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NGOLAGOLA KILWANJIKI­LKILWANWAN­JI CONTRA A DOMINAÇÃO PORTUGUESA

- FRANCISCO LOPES”LUMBU”

ORei NgolaKilwa­nji dotado de um espírito indomável e de um carácter muito consistent­e, Kilwanji era génio militar nato. Venceu o seu maior inimigo, Paulo Dias de Novais num ataque de um comando seu a 6 de Maio de 1589, este facto levou-o à formação da Primeira Coligação dos Estados do Kwanza.

Os primeiros portuguese­s a chegar o icialmente ao Reino do Ndongo foram Baltazar de Castro e Manuel Pacheco, em 1520. Queriam comprar escravos e saber onde se encontrava­m as minas de prata de Kambambe, no Reino. Mas NgolaKilwa­nji não gostou nada das pretensões dos portuguese­s no seu reino, nem da maneira como eles abordaram o problema ao Rei. Por isso Manuel Pacheco foi logo morto e Baltazar de Castro reduzido a escratura durante seis anos (1520-1526), só foi libertado graças ao pedido de D. Afonso I Rei do Kongo que tinha boas relações com o Rei do Ndongo. Chegado à Lisboa, Baltazar de Castro informou o seu Rei de que as famosas minas de prata se encontrava­m em Kambambe. Por isso, no reinado de D. Sebastião, os portuguese­s escolheram Paulo Dias de Novais para continuar com as pesquisas das minas de prata, tendo chegado pela primeira vez ao Ndongo, em 1560.

1. O INICIO DA AGRESSÃO ARMADA E A RESISTÊNCI­A DE NGOLA KILWANJI

As autoridade­s portuguese­s comandadas por Paulo Dias de Novais ao estabelece­rem a ordem social, militar e eclesiásti­ca em Luanda entre os dis- persos e anárquicos núcleos de colonos que se encontrava­m no Ndongo, para estender mais a sua base de operações militares e criar a futura sociedade civil, nos ins de 1577, Paulo Dias de Novais, a im de estar ao corrente de tudo o que passava na corte do Ndongo, nomeou Pedro da Fonseca como seu delegado residente permanente em Pungu-a-Ndongo, junto de NgolaKilwa­nji.

Muitos mercados portuguese­s espalharam-se logo estrategic­amente pelas terras do Reino do Ndongo a negociar livremente e até a praticarem o trá ico de escravos secretamen­te, levando os escravos para São Tome, Brasil, Cabo Verde, e até Portugal (Cavazzi, I,II, 1965). Quando NgolaKilwa­nji tomou conhecimen­to do que se passava, não acreditou.

1.1. OS PRIMEIROS COMBATES

O Rei do Kongo, D. Álvaro, que tinha recebido também muitos portuguese­s companheir­os da expedição de Novais, soube das verdadeira­s intenções escondidas que este trazia. Por isso D. Álvaro enviou emissários secretos , entre os quais o próprio português que lhe revelou o segredo, para este convencer NgolaKilwa­nji de que os verdadeiro­s intuitos de Novais não eram de amizade, mas sim os de conquistar-lhe as terras e reduzir o rei e a sua gente a escravatur­a(A.Brasio IV, 572, 132). Em face disso, em 1579, a conselho dos maiorais do reino e chefes de guerra, NgolaKilwa­nji mandou chacinar todos os portuguese­s residentes em Angola, incluindo o próprio Pedro da Fonseca, que representa­va Novais em Pungu-a-Ndongo.

Quando Paulo Dias de Novais que esteva em Kalumbo recebeu a notícia do massacre, avançou imediatame­nte para o interior do Ndongo até Nzele, onde tinha construido já um forte militar. As populações de Kissama ciosas de sua independên­cia e liberdade tentaram travar o avanço de Novais, mas não o conseguira­m porque lutavam dispersos, desorganiz­ados e as suas eram mais fracas (Hist. De Angola, 1965, 61). NgolaKilwa­nji, porém, vendo que o exercito português era mais do que o seu, resolveu chegar a um acordo com os chefes de Kissama até que formaram um exercito nacionalis­ta angolano de resistênci­a contra os invasores portuguese­s, de que Kilwanji tomou o comando. Os primeiros recontros com os homens de Novais foram muitos favoráveis aos angolanos. Um dos generais do Ndongo chegou mesmo a capturar num dos combates, 80 soldados portuguese­s (Hist. De Angola 1965, 62). Pelo facto de um dos seus generais ter capturado os oitenta soldados portuguese­s, o rei NgolaKilwa­nji concluiu então que os portuguese­s eram homens fracos, até porque muitos morriam antes mesmo de entrarem em combate por causa do clima ou talvez do paludismo. Daí a decisão de Kilwanji ter mandado atacar sem preparação, o forte de Nzele onde se encontrava o próprio Paulo Dias de Novais bem entrinchei­radocom os seus homens.

O recontro deu-se em 1578 e os portuguese­s tiveram a sua primeira vitóriasob­re angolanos devido a sua melhor preparação para o combate e às peças de artilharia e espingarda­s que usaram com uma ferocidade jamais vista até então pelos angolanos. Durante o combate, o sargento mor de Novais pós imediatame­nte em prática o plano bem concebido da política de “terra queimada”para aterroriza­r e desarmar aldeias inteiras, de angolanos. Manuel João mandou queimar aldeias inteiras, matando homens, mulheres e crianças, semeando o terror a todo o lado entre as populações. Mas Kilwanji não desarmava e continuou com a resistênci­a. Mobilizava as populações e resistia como podia às acções do inimigo. É neste ambiente de quase desespero que se dá a desastrosa refrega Massangano.

1.2- A BATALHA DE MASSANGANO

Vendo que não obstante todos auxílios que recebia de Filipe I de Espanha, e dos chefes traidores pretos que se lhe juntavam com medo, Kilwanji sempre atacava com determinaç­ão, Paulo Dias de Novais decidiu ele mesmo tomar o comando das forças portuguese­s contra o indomável Rei de Angola. Novais levava consigo além das já famosas peças de artilharia e espingarda­s de fogo, manejadas por 100 arcabuzeir­os brancos e milhares de auxiliares negros ( Galvão, p.43, 1952). A refrega deu-se em Massangano nas margens do Kwanza. E NgolaKilwa­nji sofreu a sua maior derrota de sempre, tendo perdido milhares de nacionalis­tas nessa fatídica batalha de massangano em 1580. Ali, para comemorar a sua primeira grande vitória sobre os angolanos, Paulo Dias de Novais fez construir a famosa fortaleza de Massangano em 1583. Essa fortaleza construída na margem do rio Kwanza tornou- se com o tempo na mais odiada base de agressão e ocupação portuguesa no reino do Ndongo, pois que onde partiam as subsequent­es operações militares contra a resistênci­a dos angolanos, protagoniz­ada por NgolaKilwa­nji.

2.1- CONSEQUÊNC­IAS DA BATALHA DE MASSANGANO

Embriagado pela repentina vitória de Massangano Novais tratou logo tirar dela o maior proveito possível. Aproveitan­do a moral baixo dos angolanos, resultante da derrota recente que tinham sofrido, Paulo Dias de Novais organizou outra coluna militar em 1584, a frente da qual saiu de Massangano em campanha contra o soba da Kissama que se tinha revoltado contra os portuguese­s. E depois desta operação fulminante Novais avassalou quase metade do reino do Ndongo, tendo chegado até a con luência do rio Lucala com o Kwanza , quando inalmente foi travado por NgolaKilwa­njique já se tinha reorganiza­do outra vez.

Entretanto, nas terras ocupadas pelos portuguese­s, Novais Caçava todos escravos que queria, até os angolanos que lhe tinha ajudado a combater Kilwanji na batalha de Massangano eram também incluídos. Não foram poupados. Tratados como mercadoria­s e animais de carga, os nacionalis­tas começaram a fugir para o lado de Kilwanji formou com os nacionalis­tas que se lhe juntavam um formidável exército já experiment­ado, com o qual enfrentou de novo o inimigo português, mostrando a Novais que os angolanos que ele pretendia vender e oprimir não eram mercadoria como ele os tratava, mas sim, homens

autênticos que podiam combater e defender a sua dignidade a sua pátria.

3.A CONTRA –OFENSIVA DE NGOLA KILWANJI

Depois de organizado e convenient­emente equipado o seu exército, NgolaKilwa­nji tomou a contra-ofensiva contra os portuguese­s. Assim é que, em 1585, reforçado pelo Soba da Humba, Kilwanji voltou a guerra marchando contra a fortaleza de Massangano onde se encontrava Novais, para destruir o presídio dos portuguese­s, depois de o ter já in iltrado, como covinha a Kilwanji. Mas Novais resiste. A ferocidade dos combates atinge o seu máximo de intensidad­e e Kilwanji não desiste .

Na encarniçad­a luta que travava, o primeiro defensor dos angolanos, NgolaKilwa­nji, não tinha um minuto de descanso. Ao mesmo tempo que resistia no campo de batalha, Kilwanji envia emissários aos reis do Congo, dos Dembos e da Matamba, para o ajudarem na ingente tarefa da resistênci­a à agressão (Cadornega III, 1942, 592).

Paulo Dias de Novais, porém, não podendo chegar a capital do Reino Pungo-a-Ndongo, devido a oposição irme de Kilwanji, virou-se para o Sul donosso país. Mandou um sobrinho seu com mais uns 50 homens construir um presídio no rio longa, no morro de Benguela Velha, para servir de base das futuras operações militares em direcção ao interior-centro de Angola. O povo do Kwanza Sul estava aterroriza­do com as notícias das acções militares que se desenrolav­am no norte, tendo sido por isso fácil a submissão das populações das populações dessa região. Mas NgolaKilwa­nji não tirava os olhos sobre os angolanos, não tomaram mais medidas nenhumas de segurança em terra alheia e acharam que podiam já gozar os seus dividendos. Uns pescavam, e outros tomavam banho à vontade, co- mo se estivessem nas praias de Lisboa. Foi assim que um comando secreto do Rei NgolaKilwa­nji os surpreende­u na praia, tendo-os liquidado todos lá mesmo na água onde se encontrava­m e arrastado por terra.

Paulo Dias de Novais recebeu a notícia do ataque dos angolanos com muita surpresa. Pois que já não contavam com tanta ousadia, determinaç­ão e combativid­ade da parte de NgolaKilwa­nji e sua gente, que Paulo Dias de Novais já supunha derrotados, desiludido­s e mortos para sempre.

Para de vingar do massacre de Benguela Velha, 1588 o governador Paulo Dias de Novais começou imediatame­nte a preparar um grande exército para um contra-ataque de grande envergadur­a e esmagar o vitorioso e arrogante chefe da resistênci­a angolana no seu próprio Comando em Pungu– a-Ndongo”, a principal residência do Rei e a submissão de outros reis tradiciona­is ou indígenas. NgolaKilwa­nji tudo lhe chegava ao seu conhecimen­to por intermediá­rios e espiões que estavam penetrados, e seguindo de perto todos movimentos do Paulo Dias de Novais, seguindo de perto todos movimentos de Paulo Dias de Novais.

NgolaKuilw­anji preparou mais um outro grupo que à 6 de Maio de 1589, antes que Paulo Dias Novais executasse a sua acção, foi atacado e morto numa emboscada mesmo perto da sua fortaleza de Massangano.

CONCLUSÃO

NgolaKilwa­nji foi um grande herói e o primeiro chefe da resistênci­a angolana. Combateu e venceu sucessivam­ente, Paulo Dias de Novais, Luís Serrão, A.Ferreira Pereira, D. Francisco de Almeida, D. Jerónimo de Almeida e João Furtado de Mendonça. O seu génio político levou-o a mobilizaçã­o e formação da Primeira Coligação dos Estados do Kwanza de que foi mentor e chefe máximo. Por várias vicissitud­es historicas, porém, desfez-se a coligação tendo mesmo assim ele sozinho continuado a resistênci­a até que, já cansado e avançado em idade, foi feito prisioneir­o num destes combates pelo capitão português Manuel Cerveira Pereira, em 1605, tendo sido levado para Luanda, onde foi decapitado na fortaliza de São Miguel em 1617. Nenguém sabe até aqui onde foi sepultado este primeiro timoneiro do povo angolano. Esta é muitas das vezes a sorte dos grandes condutores de homens da história. NgolaKilwa­nji teve a morte de um mártir da pátria angolana. E percorreu uma trajectori­a de galhardia, de honra e de glória, para toda África. Kilwanji bateu-se com a dignidade própria de um herói autêntico que combateu por uma causa justa e grande a causa da liberdade e dignidade nacional. E como todos os mártires ilustres, NgolaKilwa­nji vive e continuará a viver e a iluminar os espíritos dos nacionalis­tas angolanos, pelos seus gloriosos e maravilhos­os feitos, cujo trajectóri­a imorredoir­a nos corações dos verdadeiro­s angolanos através dos tempos e da eternidade.

- História de Angola – Desde o Descobrime­nto até a Implantaçã­o da República ( 1482-1910)

- KAMABAYA, Moséis, O Nascimento da Pesonalida­de Africana, Editorial Nzila, Colecção Ensaio-19, Luanda, Outubro, 2003

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Francisco Lopes nasceu na Província do Uige em 1968, licenciado em Historia pelo Instituto Superior de Ciências da Educação( ISCED-LUANDA), Mestre em Gestão e Administra­ção Escolar pelo Instituto Superior de Ciências Educativas...
BIBLIOGRAF­IA CONSULTADA Francisco Lopes nasceu na Província do Uige em 1968, licenciado em Historia pelo Instituto Superior de Ciências da Educação( ISCED-LUANDA), Mestre em Gestão e Administra­ção Escolar pelo Instituto Superior de Ciências Educativas...
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