CRÓNICAS DA BANDA DE FERNANDO RNANDO O MARTINS
DE FERNANDO MARTINS
O conhecido anda Literatura. géneroo muitoo jorjornalístico Poror comoomo prpróximo issoisso, crcrónica não da é paraa quem quem sabe querquer. que a É Literatura Lit para não é somentesomen aquilo que se escreve,, masmas, sobretudo, o COMO OMO se escreve. escr Crónicasónicas da Banda, de Fernando Martins, além de revelaremem uma autênticaauttica paixão pela crcrónica e pelo jornalismo,, são a marcamar da alma e do coraçãocoração do autor.
Diz o meu confrade Osvaldo Gonçalves, na sua crónica ‘Deus também lê crónicas’, em homenagem ao Fernando Martins, “Deus não joga aos dados. Isso já sabemos. Mas uma coisa é certa: lê crónicas.” O Osvaldo está, como é óbvio, a realçar “esse mau hábito de cronicar com qualquer ingrediente” que era um dos melhores dons do Fernando Martins. E a revelar que, lá no assento etéreo onde partiu, o FM continua ocupado, porque afinal, ali está ele ao lado de Deus, que lhe ouve contar os mambos cá da Terra.
Só acredita na morte e no seu aguilhão, quem tem apego à matéria física, à pedra escura e à lágrima orvalhada do Cacimbo. Aquele que deixa um legado para os seus companheiros e para o povo em geral nunca morre. Este recado é para a menina Anica, a filha caçula do FM, não acreditar que o pai dela morreu. Ele, o FM, não vai gostar nada de saber que a caçula dele, a Anica, esteja aqui a chorar e a sofrer, porque ele, como disse na minha crónica aqui publicada neste livro, e, como se pode ler:
“Estava eu já cansado das passadas pela Rei Katyavala abaixo e me sentei ali num daqueles bancos de cimento do largo em frente à Igreja do Carmo, abro o jornal e começo a ler a matéria do Osvaldo, quando vejo ao meu lado o Fernando Martins com os olhos espetados no meu jornal, a ler “Deus também lê crónicas”. E bem ao lado direito do Fernando, vi Deus na sua omnipotência, nos observando. Deus não sabe ler. Deus escreve direito por linhas tortas, mas não lê crónicas. O homem é que saber ler. Por isso, o Fernando lia a crónica e Deus “lia” o silêncio da alma do Fernando.
Ali no banco do jardim, olhei bem para o Fernando Martins (Deus já tinha ido embora) e “li” o coração dele. Me dizia: “ó pá, ó Mendonça, não penses que fugi de vocês, eu me embarrei da vida, porque Luanda é a única capital do mundo onde os jardins e locais públicos para nos encontrarmos icaram tão raros como o diamante. Aqui onde nos sentamos parece o jardim do Éden. É milagre dessa igreja do Carmo ali à frente. A Biker, que tantos anos nos ouviu sorrir de alegria, virou um antro de zungueiras e kinguilas, a comer com a mão pela mesma tijela o funge com fúmbua, o que até faz jus à nossa tradição, mas é sempre uma vil imagem de qualquer cidade capital. O Largo da Portugália foi tomado pela kinguila Georgina e amigas e pelos ardinas de chão. A capital precisa urgente de uma engenharia urbana que reverdeça o Miramar, o Alvalade e outras zonas verdes e ponha muitos baloiços até aos Ramiros, para as crianças brincarem. Hoje, onde é que a malta se pode encontrar para nos candandarmos?” E, dito isto, o Martins foi-se embora, na peugada de Deus.
COMO SE ESCREVE UMA CRÓNICA
O género jornalístico conhecido como crónica anda muito próximo da Literatura. Por isso, não é para quem quer. É para quem sabe. Para quem sabe o quê? Para quem sabe que a Literatura não é somente aquilo que se escreve, mas, sobretudo, o COMO se escreve.
É, pois, como bem diz o Osvaldo, desta forma que o FM reproduzia o tempo e o modo de ser angolano: “Ouvias uma estória e já estava. “Já leste o Correio da Semana? O Nando fala de ti na crónica!” E lá íamos à procura do jornal”. A boa crónica, tal como a arte de escrever Literatura, é contar uma estória da vida com certa estética e rigor metafórico. E, sobretudo, tem de conter uma boa dose de iloso ia. Para além de que deve ser culta. A crónica feita de só de palavras atiradas ao papel, sem referências culturais, sem aquele jogo semântico entre a iloso ia, a política e a boca do povo, resulta num exercício inútil e que nem sequer deve ser editado em livro.
Os trabalhos do FM, para além de revelarem uma autêntica paixão pela crónica e pelo jornalismo, são a marca da alma e do coração do autor. Solidariedade, preocupação com a cidade e o país e, resultado desses sentimentos, intervenção ou engajamento social, são os três atributos do animal político que FM não podia deixar de cultivar, mesmo nas peças mais hilariantes, porque o FM brincava com a própria noção de seriedade.
“Sei que não eras muito virado para a política, mas quando a inavas o teu piano, fazia bom uso do teu diapasão”, diz, mais adiante, o mano Osvaldo na crónica a que nos reportamos.
O diapasão de intervenção social do FM foi bem usado a tal ponto que, neste livro, podemos rever o retrato de uma época em que os afectos ainda trocavam de pele e de conversa ( a) fiada, em que havia uma certa afi- nidade intencional, procurada, em que os luandenses assalariados, intelectuais proletários, em suma, os que realmente trabalham, se juntavam aos boémios da vida. Daí a linguagem agarrada na boca escultural dos mambos da banda.
Quando o Correio da Semana fechou, Angola começou a mudar. As Crónicas da Lanchonete acabaram. O Fernando Martins, com aquela alma dele, a alma dos humildes servidores do povo, passa a escrever, a partir de 2002, para o Agora, a nova coluna intitulada Pena Livre. Aqui se acentuou o verdadeiro sentido da crónica, dos tempos de Fernão Lopes e Gomes Eanes de Zurara, da era Medieval portuguesa. Na Pena Livre de FM podemos, assim, ler o termómetro da liberdade de expressão em Angola
Mesmo de coração amargurado pela visão de uma sociedade saída de uma longa guerra, e que não soube encontrar o melhor caminho para fazer a diferença entre o colonialismo e a independência, FM continuou a esculpir a Arte de cronicar como só ele sabia: a captação do cómico e do burlesco, ou melhor, a sua fabricação a partir dos lugares comuns da vida, de que fazem parte saltitante as fofocas, ou aglomerados de pequenos grupos que querem apenas festejar, todos os dias, o puro acto de estar com o outro.