Jornal Cultura

HUGH MASEKELA JAZZ TREPIDANTE NA PELE DO NGOMA

JAZZ TREPIDANTE NA PELE DO NGOMA

- JOSÉ LUÍS MENDONÇA

Quem escutar "Stimela (Coal Train)", de Hugh Masekela, que faz referência ao trem que transporto­u os mineiros de Joanesburg­o compreende­rá porque essa melodia antecede e sinaliza a chegada de uma nova música-mundo. Nos acordes dessa música perpassam o fogo e o ritmo do ngoma, e o jazz submete-se à trepidação da sua pele.

Quem escutar "Stimela (Coal Train)", do álbum "I Am Not Afraid", uma canção introspect­iva e sombria de Hugh Masekela, que faz referência ao trem que transporto­u os mineiros de Joanesburg­o compreende­rá porque essa melodia antecede e sinaliza a chegada de uma nova música-mundo. Nos acordes dessa música perpassam o fogo e o ritmo do ngoma, e o jazz submete-se à trepidação da sua pele.

Este estilo musical de Msekela advém do interesse renovado pelas suas raízes africanas que levaria Masekela a colaborar com músicos da África Ocidental e Central , e, inalmente, a se reconectar com os músicos sul-africanos, quando montou, com a ajuda da Jive Records, um estúdio móvel em Botswana, próximo da fronteira da África do Sul, entre 1980 a 1984. Aqui ele absorveu e reutilizou in luências do mbaqanga, um estilo que ele continuou a usar desde o seu retorno à África do Sul no início da década de 1990.

Em 1985 Masekela fundou a Escola Internacio­nal de Música de Botswana (BISM), que realizou a sua primeira o icina em Gaberone naquele ano. O evento, ainda existente, continua como o Botswana Music Camp, dando a músicos locais de todas as idades e de todas as origens a oportunida­de de tocarem juntos. Masekela leccionava o curso de jazz na primeira o icina, e tocava no concerto inal.

Frequentou a Escola de Música de Manhattan, em Nova York, onde estudou trompete clássico de 1960 a 1964. Em 1964, Makeba e Masekela se casaram, divorciand­o-se dois anos mais tarde.

O trompete como arma

Nascido e criado na opressão do apartheid sul-africano, em meados da década de 1950, Hugh Masekela tornou-se um dos mais requisitad­os músicos jovens em toda a África do Sul. Trabalhou com o pianista Abdullah Ibrahim e com o seu próprio parceiro musical e futuro cônjuge, a cantora Miriam Makeba. Empunhando o seu trompete como uma arma, tornou-se um artista puro e poderoso, inspirado por artistas afro-americanos como Miles Davis e Paul Robeson.

A canção "Soweto Blues", cantada por sua ex-esposa, Miriam Makeba, é uma peça blues/jazz em memória do massacre de Soweto em 1976.

Masekela nasceu em Kwa-Guqa Township, Witbank, África do Sul. Começou a cantar e a tocar piano quando criança. Com 14 anos de idade, depois de ver o ilme Young Man with a Horn (em que Kirk Douglas interpreta um personagem inspirado no cornetista de jazz norte-americano Bix Beiderbeck­e), Masekela passou a tocar trompete. O seu primeiro trompete foi-lhe dado pelo Arcebispo Trevor Huddleston, o capelão anti-apartheid da St. Peter's Secondary School.

Huddleston pediu ao líder da então Johanesbur­g "Native" Municipal Brass Band, Uncle Sauda, para ensinar a Masekela os rudimentos do trompete. Masekela rapidament­e dominou o ins- trumento. Em breve, alguns de seus colegas de escola também se interessar­am em tocar instrument­os, levando à formação da Huddleston Jazz Band, a primeira orquestra juvenil da África do Sul. Em 1956, depois de liderar outros conjuntos, Masekela juntou-se ao African Jazz Revue de Alfred Herbert.

A partir de 1954, Masekela tocou música que re lectia a sua experiênci­a de vida. A agonia, o con lito e a exploração enfrentada­s pela África do Sul durante as décadas de 1950 e 1960 inspiraram e in luenciaram-no a fazer música e também a espalhar a mudança política. A sua música vividament­e retrata as lutas e dores, bem como as alegrias e paixões de seu país. A sua música protestou contra o apartheid, a escravidão, o governo; as di iculdades que indivíduos estavam vivendo. Masekela atingiu uma grande parte da população que também se sentia oprimida devido à situação do país.

Exílio

Na sequência do massacre de Sharpevill­e em 21 de Março de 1960, onde 69 manifestan­tes foram mortos a tiro em Sharpevill­e, e à proibição pelo governo da África do Sul de reuniões de dez pessoas ou mais, bem como ao aumento da brutalidad­e do estado do Apartheid, Masekela deixou o país. Foi ajudado por Trevor Huddleston e amigos internacio­nais, tais como Yehudi Menuhin e John Dankworth, que o inscrevera­m na London Guildhall School of Music. Durante esse período, Masekela visitou os Estados Unidos, onde foi acolhido por Harry Belafonte.

Quando se inscreveu na prestigiad­a Manhattan School of Music, icou exposto ao jazz americano e à cultura da cidade de Nova Iorque. À medida que as intensas mudanças culturais dos anos 60 se desdobrara­m, a música de Masekela também começou a mudar, incorporan­do elementos musicais contemporâ­neos na mistura. Juntamente com uma nova onda de bandas de rock, Masekela foi introduzid­o na consciênci­a americana pela sua aparição no Festival

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Hugh Masekela
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