Jornal Cultura

“ÉCOLE DE PEINTURE” TEMPLO DE CULTUCULTU­RA

A École de peinture (Escola de pintura, em português) de Poto-Poto, situada no centro da capital de Brazzavill­e, é, com certeza, a expressão da pintura congolesa. Criada em 1951, ela fica no bairro homónimo e conserva sua tradição graças à habilidade orig

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A École de peinture de PPoto-oto-Poto, situada no centroo da capital de Brazzavill­e,Br é, com certeza, a expressãoe­ssão da pinturapin congolesa. Os princípios­incípios estabeleci­dos pelo fundador da escola, o matemático­o e pintorpin Pierre Lods, eram utilizar a artee moderna para representa­r contos,, lendas e tradiçõest­r africanas, ou seja, criaçõesõe­s artísticas­artísticas a partirpar da herança cultural do CCongo.ongo.

Os princípios estabeleci­dos pelo fundador da escola, o matemático e pintor Pierre Lods, eram utilizar a arte moderna para representa­r contos, lendas e tradições africanas, ou seja, criações artísticas a partir da herança cultural do Congo, se baseando na utilização das cores, vivacidade do povo e música como forma de energia. Os trabalhos da escola foram, logo de cara, reconhecid­os internacio­nalmente por focarem em representa­r o quotidiano e momentos tradiciona­is da sociedade, como cenas em mercados, bailes de máscaras, cerimónias de iniciação etc.

Apesar da repetição temática, a diversidad­e expressiva entre os artistas ganhou destaque. Os pintores se preocupava­m em não infringir os princípios apontados por Lods, criar constantem­ente obras inovadoras. Com originalid­ade, cada artista despejava a própria realidade na ponta de seu pincel e muitas vezes se baseavam tam- bém na tradição dos ancestrais. Os temas, ainda que fossem os mesmos, re lectiam perspectiv­as distintas e apresentav­am pinturas antes jamais vistas no mundo da arte.

Pierre Lods lançou o projecto em 1951, depois de descobrir uma pintura de um dos funcionári­os que trabalhava em sua casa, Felix Ossali. “Eu nunca tinha visto nada como aquilo nas artes africanas, as pinturas dele eram inegavelme­nte ‘negras’ e surpreendi­am pela grandeza e pela magia que emanava delas”, a irmou Lods, que começou a estimular jovens sem formação e sem experiênci­a a criarem pinturas a partir de suas vivências no mundo, por meio de objectos tradiciona­is como máscaras, esculturas, provérbios e poesias da África.

A impressão positiva das obras de Ossali fez do artista um dos símbolos da École de peinture de Poto-Poto, por retratar cenas marcantes do quotidiano da África e levar os trabalhos, ao lado de outros artistas, para o MoMA (Museu de Arte Moderna) de Nova Iorque, em 1956. Foi Felix Ossali quem inaugurou um dos estilos mais marcantes da escola, o estilo “Mikeys” ou “Miké Miké”, caracteriz­ado pela utilização de tinta guache em cores luorescent­es e pelas impressões artísticas e lúdicas do dia a dia no Congo. A grande ascensão do “Mikeys” aconte- ceu entre 1950 e 1954 e sinais desta técnica estão até hoje presentes nas obras dos pintores contemporâ­neos, como o talentoso Gotène.

No entanto, em 1960, a instituiçã­o começa a viver um período de crise. Pierre Lods deixou Brazzavill­e para ir ao Senegal, a convite do presidente Léopold Sédar Senghor, onde eles criariam uma escola de pintura com o mesmo espírito de Poto-Poto. Em consequênc­ia disso, as ajudas do governo francês, que até então inanciavam o projeto, foram canceladas. Durante alguns anos, a força criativa da École de peinture de Poto-Poto resistiu, por meio da organizaçã­o de exposições feitas pelos artistas e dirigentes da escola, mas acabou sucumbindo às pressões das guerras civis e da crise dos anos 90, marcados por roubos, estragos nas obras e exílio de artistas.

Apesar dos episódios dolorosos, os pintores de Poto-Poto se reuniram e conseguira­m recuperar as energias, trazendo mais tarde a organizaçã­o de volta à activa. Juntos, transforma­ram a escola em uma cooperativ­a ao oferecer parte do bene ício das vendas aos artistas e a outra percentage­m a um caixa comum da escola, para cobrir os gastos quotidiano­s, motivando assim ainda mais a permanênci­a e aderência de novos alunos, que de outra maneira podem encontrar di iculdades de se inserir no mercado e lucrar com a arte. Actualment­e, ao todo, a escola possui 15 professore­s, cerca de 30 alunos e está sob a direcção de Pierre Claver Gampio. A formação na cooperativ­a geralmente dura três anos e a cooperativ­a é aberta a todos os públicos, sem distinção de idade, não exigindo do aluno qualquer conhecimen­to em pintura ou práticas anteriores.

Diversos pintores que possuem reputação internacio­nal se formaram por esta escola, como Marcel Gotène, François Thango, François Iloki, Philippe Ouassa, Joseph Dimi, Nicolas Ondongo, Jacques Zigoma, Eugène Malonga e Laurentine Ngampika, que foi a primeira congolesa a ser tornar pintora pro issional. Depois dela, outras mulheres descobrira­m seus talentos artísticos na École de peinture de Poto-Poto, como por exemplo, Nadine Alouna e Annie Moundzonta.

Hoje, a escola é reconhecid­a por grandes instituiçõ­es como o Centre Internacio­nal de Civilisati­on Bantoue (CICIBA) e a Organizati­on des Nations Unies pour l’Éducation, la Science et la Culture (UNESCO). Em 2002, na 7ª Bienal de Brazzavill­e, a UNESCO concedeu a medalha Picasso à École de peinture de Poto-Poto. Hoje, as obras deste templo lendário da pintura estampam paredes de grandes galerias de arte no Congo e pelo mundo.

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