UMA REFLEXÃO EMBRIONÁRIA SOBRE A TITULOGIA NA LITERATURA ANGOLANA
Opropósito da presente comunicação não se consubstancia na imensurabilidade, mas re-lançar a discussão em volta dos títulos na literatura angolana. A sua selecção é arbitrária e exempli icação aleatória. Poderá até soar estranha ao nível fonético. A palavra “titulogia”, quanto ao seu enquadramento morfológico, é um substantivo, quanto à semântica poderá de inir em função do contexto. Em nosso estudo, advém da cisão títu+logia=titulogia. Segundo, o conceito de título, o Dicionário Da Língua Portuguesa Contemporânea (2001:3573) “(Do latim titŭlus). Denominação de um livro, capítulo, jornal, artigo (… )”. O conceito de titulogia surge de processos linguísticos distintos, primeiro recorre-se à queda ou supressão propositada, apócope, elimina-se a última sílaba “lo”. Posteriormente dá-se, implicitamente ao processo morfológico de formação de palavras, a falsa derivação por “títu e logia” não se tratarem concretamente de su ixo e pre ixo. Com o referido conceito pretende-se inferir ao estudo semântico dos títulos na literatura angolana. Por último, é também um neologismo híbrido. Recorreu-se a segmentação do conceito para se apurar mesmo de forma embrionária à sua formação. Porém, por nenhuma abordagem apresentar unanimidade e alguns segmentos da sociedade adoptar a postura de leitura da pessoalidade, preferiu-se apenas citar os títulos das obras e não o nome dos escritores. Descartam-se ainda as probabilidades de uma abordagem que crie cadeias imaginárias sobre este ou aquele título para determinados géneros ou subgénero, em todo caso, embora pareça paradoxal, é importante que o escritor não crie assimetria entre o título e conteúdo. Por exemplo, “Ritos de Passagem” parece tratar-se de um ensaio, quando na verdade é uma obra poética.
De igual modo, aconselha-se que não se ignore a intenção titulógica do escritor. As comunicações que surgem dos absolutismos estão propensas ao tropeço histórico. Daí a necessidade de se trazer à super ície dois princípios ilosó icos: um que relaciona empirismo e outro a racionalidade. Atemo-nos no último, René Descartes acredita na possibilidade de se atingir a verdade simplesmente pela razão. Continua o pensador cit. por José Eduardo Carvalho (2009:25), “Descartes a irmava: como os nossos sentidos nos enganam por vezes, devo supor que nada é aquilo que parece; a única coisa de que não posso duvidar é de que penso em alguma coisa (…) Cogito ergo sum”. Embora todo conhecimento comece com experiência, não implica que todo conhecimento se origina concretamente da experiência. Entende-se que a razão serve-se algu- mas vezes da experiência para melhor apreensão do objecto de estudo. Numa leitura hermenêutica sobre a titulogia na literatura angolana estabelece-se uma inter-dependência entre a teoria da linguagem e a teoria da interpretação. Para que possa existir uma relação é necessário que não se atropele a leitura hermenêutica, isto é, o título existencial por constituir contacto primário entre o sujeito leitor e a obra. Cada época, cada civilização, em conformidade com o conjunto do seu saber, das suas crenças, das suas ideologias, respondem de modo diferente e perspectivam a linguagem segundo os moldes que os orientam.
Segundo Kristeva (1969:19) “a linguagem é simultaneamente o único modo de ser do pensamento, a sua realidade e a sua realização”. Assim sendo, o título como linguagem é inerente à obra literária, para além de ser expressão intuitiva ou pré concebida é manifestação implícita do conteúdo da obra. Por existir uma fronteira entre o sujeito e o objecto que torna, algumas vezes, o objecto desconhecido pelo sujeito, a razão, no presente estudo, coloca-se como hipótese diante dos fenómenos titulógicos, interpreta-o como apresentam-se e como poderiam ser apresentados. Observa ainda W. Van Zyl cit. por Luís Leal, (1994:71) “Para além de uma função identi icadora o título da obra literária possui também outras funções. Essas variam muito (…) poder-se-á a irmar que as mais correntes são as de preparar o leitor para o que vai ler e a de estabelecer uma relação dinâmica com o corpo do texto”. Por isso, o conhecimento para Kant só seria possível se de alguma forma o ser humano pudesse apreender um conteúdo que lhe despertasse ou lhe trouxesse algum sentido, em relação à nossa comunicação o conteúdo começa a ser descortinado a partir do título. O mesmo serve de cartão-de-visita da obra, a monstra do possível conteúdo exposto. Por conseguinte, que ique claro que os títulos menos conseguido não põem em causa a expressividade e relevância do conteúdo literário. Constata-se que tem crescido a incidência de títulos menos conseguidos na literatura infanto-juvenil, produzido nas últimas décadas, “A Minha Baratinha”. Embora o Dicionário Integral Língua Portuguesa (2013:206), numa das suas acepções a presente como uma igura de estilo que signi ica “irmã de caridade, freira”. Precisa ser revista, pois que ao descortinar-se, é um insecto portador de doenças diarreicas agudas. A palavra “Baratinha”, de ponto de vista morfológico é um substantivo comum-concreto no grau diminutivo, a mesma adquire diferentes signi icações de depreciação e a de carinho.
O pronome possessivo feminino “Minha” reforça a ideia de uma relação de aceitação, de convívio e sobre tudo de posse. Ter um insecto-barata como amiga ou irmã de estimação evidencia um contraste, inclusive os nutricionistas e os biólogos desaconselham o convívio com as baratas. Ainda na esteira da titulogia “Poeticidade no Discurso Prosaico de Wanyenga Xitu”, O referido título passa a falsa ideia de que a prosa seja poesia. Outro sim, veri ica-se uma inde inição quanto à obra, a editora chama de ensaio e sai como poesia, julgamos haver um atropelo conceptual. Sem se ater ao purismo, a poeticidade é um adjectivo genético da poesia, dito de outro modo, é a linguagem da literariedade na poesia. Por sua vez, é sabido que o discurso está entre as fronteiras do texto literário e não literário. Por tanto, a prosa como a poesia por serem textos literários é normal que um ou outro saiba incorporar em suas composições partículas prosaicas ou poéticas, ou que haja cheiro de um sobre o outro. Foi dito anteriormente de forma diferente, reforça-se que o título permite ao leitor visualizar ou ter uma ideia aproximada da obra literária “A Chave no Repouso da Porta”, pela mecanização do título advinha-se implicitamente ser obra bastante zelosa ao nível dos recursos estilísticos. Em sentido contrário, os títulos bem conseguidos ao nível da literatura em geral, especi icamente os de auto ajuda fazem com que as vendas atinjam números surpreendentes.
Numa visão consumista e análoga, a conjuntura actual por estar a ser cotovelada pelo desemprego, quem publicar um livro intitulado “Técnicas Para Convencer A Entidade Empregadora”. Um outro encaixe seria, pelo nível de homicídio que é causado pelo ciúme, “Aprenda Em Segundos como Lidar Com Ciúme”. A partir do método indutivo, concluíra-se que venderiam pelos títulos, sem se pôr em causa a possível qualidade de os seus conteúdos. Segundo Kyser (1976:202), “foi