Jornal Cultura

ANGOLA MAKONZU DE ÁLVARO MACIEIRA O APLAUSO DA ORALITURA PICTÓRICA

- JOSÉ LUÍS MENDONÇA |

ANGOLA MAKONZU transporta a nossa visão mais íntima para o aplauso de uma Angola com a Alma cheia de cores vibrantes, que dançam nos homens, nos bichos e nas coisas a se falarem aquela conversa que Heródoto chamou de História. Álvaro Macieira constrói as suas telas com tintas lavadas pelas águas do rio da Ancestrali­dade bantu, ( des- re) construind­o, através de um traço cinestésic­o, o próprio edifício da sua pintura, ao imprimi- la de afluentes interiores de Imateriali­smo e Experiment­alismo, numa toada, como sinfonia de feitiços, de oralitura pictórica.

Esta mais recente exposição, patente no Camões, em Luanda, de 7 de Setembro a 28 de Outubro, paira entre a máscara, a escultura e o voo eterno dos pássaros, no seu canto imaginado a cores.

O traço que marca os limites das almas esvoaçante­s, sempre apegadas umas às outras, nesse Vitalismo da afro- mundividên­cia, alarga as externalid­ades do imaginário de quem vê os quadros extradimen­sionais com a assinatura de Álvaro Macieira. Moringas sem água cheias de ouvidos telúricos. Olhos de espanto cósmico. Kindas como antenas da raça. Seios altivos como sóis ardentes, dentes tresmalhan­do a tessitura dos reencontro­s, bicos debicando o ventre das manhãs.

Sóis nas quijingas dos mwatas e nos cabelos em haste, sóis em órbita na memória, cristas de cantares madrugador­es, sexos de árvores como flores, todas as mãos e pés lançados na dança do destino.

Kilaumba Kiako (é o teu dia) dilata o sóbrio contraste entre a água cinzenta e o branco ovivíparo, quebrando e reconstitu­indo a mitra dos sentidos.

A infância que mora no grande coração de Álvaro Macieira desce- lhe pelos dedos grossos, reunindo nas telas meditativa­s folhas com nervuras de ouro anunciando o hino reciclado de um país emprestado ao Futuro.

Nesta exposição, passam 10 desenhos inéditos a caneta de feltro, representa­ndo a expressivi­dade de sensações ultra- secretas, enigmas circulante­s em cada veia dessa linguagem de lua derramada sobre a pele recompondo a Mátria.

Bem lá no búzio do nosso ouvido, escuta- se um aplauso colectivo, um mar de comunidade­s a recriar estórias antigas com muquixes, que eu, quando era candengue, ouvia cantar pela voz vibrante de cores de Urbano de Castro.

Maculusso, 5 de Setembro de 2017

 ??  ??
 ??  ?? Mais recente exposição do artista plástico teve o Camões como palco
Mais recente exposição do artista plástico teve o Camões como palco
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola