REENCONTRAR O PASSADO DA ÁFRICA
1. No artigo 7º da Carta do Renascimento Cultural Africano, podemos ler que “... a História Geral da África publicada pela UNESCO constitui uma base válida para o ensino da história da África e (os Estados Africanos) recomendam a sua ampla difusão inclusive em línguas africanas e recomendam ainda a publicação de versões abreviadas e simpli icados (...) para o público em geral”.
Imbuído deste dever, o jornal Cultura, a partir de hoje, abre este canal à transmissão do nosso passado comum, começando a publicar extractos da História Geral da África.
Seleccionamos o texto do Capítulo 2, do Volume 1, Metodologia e pré História da África, elaborado pelos mestres Boubou Hama e Joseph Ki Zerbo, intitulado Lugar da História na sociedade Africana, que sai na página 10, desta edição.
2. Aquando do 50.º aniversário da OUA/UA, os Chefes de Estado e de Governo africanos rea irmaram, relativamente à Identidade e ao Renascimento Africano, o desejo de “promover e harmonizar o ensino da História de África, dos valores e do Pan Africanismo, (...) como forma de promover a identidade e o renascimento africanos”.
Uma mensagem chave, no âmbito cultural das celebrações do Jubileu, denominou-se “Orgulhosamente Africano!”, e visava motivar e animar a população africana a ter orgulho da nossa identidade na diversidade, fortalecer os vínculos entre pessoas e unindo-se para a África que nós queremos.
Nós, cujo poder de in luenciar reside na palavra deste humilde jornal, damos este pequeno mas signi icativo passo pan-africanista porque veri icamos que as nações mais desenvolvidas conservam sempre um pano de fundo residual cultural, prioritariamente determinado pela língua, mesmo que nos seus territórios se misturem vários povos e nações. Já entre nós, aqui na África Austral, o substrato bantu está a diluir-se a cada década que passa, está a tornar-se obsoleto, e um elemento desse substrato, as línguas locais, está em desuso paulatino.
Estamos plenamente cientes de que a total liberdade conferida pela Independência de Angola constitui uma oportunidade para o resgate pleno de vários instrumentos ideológicos culturais legados pelos nossos ancestrais.
Quatro anos depois que a União Africana celebrou o seu Jubileu de Ouro, – e quando Angola completa 42 anos de independência – acreditamos que é tempo de realizar esse sonho nascido no período da luta anti-colonial que o poeta Agostinho Neto sintetizou no poema A Voz Igual como o acto de “Reencontrar a África”, o reencontro com “a forma e o âmago do estilo africano de vida” continuando a inserir-nos sem complexos na modernidade.
Com este ideário histórico-cultural, é possível aos intelectuais e mulheres e homens de Cultura angolanos iniciarem um movimento de renascimento artístico-cultural capaz de retomar e promover os postulados do Movimento dos Novos Intelectuais de Angola, de 1948, e do seu slogan VAMOS DESCOBRIR ANGOLA, no sentido de ‘combater o respeito exagerado pelos valores culturais do Ocidente (muitos dos quais caducos); incitar os jovens artistas e escritores a redescobrir Angola em todos os seus aspectos; estudar as modernas correntes culturais estrangeiras, mas com o im de repensar e nacionalizar as suas criações positivas e válidas; pautar-se, na obra de arte, por privilegiar a expressão da autêntica natureza africana, com base no senso estético, na inteligência, na vontade e na razão africanas’.
3. É que não estamos, nem nunca estaremos, de acordo com a tese globalizante de que os europeus são entendidos como os "fazedores da história” e que o mundo tem um centro geográ ico que lidera e inova e uma periferia sempre em estado de atraso que apenas sabe imitar.