DIA MUNDIAL DA DANÇA MENSAGEM DA COMPANHIA DE DANÇA CONTEMPORÂNEA DE ANGOLA
dança, considerada uma das mais antigas manifestações humanas, constituiu nos seus primórdios uma expressão natural de sentimentos e de estados. Porque o espaço geográfico e os contextos sociais, culturais e temporais influem na sua essência e diversidade, a dança foi, ao longo dos tempos, explorando o seu campo semiótico, experimentando um poder interventivo de grande relevo social. Os novos desafios a que se propôs posicionam- na hoje num lugar de destaque entre as outras formas de Arte.
Organizada de acordo com os seus distintos campos de acção, ela existe hierarquizada numa multiplicidade de categorias e de géneros, nas suas vertentes patrimoniais, rituais, terapêuticas, lúdicas ou cénicas ( profissional). Esta última, integra a dança clássica, moderna, contemporânea, teatro dança, t- dance, que vão surgindo integradas nas novas correntes artísticas ou fusões entre diversas linguagens. A dança não exclui outras formas como as danças sociais, as chamadas street dances ou mesmo a dança inclusiva que se revelou uma forma de integração da diferença.
Muitos foram aqueles que, ao longo da história contribuíram para o desenvolvimento da dança, tendo a UNESCO, escolhido Jean- Georges Noverre, dada a importância do seu legado. A 29 de Abril de 1727 nascia aquele que viria a ser o grande responsável pela profissionalização e autonomia da Dança enquanto Arte. De espírito contestatário e incompreendido pelos seus contemporâneos, este coreógrafo francês criou o ballet d’action, dando à dança um novo estatuto, com conteúdos próprios, acção, enredo e um conjunto de normas e de princípios. As suas reformas passaram também pela obrigatoriedade de formação dos bailarinos e dos coreógrafos, com o estudo de diversas disciplinas complementares como a poesia, a história, a geometria, a pintura, a música e a anatomia, entre outras. Foi, inquestionavelmente, Noverre que deu à dança cénica os parâmetros com que chegou aos nossos dias, sendo uma das mais exigentes formas de expressão artística.
Trabalho aproximado foi levado a cabo em Angola pela Companhia de Dança Contemporânea de Angola, uma das primeiras companhias do género a surgir em África. Numa acção pioneira em Angola, introduziu novos conceitos, desenvolvendo diferentes abordagens e novas estéti- cas. A CDC Angola apontou, pela primeira vez na história do nosso país, um outro rumo e um outro estatuto para a dança angolana. Apesar das dificuldades decorrentes do choque provocado por aquilo que é diferente e desconhecido, mas sem nunca desistir, escolheu o trilho arrojado da abertura e da inovação, sustentando a dança na sua disposição intelectual de intervenção e modificação.
Há 25 anos a mostrar que Angola pode e deve integrar o movimento contemporâneo universal das Artes, esta companhia tem sido reconhecida como um instrumento basilar de diplomacia, acreditando contribuir para que o Mundo olhe para África com maior grandeza. Para o efeito, defende o profissionalismo como único caminho para a qualidade e progresso das artes em Angola.
Mas, apesar de todos os esforços efectuados durante séculos, ainda hoje ( em alguns países mais do que noutros), esta expressão artística é olhada de forma redutora e limitada ao plano da recreação. Não existe uma verdadeira noção quer do papel social, quer do trabalho e do sacrifício que as profissões da dança compreendem. Efectivamente, além dos cerca de 8 anos de formação, o bailarino, tal como um atleta “feroz” e “insaciável”, dedica toda a sua vida à carreira, num caso singular de constante aprendizado e permanente desafio. Apesar da manutenção do corpo que garante a qualidade da sua prestação técnica, ele tem de possuir capacidades inatas, ao que se acrescentam outras valências como a sensibilidade artística, uma cultura abrangente, conhecimentos musicais ou mesmo o ouvido apurado, sendo fundamental um olhar crítico e a atenção ao que se passa em seu redor.
Embora a carreira de bailarino seja relativamente curta, dado o desgaste físico e psicológico, existem outros profissionais, como o mestre de dança, o ensaiador ou o coreógrafo que são fundamentais para garantir a qualidade, a continuidade e a visibilidade aos que dançam. E é a eles, aos “invisíveis” mas indispensáveis de todos os países do Mundo que este ano a CDC Angola dirige a sua vénia. Saudações coreográficas!