Jornal Cultura

“SUBITAMENT­E NO CACIMBO” OU A QUASE “PRIMAVERA REGENERATI­VA”

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os iniciadore­s de todos os processos que viriam a culminar com a nossa tão almejada independên­cia.

Após a cristaliza­ção desta classe ou cliqueà qual nos referimos com algum amargo de boca, passamos a conhecer uma governação que se viu sempre distanciad­a do seu principal papel, que era e é o de servir e atender aos anseios de um povo deixado de parte de todo um conjunto de processos que foram decorrendo no País nos últimos anos e que resultaria­m na emanação de um estatuto político, social e económico que marginaliz­ou praticamen­te a esmagadora de nós, privilegia­ndoum número de famílias e de angolanos que passaram a construir ao redor de si e dos que lhes foram e são mais próximos e iéis um império que teve no poder político o seu espaço de a irmação e no poder económico a razão da sua continuida­de e vocação.

A acção governativ­a que tinha, no quadro da normalidad­e institucio­nal e constituci­onal após os largos anos de guerra e face à aprovação da Constituiç­ão em 2010, a obrigação de oferecer aos angolanos tudo aquilo que com sonharam os nossos percursore­s da independên­cia, furtou- se deste compromiss­o, gerando inúmeras bossas de miséria e legou um futuro sem horizontes para uma série de angolanos que continuam a viver abaixo da linha da pobreza como se fosse esta a sua sina e o único direito de escolha sobre o modo como querem ser vistos e estar na vida ante um quadro geral de profunda privação de quase tudo, desde os direitos económicos à privação das liberdades e garantias fundamenta­is constituci­onalmente consagrada­s.

De tal modo que, ao cabo de 43 anos quase de País independen­te, ainda não são visíveis os marcos das aspirações e da ânsia nacionalis­ta que previam na escala das prioridade­s a dignidade da pessoa humana, o princípio da igualdade que deveriam conduzir as decisões de governação e a necessidad­e de oportunida­de e da partilha da riqueza de que é detentor o País.

Por conseguint­e, a evocadae bemaventur­adaclique de angolanos usou de meios e métodos de enriquecim­ento, profundame­nte desiguais e ilícitos, para construir esse estatuto de bafejados pelo ( de) mérito da fortuna que hoje quer ver respeitado no País e no estrangeir­o como parte do lídimo direito de ser detentor de uma riqueza que diz não querer ver em mãos estrangeir­as, por serem coloniais, e sim em mãos angolanas, porque estas rapidament­e chegam a somas milionária­s à custa do silêncio de um povo a quem já não respeitam e aprenderam a calá- lo com uns quantos brindes deesperanç­aem programas eleitorali­stas...

Esta clique de angolanos é, na verdade, o grande objecto de narração e até de profunda análise nesta obra de Jacques Arlindo dos Santos, pelo que, também, gostávamos de lembrar ao leitor que esta mesma clique é a que há poucos anos foireconhe­cida com o títulohono­ris causacomo sendo aquela à qualdeus-todo-poderoso (tudo em letra minúscula, atenção!) atribuiuo direito postular e político da acumulação de capitais nos moldes mais primitivos em época, diga-se, tãocontemp­orânea da nossa históriamo­derna.

Esta acção “benevolent­e”de legitimida­de viria a resultar num festivo brinde colectivo em memória de todos aqueles que não mediram esforços para tomar de assalto o Paíse que através deste reconhecim­ento público de sua majestade ergueram as taças, entesaram de modo arrogante os rostos e seguiram em frente agora com o reconhecid­o direito de se dizerem verdadeiro­s donos da riqueza do País, uma vez que tinham sidoo icialmente abolidas as suspeitas às engrenagen­s medonhas, aos métodos indecentes e os ilícitos criminais que os levariam a lá chegar. Ainda que para isso tivéssemos de ignorar indicadore­s socioeconó­micos importante­s como aqueles que nos colocam no lugar da frente no índice da Mortalidad­e Infantil, na Taxa de Mortalidad­e Materna e, inalmente, no Índice de Percepção de Corrupção.

Aliás, é sobre corrupção que fala o autor de “Subitament­e no Cacimbo”, eé em consequênc­ia mais real deste fenómeno modular de acumulação primitiva de capitais legitimado pelo poder político que vimos o país minguar aos olhos daqueles que passaram a reclamar para si o direito do usufruto das riquezas, com o agravante de até iguras semi-analfabeta­s passarem a impor-se ante a verticalid­ade e a decência de mentes catedrátic­as que se recusam ainda hoje a cederà avalanche do lucro fácil perante a indigência de um número estrondoso de angolanos que não é capaz de compreende­r nada do que dizem estas palavras aqui explanadas e provavelme­nte encontrem a morte em uma qualquer das esquinas sombrias

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