LÍNGUASÍNGUAS NACIONAIS E EDUCAÇEDUCAÇÃO AÇÃO FINANCEIRA CEIRA
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INTRODUÇÃO
Considerando a diversidade linguística em Angola, e os objectivos prosseguidos pelo programa de Educação Financeira propusemo-nos reflectir em torno da seguinte questão: serão as línguas nacionais um «constrangimento» para a Educação Financeira em Angola?
Num primeiro momento, tem- se a impressão de que a alegada «pobreza de vocabulários » das línguas nacionais inviabilizaria a transmissão de conceitos económicos como poupança, crédito, etc., que seriam desconhecidos pelos falantes das línguas bantu em Angola. Esta será a razão pela qual elas tenham sido excluídas do referido programa que visa, entre outros, a inclusão financeira de todos os cidadãos angolanos.
Importa esclarecer que esta não é a primeira vez que nos pronunciamos sobre este assunto, pois, uma versão semelhante ao texto que segue foi entregue à quem de direito, há cerca de dois anos, com o propósito de despertar os responsáveis do referido programa sobre a importância das línguas nacionais para a Educação Financeira em Angola.
Por outro lado, não pretendemos de forma alguma descredibilizar o programa em causa. Pelo contrário. Discuti-lo na perspectiva que melhor convier aos especialistas em Ciências Sociais e Letras (História, Antropologia, Linguística, Economia, etc.) poderá trazer outros subsídios que certamente ajudarão a melhorá-lo e a alcançar os seus objectivos.
CONTRA ARGUMENTO
Os defensores da tese acima apresentada alinham no pensamento de que somente por meio das línguas europeias é possível transmitir os conceitos acima citados, e outros conhecidos pelos economistas. Talvez seja este o motivo pelo qual as línguas nacionais tenham sido excluídas do referido programa que, entre outros, visa promover a inclusão inanceira de todos os cidadãos angolanos, independentemente da sua origem etnolinguística, estrato social, etc., etc..
Na verdade, a ideia segundo a qual a "multiplicidade de línguas nacionais" constitui um dos "constrangimentos" para a Educação Financeira em Angola suscita uma breve re lexão sobre um dos períodos da História de Angola – o colonialismo - durante o qual as autoridades coloniais portuguesas, despreocupadas com o desenvolvimento económico-social e cultural dos angolanos, subalternizaram as línguas nacionais que associavam ao "cão" – quali icativo atribuído ao “indígena” pelo colonialista português incumbido da missão de elevá-lo à condição de “civilizado”.
O alcance deste estatuto exigia o cumprimento de uma série de obrigações, dentre as quais a luência na língua portuguesa por meio da qual estabeleciam-se relações de poder e submissão entre “colonizadores e colonizados” (CIPRIANO 2004:16).
Não admira que as chamadas "línguas de cães" (CIPRIANO 2004:16)tivessem apenas expressão nas zonas rurais (KUKANDA 2003:363) que albergavam a maior parte da população angolana excluída do sistema inanceiro aliado à exploração inanceira de Angola, submetida igualmente à dominação cultural.
Ora, com a conquista da independência (1975), e da paz (2002), a expansão dos serviços bancários para as zonas rurais, ainda na sua fase inicial, com vista ao fomento da produção local, urge a necessidade de se pensar na possibilidade de se educar inanceiramente o cidadão na sua língua materna. Mas, será possível alcançar este objectivo?
CONCEITO DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA
A Educação é um processo de transmissão e recepção de conhecimentos e informações úteis para a vida. Envolve comunicação – acto no qual a língua permite a interligação entre o emissor e o receptor da mensagem e a inter- compreensão entre ambos. É também um processo que consiste na difusão, recepção e uso da "informação inanceira de forma mais e iciente e de modo mais adequado"; "contribui [de] modo mais e iciente, para a formação de indivíduos e de sociedades responsáveis, [e] comprometidos com o futuro".
Ora, a transmissão da informação sobre existência de produtos e serviços, pressupõe o domínio da língua local, de uso diário pelo cidadão com o objectivo de se atingir o objectivo principal Educação Financeira: a compreensão da informação veiculada sobre a existência e utilidade dos produtos bancários, suas vantagens e bene ícios para os seus consumidores.
Sendo a educação um processo de interacção focado na transmissão e aquisição de conhecimentos e informação inanceira, a língua local, como veremos, desempenha um papel muito importante na aproximação entre a Banca e os cidadãos que residem nas zonas rurais nas quais se veri ica a ausência dos Bancos Comerciais.
EDUCAÇÃO FINANCEIRA NUM PAÍS MULTICULTURAL
A língua, já o dissemos, é o canal que permite o luxo de ideias e com o qual se transmite a educação; está presente nos processos de produção e promoção dos bens indispensáveis à sobrevivência do homem; reporta factos económicos, como a agricultura, protagonizados pelo homem que além de agente económico é portador de valores culturais.
Na língua umbundu o termo elilongiso traz consigo os sentidos de ensino e aprendizagem, ao passo que a palavra olombongo signi ica dinheiro.
Assim sendo, se ao primeiro termo associarmos o olombongo, teremos a noção/ideia de Educação Financeira.
Este processo ganha uma dimensão cultural consubstanciada na utilização e valorização da língua local que por sinal é o expoente máximo da cultura de um povo; o uso das línguas locais garante a sua sobrevivência no mundo em que o domínio inanceiro se traduz igualmente na imposição das línguas estrangeiras.
Na verdade, os conceitos económicos não são desconhecidos pelos bantus que habitam o território angolano. Os testemunhos linguísticos das comunidades étnicas existentes em Angola, analisados por vários estudiosos (TCHIKALE 2011, RIBAS 2014), sustentam o argumento de que os bantus possuem noção de conceitos económicos como poupança, racionalidade, gestão, etc..
“KASOLEKA OHETA HOKULUKO”
O consumismo desenfreado enten- dido aqui como cultura da gastança terá sido um dos factores que contribuiu para que muitos angolanos não pudessem (1) acumular poupanças, (2) investi-las, por exemplo, na abertura de uma conta a prazo em nome dos seus ilhos para que pudessem usufruir de juros assim que atingissem a idade adulta, ou ainda (3) suprir algumas necessidades.
Assim sendo, apela-se ao indivíduo para que tenha o hábito de poupar os seus recursos inanceiros para que futuramente possa suprir as suas necessidades e resolver outros problemas. Tratando-se de um chefe de família, a observância deste princípio garante a cobertura das despesas ligadas a alimentação, vestuário, formação escolar dos ilhos, e não só, pois, “ia ‘ixi: «ngidia, ngizekesa, nzala ienda kimenemene»”. Ou seja, “quem guarda previne-se” (RIBAS 2009:180).
“KʼOLOMBONGO KAKULI UKAMBA”
A obtenção de um crédito dentro de um prazo curto – objectivo prosseguido por muitos cidadãos - é um facto que em alguns casos decorre da ajuda do amigo que, na qualidade de trabalhador de um banco, agiliza o processo cuja conclusão se materializa com a concessão do valor solicitado.
A tendência do bene iciário será de, em alguns casos, pensar que o empréstimo lhe fora concedido pelo amigo, esquecendo-se do compromisso assumido com o Banco no qual este trabalha. Neste caso, a relação privilegiada que o cliente mantêm com o seu amigo não pode ser motivo para que ique acomodado, isto é, sem pagar as prestações, convencido de que o seu amigo usará a sua «in luência» a seu favor. Dívida, é valor que tem que ser pago. Eis o motivo pelo qual se diz que “amigos, amigos. Negócios à parte”(TCHIKALE 2011:73).
“MONA UA KINEMA, MAMA NI TATA U-UM-IJIA”
O negócio assemelha-se ao bebé cujo crescimento e desenvolvimento é garantido pelo cuidado que lhe forem dedicados pela mãe. O princípio aplica-se ao negócio que registará crescimento apenas se for gerido pessoal e directamente pelo seu dono.
Uma gestão rigorosa, séria e pro is-