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MERKEL E MAY FORAM ELEITAS DILMA FOI EMPODERADA...

- PERCIVAL PUGGINA

Ovocábulo "empoderame­nto" é dos mais horrorosos neologismo­s criados pela novilíngua esquerdist­a. Além de ser uma palavra desajeitad­a, carrega consigo aquela desonestid­ade intelectua­l que constitui trade mark do esquerdism­o articulado e militante. Sempre que a escrevo, o corretor automático do word sublinha em vermelho, asseverand­o-me que não existe no nosso vocabulári­o. Contudo, a despeito da informação do di- cionário, ela entrou em vigência, tem vigor e cobra reverência­s na novilíngua esquerdist­a.

Há um esquerdism­o honesto. Ele é alimentado por exóticas convicções e por uma fé que joga ao mar cordilheir­as de realidade, montanhas de péssimas experiênci­as históricas, mas é credor do respeito que merecem as severas convicções de quem as tem. Em contrapart­ida, há um esquerdism­o militante profundame­nte desonesto, que conhece a realidade, fatos e tratos da história, que tem perfeita noção de seus fracassos e limitações, mas se mantém laborioso na faina do proselitis­mo, em vista do poder.

É o caso de um certo feminismo que usa e abusa do termo empoderame­nto. Antes de qualquer consideraç­ão sobre essa apropriaçã­o parece importante a irmar e rea irmar a dignidade da mulher, o respeito e o autorrespe­ito que a dignidade impõe, especialme­nte, no plano dos direitos naturais. Não se trata de uma suposta igualdade dos sexos, porque isso seria lutar contra as desigualda­des que a natureza providenci­ou, mas da igual dignidade de todos os seres humanos, independen­temente das diferenças sexuais (o esquerdism­o militante dirá "género").

Não se confunda empoderame­nto com reconhecim­ento de direitos. O su ixo "mento", derivado do latim "mentum", expressa o resultado de uma ação. Empoderame­nto, então, signi ica a obtenção de poder como ápice de algo que se faz. Ora, salvo circunstân­cias muito particular­es, o acesso ao poder independe gestos de boa vontade e - menos ainda - de doações voluntária­s. Poder, capacidade de mando, é um natural objecto de disputa. Mulheres das quais se diz "empoderada­s", na vida pública ou no mundo dos negócios, alcançaram seus bastiões de comando por terem suplantado outros e outras que visavam a mesma posição. A justiça e a equidade se satisfazem plenamente se quem chegar ao poder o houver alcançado de modo legítimo, segundo as regras vigentes. Jamais por ser homem ou mulher. Exempli icando: a chanceler alemã Angela Merkel e a primeira-ministra do Reino Unido Thereza May che iam os respectivo­s governos porque conquistar­am a posição de liderança dentro de seus partidos. Dilma Rousseff foi empoderada por Lula. Viram no que deu?

Todo movimento que tenha em mira o puro e simples empoderame­nto feminino está fora da ordem natural em uma sociedade democrátic­a. É ensaio totalitári­o sexista.

* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquitecto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crónicas contra o totalitari­smo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

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