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CONTRA AS ARMAS NUCLEARES

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Comité Nobel norueguês decidiu distinguir a Campanha Internacio­nal para a Abolição das Armas Nucleares (ICAN) "pelos esforços para captar atenção para as catastró icas consequênc­ias humanas" da utilização deste tipo de armamento. Num período conturbado em que a utilização de armamento nuclear é um dos principais temas mundiais, o Comité Nobel norueguês decidiu atribuir o Prémio Nobel da Paz à Campanha Internacio­nal para a Abolição das Armas Nucleares.

“Vivemos num mundo em que o risco de utilização de armas nucleares é maior do que alguma vez foi”, declarou Berit Reiss-Andersen, líder do Comité Nobel da Noruega.

A ICAN pauta-se por ser uma coligação de activistas que pretende o desarmamen­to nuclear. Foi premiada pelo seu trabalho nas negociaçõe­s que terminaram com a criação de um tratado para proibir armas nucleares, juntamente com as Nações Unidas.

“A organizaçã­o foi agraciada com este prémio pelos seus esforços para captar atenção para as catastró icas consequênc­ias humanas das armas nucleares e pelos esforços inéditos para alcançar um tratado baseado na proibição de tais armas”, declarou a presidente do Comité Nobel.

A Campanha Internacio­nal sucede ao Presidente colombiano, Juan Manuel Santos, na atribuição do Prémio Nobel da Paz, pelos esforços realizados para restaurar a paz na Colômbia.

Trabalho desenvolvi­do à escala global

A ICAN trabalha há muito por um travão à utilização de armamento nuclear. A coligação é não-governamen­tal e está presente em mais de 100 países. Nasceu na Austrália, mas foi formalment­e instituída em 2007 em Viena.

Em Julho deste ano, a ICAN foi responsáve­l pela criação de um tratado (apoiado pelas Nações Unidas) que proíbe a utilização de armamento nuclear.

Apesar da adopção do documento por parte de 122 países, entre os quais Portugal, os principais Estados com armas nucleares, como Estados Unidos, Reino Unido, Rússia, China e França, não assinaram o tratado e descrevera­m-no como uma “diversão”.

ICAN destaca “grande honra”

A Campanha Internacio­nal para a Abolição das Armas Nucleares mostrou-se honrada pela atribuição do Prémio Nobel.

“É uma grande honra ter recebido o Prémio Nobel da Paz 2017, como reconhecim­ento do nosso papel na criação de um tratado que proíbe a utilização de armas nucleares. Este acordo histórico, adoptado a 7 de Julho com o apoio de 122 nações, oferece uma poderosa e necessária alternativ­a para o nosso mundo em que as ameaças de destruição em massa prevalecem”.

O grupo sublinhou que o Nobel é um prémio merecido para todos os activistas à escala internacio­nal que tentam parar a utilização de armas nucleares, assim como e um tributo para as vítimas dos ataques nucleares de Hiroshima e Nagasáki, no Japão.

“É um tributo aos sobreviven­tes dos ataques nucleares a Hiroshima e Nagasáki e outras vítimas de explosões atómicas em outras partes do mundo. As suas histórias foram instrument­ais para assegurar este marco”, continuou por explicar a ICAN.

“Agradecemo­s humildemen­te ao Comité Nobel norueguês. Este prémio traz luz a um caminho que o tratado pretende percorrer até alcançar um mundo livre de armas nucleares. Antes que seja tarde, temos de reconhecer esse trilho”, concluiu a organizaçã­o.

O relógio do Apocalipse

No artigo “O que é o Relógio do Apocalipse, e por que ele indica que desde 1953 nunca estivemos tão perto de uma catástrofe global?”, Gerardo Lissardy, da BBC Mundo em Nova York, publicado a 14 de Julho deste ano, escreve:

“Existe um relógio que, em vez de medir a passagem do tempo, indica o quão perto o planeta está de ser destruído. Actualment­e, os seus ponteiros marcam dois minutos e meio para meia-noite, horário previsto para o im do mundo.

É o chamado Relógio do Apocalipse, criado em 1947 pelo Boletim dos Cientistas Atómicos (BPA, na sigla em inglês), nos Estados Unidos.

Não se trata de um objecto, mas de uma ilustração simbólica. Os ponteiros do relógio não se movem por meio de uma medida cientí ica, mas de acordo com o parecer dos integrante­s do conselho de ciência e segurança do BPA, que se reúne duas vezes por ano para determinar o quanto falta para meia-noite.

“É um símbolo que representa o quão perto ou longe estamos de uma catástrofe global. O que queremos mostrar com isso é o quão próximos estamos de destruir a vida na Terra como a conhecemos”, explica Rachel Bronson, directora-executiva e editora do boletim.

O último ajuste nos ponteiros aconteceu em Ja- neiro deste ano, logo após a posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos. Na ocasião, o relógio foi adiantado em meio minuto.

Apenas em 1953 os ponteiros estiveram mais adiantados do que agora, marcando dois minutos para meia-noite, após os EUA e a antiga União Soviética testarem bombas termonucle­ares.

Para os responsáve­is pelo relógio, eventos recentes - como o lançamento de um míssil balístico interconti­nental pela Coreia do Norte e a decisão de Trump de retirar os EUA do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas - acendem um alerta.

Quando o Relógio do Apocalipse foi criado, em 1947, simbolizav­a a preocupaçã­o dos cientistas com o risco de um con lito nuclear diante da corrida armamentis­ta no início da Guerra Fria.

Desenhado pela pintora Martyl Langsdorf, mulher do ísico Alexander Langsdorf, do Projecto Manhattan (projecto de pesquisa e desenvolvi­mento que produziu as primeiras bombas atómicas durante a 2ª Guerra Mundial), o relógio marcava sete minutos para meia-noite em sua primeira aparição na capa do boletim.

Desde então, a posição dos ponteiros foi ajustada 22 vezes para frente ou para trás. Atualmente, o relógio re lecte, juntamente com o risco nuclear, a preocupaçã­o dos cientistas com os efeitos da mudança climática e novas tecnologia­s, como a inteligênc­ia arti icial e a biologia sintética.

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Berit Reiss-Andersen, líder do Comité Nobel da Noruega
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Número de armas nucleares no Mundo

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