Jornal Cultura

E O BARRO SE FAZ ARTE E HABITA ENTRE NÓS

- JOSÉ LUÍS MENDONÇA

Horácio Dá Mesquita é um artista de mão cheia. Toca vários instrument­os. Modela o barro cinza escuro da Barro do Dande, coze- o a alta temperatur­a, cobre- o de cobalto do Lubango, sobe ao terraço da casa construída junto à praia de águas castanhas do Cacuaco e ali desenha e pinta coisas que a Vida lhe inspira. Na oficina do quintal, forjada pela sua mão de metalúrgic­o experiente, brota toda uma arte de recriar a matéria bruta. Ali, o barro se faz Arte e habita entre nós.

Horácio Dá Mesquita é um artista de mão cheia. Toca vários instrument­os. E leva sempre por onde vai um ninho de pássaros chilreante­s dentro da alma. Modela o barro cinza escuro da Barro do Dande, coze-o a alta temperatur­a, cobre-o de cobalto do Lubango, sobe ao terraço da casa construída junto à praia de águas castanhas do Cacuaco e ali desenha e pinta coisas que a Vida lhe inspira. É ali também onde extrai da concertina sons mágicos que os amigos das tertúlias aos domingos gostam de ouvir. Na o icina do quintal, equipada com forno, tornos, moinhos, embalagens de argila, tudo forjado pela sua mão de metalúrgic­o experiente, o barro se faz Arte e habita entre nós.

– Como a combustão não é eléctrica, o forno tem sempre de ser aceso de porta aberta. Seja este forno, seja o forno industrial, tudo o que é combustão tem de estar completame­nte desimpedid­o e de porta aberta. – para início de conversa, assim fala Horácio da Mesquita.

O artista plástico liga as enormes botijas de gás situadas por detrás do forno que ele próprio construiu e onde já esperam quatro vasos de argila modelada. O fogo começa a luzir dentro do forno e o artista vai controland­o a temperatur­a:

– Se não for aceso desta forma, o forno corre o risco de explosão, pois não há escapatóri­a dos gases, – continua Dá Mesquita, debaixo do zinco da o icina e do chilreio dos pássaros, nas grandes nimis que preenchem o quintal com uma sombra amena. – As peças vão para forno completame­nte secas, e depois de estarem já no forno, convém anda fazer uma estufa. Enxaguar tudo o que seja humidade, porque a argila absorve-a. Se as peças forem húmidas para forno, partem-se. E subida da temperatur­a deve ser extremamen­te lenta.

Horácio Dá Mesquita faz uma pausa e começa falar da técnica da vidragem, que é a coloração que se empresta ao barro já cozido, para lhe dar uma apresentaç­ão mais ina e um brilho expositivo. É uma cobertura com óxidos metálicos, que vão ao forno, a mais de mil graus, que é o ponto de fusão dos metais.

A vidragem e composta de metais oxidados. Vem do cobalto, explica Dá Mesquita, misturado com fundentes: bórax, um fundente de temperatur­a. Este processo exige muitos ensaios, ou testes. “Os testes são constantes, visto que mudamos sempre de argila”.

– Vamos buscar a argila à Barra do Kwanza. Os caulinos – para fazer a porcelana e a faiança – estão a vir do Lubango. Do Uíje vem esta argila branca – mostra artista. – Depois de amassado, vai para o moinho, de onde sai já preparado e depois é condiciona­do em sacos de plástico, para não absorver nenhum outro elemento da natureza circundant­e, Senão ica duro. Depois de preparado, levo-o para a roda (torno manual).

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 ??  ?? E o barro se fez Arte
E o barro se fez Arte
 ??  ?? Tocando concertina
Tocando concertina
 ??  ?? Forno a gás
Forno a gás
 ??  ?? O trabalho no torno manual
O trabalho no torno manual
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Modelando o barro
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De mãos sujas

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