BENGUELA QUADRICENTENÁRIA
As terrasas que hoje correspondemcespondem a cidade quadricentenáriaquadricicentenária de Benguela foramam desde a Pré-PHistória um ponto de confluênconfluên-onfluênciacia de povospo e de disputas territoriaisterritoriais.iais. Benguelaenguela actualac tem origem na antigatiga feitoriaia e sede da capitania fundada em 1617 por Manuelanuel CerveiraC Pereiraa que em 17 de Maioaio do mesmo ano desembarcoudesembarou na Baía das Vacas,Vacasacas, actual Baía de Santo António.Antónioónio.
A cidade quadricentenária de Benguela localiza-se na costa Oeste do continente africano, no território de Angola, a sul da capital do país, Luanda. É a sede capital da província com o mesmo nome.
Está implantada na Baía de Benguela a qual Diogo Cão deu o nome de “Angra de Santa Helena” em 1483 e é banhada pelo oceano Atlântico em toda a sua extensão. Situa- se entre o paralelo 12° 34’ 17’’ hemisfério austral e o meridiano 13° 22’ 30’’ Leste de Greenwich.
A grande maioria da população pertence ao grupo etnolinguístico Ovimbundu, que é de etnia bantu, de diferentes subgrupos - Mudombe, Muhanha, Nganda, Lumbo, Quilengues, Mukuandos... - Para além de haver outros grupos etnolinguísticos de diferentes regiões de Angola, tais como: Kimbundo, Nganguela, Galangue, Kuanhama, Bacongo, entre outras.
A cidade de Benguela é um local com uma grande franja de concentração de cidadãos de origem europeia e de mestiços, quer resultante da miscigenação com a população nativa, quer com a de origem cabo-verdiana.
Portanto, actualmente, a população do município de Benguela é diversi icada e miscigenada, sendo a sua distribuição bastante in luenciada pelo potencial de actividades económicas existentes, havendo diversidade de idiomas, sendo o mais falado o Umbundo, porém, com a Língua Portuguesa como principal instrumento de comunicação, de socialização, de educação e instrução para todos.
O clima de Benguela é tropical árido, influenciado pela corrente fria de Benguela e a sua temperatura média anual é de 24 º C, tendo duas estações do ano, o Verão, que vai do mês de Agosto/ Setembro ao mês de Abril/ Maio, sendo também o período de chuvas que variam a sua intensidade e a sua frequência, e o tempo Seco, ou tempo do cacimbo ( Inverno), que vai do mês de Abril/ Maio ao mês de Agosto/ Setembro, sendo um período húmido e frio.
A fauna do município de Benguela é sobretudo de pequeno porte devido, fundamentalmente as massas humanas socializadas concentradas por toda a parte. Porém, há que destacar-se o insecto “matirindinde” que habita o capinzal verdejante quando cessa o período chuvoso.
Breve história de Benguela e enquadramento urbanístico inicial.
As terras que hoje correspondem a cidade quadricentenária de Benguela foram desde a Pré-História um ponto de con luência de povos e de disputas territoriais. Os vestígios arqueológicos achados em vários pontos do espaço territorial demonstram a existência de antigas comunidades conhecedoras do fogo, que sempre que a corrente fria de Benguela jogava para as praias algum cretáceo, os homens juntavam-se para se alimentarem.
Com as descidas do nível do mar, há cerca de quinze mil anos, chegaram aos antigos pântanos no actual cavaco povos nómadas (khoisan) que por lá deixaram o seu rasto. Por essa altura, provavelmente terão, também, vindo por essas terras os Mucuissis.
Vai ser por volta do século XIV que se inicia a disputa dos territórios da região, incluindo o da cidade de Benguela, e aparecem vindos do Planáltico da Ganda e do Cubal, os Mundombes. Mais tarde chegam os Muganda e depois chegam os Ovimbundu que se ixam na costa a norte de Benguela actual – entre o Egipto Praia e Porto Amboim -, obrigando os Mdombes e os Mucuissis a irem mais para sul. Vão ser esses povos que presenciam a chegada do primeiro português – Diogo Cão - em 1483 na Baía de Benguela: Angra de Santa Helena.
Benguela actual tem origem na antiga feitoria e sede da capitania fundada em 1617 por Manuel Cerveira Pereira que em 17 de Maio do mesmo ano desembarcou na Baía das Vacas, actual Baía de Santo António, a sul da cidade, tendo- se fixado num terreno plano e alagadiço, percorrido pelo rio Coringe e limitado a norte pelo rio Walo mais tarde designado de rio Marimbondo e até actualmente de rio Cavaco.
Os assaltos dos holandeses, ocorridos em 1639 e 1645, lagelaram a pequena feitoria, que icou em seu poder entre 1645 e 1648. Assaltada e saqueada por corsários franceses em 1704, icou praticamente em ruínas até 1710. Sofreu ataques dos sobas vizinhos entre 1718 e 1760.
Em 1779 a capitania-mor de Benguela (a actual cidade) passou a capital de distrito, no tempo do governador Sousa Coutinho.
Com a independência do Brasil, a proibição do trá ico e a retirada de negociantes da cidade, Benguela atravessou um período di ícil. A criação da câmara, em 1835, dinamizou a vida dos moradores e na década de 1840 a cidade recuperou do marasmo anterior, reconstruindo o que estava em ruínas.
Em 1845 tinha uma escassa população de cerca de 2.400 habitantes, dos quais mais de um terço eram escravos, sendo os outros tra icantes, soldados e africanos livres.
Em 1877, a vida dos habitantes continuava a depender essencialmente da actividade comercial, que configurou espacialmente os distintos bairros de Benguela.
As relações comerciais de Benguela com distantes regiões do interior haviam feito surgir “espaçosos armazéns” cheios dos mais variados produtos do sertão.
Sendo muito heterogénea a população que nela habitava, Benguela era caracterizada por fortes contrastes sociais e culturais, assinalados no espaço urbano de modo bem visível.
Assim, os bairros onde vivia o “gentio” eram compostos por vielas tortuosas ladeadas de palhotas à mistura com vastos quintais cercados de muros altos, que interceptavam o calor e a luz, onde se acumulavam centenas de africanos vindos do sertão.
O comércio de Benguela atravessou no início do século XX um período de reestruturação em busca de novos produtos e mercados, durante o qual foram abertas novas vias de escoamento, em boa parte devido à construção do caminho- de- fer- ro até à fronteira leste.
Até meados do século XIX, a cidade organizava-se junto do forte, dispondo-se as casas de adobe dos tra icantes europeus e africanos.
Em 1764, iniciara- se uma fase de renascimento urbano com a governação de Sousa Coutinho, que dotou Benguela de importantes edifícios públicos.
O Senado da Câmara teve as suas primeiras instalações erguidas em 1772, na rua da Alfândega, a principal artéria da cidade comercial. O primeiro Hospital Real funcionava desde 1674, num grande edi ício estreito e comprido de um só piso elevado acima do solo, restaurado em 1773, situado no talhão onde mais tarde foi construído o Palácio do Comércio.
Apesar das obras efectuadas, o aspecto da cidade continuava a ser confrangedor, cheia de capinzais e longos muros, áreas pantanosas na estação das chuvas e mosquitos.
À acção camarária icaram a dever-se medidas de saúde pública: aterro de pântanos, construção do cemitério, arborização, limpeza das ruas e largos, a regulamentação do mercado, análise das águas do Cavaco, do Catumbela e das cacimbas.
Porém, na década de 1880 a “cidade branca” era já descrita como “gracio-
sa, ampla, com longas avenidas arborizadas, um formoso jardim, espaçosas praças muito limpa e regularmente iluminada”. Os habitantes preferiam, contudo, o passeio junto à praia morena, onde soprava à noite uma brisa pura e fresca do mar, ou no Passeio Público, uma bela alameda de acácias rubras (100 x 125 metros), na estrada para o Cavaco.
O crescimento da urbe ocorrera ao longo de 1.750 quilômetros na frente marítima e dois quilômetros para o interior, atingindo uma área total de 3,67 quilômetros quadrados onde os poderes públicos haviam efetuado vários melhoramentos, como novos aterros sanitários, instalação de uma linha telefônica para a Catumbela (1886), construção das pontes férreas sobre o Rio Cavaco e o Rio Catumbela, da nova residência do governo, do mercado e o restauro de construções antigas, como o cemitério.
A condução da água do Cavaco até aos chafarizes públicos foi instalada na década de 1890, enquanto a luz elétrica só iluminou Benguela em 1905.
Na sua malha irregular de talhões amplos, ruas muito largas, extensas e arborizadas, erguiam-se cento e dezoito casas térreas de adobe, e só a residência do governador tinha sobrado (actual ciclo velho).
Com a prosperidade comercial nas últimas décadas do século XIX, os mais ricos negociantes construíram diversos “sapalalos”, casas de sobrado com primeiro andar.
Entretanto, nos bairros africanos existiam cubatas de adobe e de pau- a- pique barreadas e cobertas de capim, desalinhadas e rodeadas de vegetação.
Estes bairros ou “partes” de Benguela rodeavam o núcleo central onde tinha lugar a permuta, a Quitanda, praça quadrada com armazéns em volta, o açougue, tabernas e pequenas tendas.
Através das plantas de 1900 e 1939 e do plano de urbanização de 1948, pode constatar- se o acelerado crescimento urbanístico de Benguela. A planta de 1900, por Alves Roçadas, revela a configuração mais regular da cidade e suas artérias e largos principais.
A planta de 1939 evidência a nova fase do urbanismo colonial dos anos 1930, quando o caminho- de- ferro e a instalação de empresas agrícolas e piscatórias fizeram afluir os assalariados africanos e europeus, e a população urbana ascendeu a cerca, requerendo novas medidas de saneamento, a construção de novos bairros, como o Bairro Indígena, e novas estruturas viárias.
Mas nos inais dos anos 1940, a cidade de Benguela perde importância face ao Lobito e ao desenvolvimento de Nova Lisboa. Porém, a condição de capital de distrito e pólo de desenvolvimento regional assegurou a Benguela ser a mais importante cidade do sul de Angola. Além disso, o sisal e as pescas, assim como uma contida indus- trialização, reanimaram-na a partir da década de 1930, e asseguraram o seu crescimento demográ ico em 1950.
No ano 1955 a cidade de Benguela, hoje município, converteu-se de initivamente na capital do Distrito de Benguela, no Governo de José Maria de Lima e Lemos o 266º Governador do Distrito que se tornou no principal impulsionador do processo de urbanização da cidade do ano 1949 a 1959.
Nos anos 1960, a cidade atingiria os 30.800 habitantes, como re lexo do aumento de trabalhadores do setor industrial em plena expansão. Cidade erguida sobre os pilares de uma mestiçagem cultural, com os espaços públicos e edi ícios de longas varandas cobertas e quintais interiores.
A cidade que hoje é o município de Benguela é conhecida como ”Cidade mãe das cidades” que fez nascerem outras localidades, tais como: Catengue, Caimbambo, Cubal, Ganda, Alto Catumbela, Quinjenje, Cuma, Longonjo, Lepi, Caála e Huambo.
O trá ico de escravos negros na feitoria de Benguela
Com a chegada e ixação dos portugueses na cidade de Benguela no século XVII, (1617) instalam-se militares e tra icantes de escravos provocando a animosidade da população local.
O Local vai se transformar numa importante base de penetração para o interior de Angola. Posteriormente, São Filipe de Benguela tornou-se num grande centro de tráfego de escravos, sendo recorrentes nos primeiros séculos as hostilidades contra os europeus. Com efeito, o objetivo destes era adquirir mão-de-obra escrava para as plantações na América.
O trá ico de escravos na feitoria de Benguela que tinha o seu porto de escoamento no litoral (actual paia morena), era processado por umas dezenas de comerciantes brasileiros e portugueses, com os seus parceiros africanos, atingindo no século XVIII o período mais devastador.
Segundo a Historiadora Cândido M. P. (2011) entre 1780 e 1850 Benguela converteu- se no principal centro de comércio de escravos, tendo sido nesse período, retirados mais de 499.000 negros. Ainda se refere que entre 1700 e 1750, o número de escravos exportados de Benguela ascendia a 22.596, entre 1751 e 1800, pelo menos 305.057 escravos zarparam do porto de Benguela, tendo a maioria desembarcado em terras do continente americano de entre os quais o Río de Janeiro e Bahía e outros de expressão espanhola. Esse facto teve grande impacto na população nativa de Benguela, assim como no seu interior e ainda naqueles lugares do con- tinente americano para onde foram levadas a força as pessoas “provenientes de Benguela”.
O efeito de comércio de escravos criou situações demográ icas alterando as relações sociais, o próprio cenário político e a actividade econômica, pois centenas de milhares de escravos africanos foram exportados para as Américas desse porto.
Benguela da actualidade
As alterações político-administrativas ocorridas depois da Independência de 1975 mantiveram, até agora, a antiga cidade de Benguela como a sede da província, onde estão a ixados os principais órgãos do Estado e governamentais provinciais, continuando a manter um lugar de destaque em termos econômicos, sociais e culturais do país, jogando um papel estratégico, devido à sua posição geográ ica, potencialidades agrícolas e à existência de infraestruturas muito próximas co-
mo os Caminhos-de-Ferro de Benguela e o Porto do Lobito.
Com a paz efectiva desde 2002, temse procurado investimentos públicos e privados para programar projectos de reabilitação e de desenvolvimento do município em todas as vertentes: habitacional, energético, infraestruturais de diversos sectores, estradas, ruas, avenidas, jardins...
A cidade de Benguela é um importante centro urbano de Angola, centro de desenvolvimento comercial e industrial, de atracção turística, além de dispor de uma importante comunidade cultural. As ruas e avenidas são largas e espaçosas, povoadas de acácias rubras e é famosa pelas suas maravilhosas praias.
A cidade de Benguela é constituída por uma vasta zona asfaltada que comporta edifícios antigos e modernos de entre os quais prédios, vivendas residenciais e uma série de estruturas de prestação de serviços diversos, públicos e privados, que servem a comunidade. Possui ainda, jardins públicos, alguns deles que datam do século XIX e uma série de parques de estacionamento. Possui, também, uma vasta zona periférica composta por bairros antigos e recentes com sua gente e suas histórias, todos ligados ao centro por estradas e ruas internas que unificam todo o território do município.
A cidade tem uma zona nobre que é a Zona Histórica, essa que se localiza junto à orla marítima, podendo destacar- se a conhecida Praia Morena com as suas águas límpidas e azuis, um vasto calçadão iluminado. Tem cerca de um quilometro de areal que se estende em direcção norte com antigas e verdejantes árvores de casuarinas à sombra das quais se sentam os visitantes para arejarem- se em tempos quentes.
Ainda ao longo da costa destaca-se a Praia das Tombas, a sul, frequentada por marinheiros e comerciantes de pescado desde o raiar do dia ao anoitecer, onde se localiza ainda a velha ponte cais de betão, construída nas últimas décadas do período colonial.
Ainda mais a sul do centro da cidade localiza-se a Praia “Baía de S. António” a “Praia da Caota” e a “Praia da Caotinha” que em poucos anos deixaram de ser apenas locais de lazer à beira-mar para se converterem em localidades de actividades pesqueiras e habitacio- nais com vivendas e casas luxuosas rodeadas de montanhas argilosas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Câmara Municipal de Benguela (?), “Roteiro Turístico de Benguela”. Porto, Portugal.
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Monogra ia da província de Benguela (2007), CONSULT, Benguela.
Segundo o historiador, escritor e editor Armindo Jaime Gomes, a origem da palavra Benguela provém “Do étimo mbenga, Benguela é a corruptela do verbo “okuvenga” da língua umbundu; okuvengela (sujar) /okumbengela ovava (sujar-me a água), relativamente às águas estagnadas e em língua portuguesa é entendido como turvar, turvar-se, perturbar, alterar, transtornar, escurecer, embaciar, nublar, enuvear (Pe. Alves, A., 1951). Evoluído de “mbengela”, a toponímia passou a signi icar perda de transparência, de limpidez, de clareza, perturbação, fazer perder a razão, cobrir o céu de nuvens, situação confusa, inde inição (op. cit.). Apesar de fazer parte da onomástica planáltica, a exemplo de Katombela, Mbaka, Kakonda, Civangulula, etc., a versão popular admite que o topónimo tenha resultado da distorção linguística nos primeiros contactos entre os portugueses e ambwi. Em vez do nome da região que se pretendia saber, os intrusos receberam a justi icação da turvês das águas lacustres e luviais.”