O DITO E NÃO DITO EM CARTA DUM CONTRATADO DE ANTÓNIO JACINTO
om o presente diálogo, pretende-se numa viagem aleatória e o funcionamento aleatório não é opaco, apreender o dito e não dito em António Jacinto. A pretensão não passará por delimitar as fronteiras entre a linguagem conotativa e denotativa. Todavia, encontrar as dicotomias en- tre o dito e o não dito por intermédio de leitura polissémica, ater-se-emos no dito como a ideia principal e o não dito como o reforço implícito, até certo ponto, oposto da ideia principal. Contudo, a desenvoltura do nosso diálogo poderá em alguns parágrafos assumir contornos imprevisíveis. A linguagem do sujeito poético é provida de argúcia e desejo anafórico, evidenciada pelo uso constante da forma ver- bal do verbo «querer» “eu queria escrever-te uma carta amor/ (…) eu queria escrever-te uma carta amor/”. Ausência do recalque, o contexto não o inibiu, dá prioridade a descoberta ilusória. Falamos em descoberta ilusória como hipótese, o sujeito poético singulariza a sua realidade, através do pronome pessoal «eu». Porém, esta singularidade no decurso do poema representa a pluralidade do contexto “ (…) outra ela não tivesse merecimento…”. Retomemos à descoberta ilusória, recriou o seu estado lírico em oposição à sua condição social. Sua pretensão não passaria para a praticabilidade, muito por causa do analfabetismo real que encerra o corpo do poema e agudiza a sua intencionalidade “(…) que tu não sabes ler/ (…) não sei escrever também”. O poema Carta Dum Contratado advém de um contexto