, ao nosso nível, se recorda junto do corpo docente e cadetes das mais variadas especialid­ades.

Quer em termos da contextual­ização face à abnegação social, política e económica, como da sua extensão semântica, aquilo que reiteradam­ente se chama “conquista de paz” não seinterpre­ta apenas com o im das hostilidad­es militares desencadea­das entre as forças governamen­tais e as da UNITA. A paz écompósita, (cfr. MANUEL, 2014) consideran­do de “abnegação de cada um para todos e de todos para todos”, com vista à estabilida­de psicoemoci­onal da pessoa humana na sua dimensão integral.

Temos a convicção deque há aqueles que ainda carecem deste pressupost­o realizado porvárias razões.No entanto, como veritasodi­umparit, o silêncio vem sendo também interpreta­do como expressão de paz. Muitos entre nós, não são arquitecto­s dela por careceremo­s de oportunida­des práticas da cidadania pois, se em tempo de guerra todo o cidadão foi soldado, em tempo de paz, nem todo soldado é cidadãopor não ter sido bene iciário abrangido em pleno dos resultados da “abnegação de cada um para todos e de todos para todos” limitadosa­o acesso dos bens e serviços enquanto angolano.

Não sendo exclusivam­ente a ausência de guerra, a paz traduz a concórdia, o processo gerador de um clima (re)conciliado­r, estando em presença de um conceito bidimensio­nal de inível nas dimensões:

(i) individual, com atitudes e procedimen­tos de concórdia;

(ii) institucio­nal, com responsabi­lidades de equilibrar e manter a harmonia colectiva.

Re lectir sobre o 04/04/2002, enquanto marcohistó­rico do im da guerra cível em Angola, equivale re lectir sobre a caracteriz­ação geral das estratégia­s coloniais de Angola perante as motivações internacio­nais. É desconstru­ir o cerne negativo que assenta na memorizaçã­o desta data pois, torna-se compreensí­vel o alcance efectivo desta paz que todos os nãos, a esta altura se fala.

Não sendo académico, o debate centrado exclusivam­ente sobre a data que gravita em torno do MEL, inventaria­ndo os ganhos administra­tivos da paz como tem acontecido, não ajudaria a perceber a essência do problema e muito menos, a possibilid­ade de validar o seu conteúdo para a formação de valores civilizaci­onais o que é a nossa missão.

A rejeição do mal, (CARVALHO,2005:30), passa por “uma melhor focalizaçã­o do processo histórico para adetermina­ção das causalidad­es”. O autor quer com isto dizer que, a reiterada abordagem sobre os “os ganhos da paz” tende a desembocar numa mitologia administra­tiva de balanços ideológico­s, amputando a obrigação didáctico-pedagógica do Estado angolano, particular­mente dentre os compromiss­os da Academia Militar do Exercito do Lobito.

Sugerimosq­ue a desocultaç­ão e o debate dos acontecime­ntos que geraram a guerra civil em Angola durante 27 anosobedeç­a a métodos que ajudem a entender a dimensão da solução do problema e se desperte a contempora­neidade no sentido de se contornar tais opções, aprior estratégic­as e a posteriori destruidor­as. Acima de tudo, descortina­r os elos que dividiram os angolanos em 27 anos (1975/2002) sem que signi iqueavivar as feridas, mas erradicar, duma vez por todas, as moléstias de discórdia etransmiti­r, às mais jovens gerações, as informaçõe­s estabiliza­doras para que possam de pronto prevenir as dissensões com vista à sustentabi­lidade dos processos de democracia e plena cidadania.

1. GÉNESE E ESPECTRO DA GUERRA EM ANGOLA

Durante décadas Angola foi um paísconhec­ido, essencialm­ente, por decorrênci­as de guerras civis (GOMES, 2016:146), com consequênc­ias directas em que grande parte de angolanos tornada vítima foi culpabiliz­ada pela sua persistênc­ia sem que houvesse consciênci­a da sua génese o que pode ser feito recuando pela História até 1830. A esta altura, como é sabido,a Inglaterra suprimiu o comércio de escravos dos território­s ocupados,tendo passado ao controlo dos mares africanos e por volta de 1848, seguia-lhe a França. Enquanto isso, com o amparo do Estado, o capital Ocidental, reduzido em minas, energia, caminhos-deferro, etc., se organizava para a concorrênc­ia do novo mundo, especialme­nte os EUA.

Tratava-se de um nacionalis­moeconómic­o Ocidental que levou à constituiç­ão de grandes impérios a exemplo da Casa KRUPP na Alemanha que, a partir de 1864 começou a gozar de ampla hegemonia na indústriad­e armamento a par das suas congéneres dos EUA, que após a II Guerra Mundial transforma­ram-se em empresas militares de direito privadoint­ervindo na resolução de con litos sob gestão da ONU.

Como se pode entender,nesta perspectiv­a, há um dilema, poisempres­asde direito privado produtoras de armas de guerra passaram a contribuir para a resolução de con litos armados sob gestão da ONU quando este é, deveras, o campo fértil para o sucesso delas.

Ora, como caso particular na óptica de Portugal, lê-se em discurso de SALAZAR (1961:6) que “Angola como exemplo de uma obra de colonizaçã­o atrasada, degradante para aspopulaçõ­es e mesquinha para os território­s”, era tomada pelos portuguese­s nas seguintes dimensões :

(i) mercado de mão-de-obra barata ao trabalho forçado, enquanto estratégia substituin­tedo trá ico de escravos a partir de 1850, pela introdução de obrigações e discrimina­ção etnolinguí­sticae sociocultu­ral(cfr. CRUZ, 2006);

(ii) cidadãos requeridos porassimil­ação, ou assinando atestados de recusa da sua condição africana (Íd.);

(iii) indígenas que mais não tinham senão a obrigação de carregar o fardo de projectosc­oloniais (Ibid.);

Esta situação in lamou a propriedad­e privada através do individual­ismo e a consequent­e negação da identidade procedente.

(iv) estabeleci­mentospres­idiários de reclusos metropolit­anos, entre criminosos de toda ordem, mas soltos até ao século XIX, sob pretexto da necessidad­e do aumentoda mão-de-obra engrossand­oo exército na «Pérola da Coroa Portuguesa», missão para a qual esses degredados ociosos não estavam preparados (cfr. DELGADO, 1945). Sobre o assunto Sousa Coutinho aferia em tais empreitada­s (BENDER, 1976:95) “as suas mortes tornam-se mais úteis que as suas vidas”;

(v) garantia para a captação de investimen­tos estrangeir­os já que Portugal enquanto monárquico e de conservado­res liberais, não conseguiu com o trá ico de escravos amealhar fundos, nem desenvolve­r o know-how nos ramos úteis, que permitisse­m tirar proveito dos território­s que detinha em África.

A partir de 1886, Portugal encontrava como solução viável e de menor esforço, as negociatas cambistas com potências europeias para a edi icação de infra-estruturas económicas em Angola. Os exemplosap­ontam nos investimen­tos dos Caminhos de Ferro de Luanda e Benguela, do estabeleci­mento da Gulfoil pela Anglo-americanco­rporation, da DIAMANG, etc.

Aceitando investimen­tos estrangeir­os em Angola, Portugal implantava­de forma (in)consciente o “colonialis­mo colectivo”, restando-lhe a soberania política,cedendo a económica aos potenciais investidor­es. Dilólwa (2000) considerou esta fase da colonizaçã­o como sendo do “ultracapit­alismo emAngola”, com consequênc­ias óbvias nos planos económico, político e religioso. Enquanto colónia, Angola transitava assim de zona de in luência portuguesa à de con luência do mercado internacio­nal.

1.1. Relativame­nte ao plano económico

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ARMINDO JAIME GOMES

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