E O BARRO SE FAZ ARTE E HABITA ENTRE NÓS
Horácio Dá Mesquita é um artista de mão cheia. Toca vários instrumentos. Modela o barro cinza escuro da Barro do Dande, coze- o a alta temperatura, cobre- o de cobalto do Lubango, sobe ao terraço da casa construída junto à praia de águas castanhas do Cacuaco e ali desenha e pinta coisas que a Vida lhe inspira. Na oficina do quintal, forjada pela sua mão de metalúrgico experiente, brota toda uma arte de recriar a matéria bruta. Ali, o barro se faz Arte e habita entre nós.
Horácio Dá Mesquita é um artista de mão cheia. Toca vários instrumentos. E leva sempre por onde vai um ninho de pássaros chilreantes dentro da alma. Modela o barro cinza escuro da Barro do Dande, coze-o a alta temperatura, cobre-o de cobalto do Lubango, sobe ao terraço da casa construída junto à praia de águas castanhas do Cacuaco e ali desenha e pinta coisas que a Vida lhe inspira. É ali também onde extrai da concertina sons mágicos que os amigos das tertúlias aos domingos gostam de ouvir. Na o icina do quintal, equipada com forno, tornos, moinhos, embalagens de argila, tudo forjado pela sua mão de metalúrgico experiente, o barro se faz Arte e habita entre nós.
– Como a combustão não é eléctrica, o forno tem sempre de ser aceso de porta aberta. Seja este forno, seja o forno industrial, tudo o que é combustão tem de estar completamente desimpedido e de porta aberta. – para início de conversa, assim fala Horácio da Mesquita.
O artista plástico liga as enormes botijas de gás situadas por detrás do forno que ele próprio construiu e onde já esperam quatro vasos de argila modelada. O fogo começa a luzir dentro do forno e o artista vai controlando a temperatura:
– Se não for aceso desta forma, o forno corre o risco de explosão, pois não há escapatória dos gases, – continua Dá Mesquita, debaixo do zinco da o icina e do chilreio dos pássaros, nas grandes nimis que preenchem o quintal com uma sombra amena. – As peças vão para forno completamente secas, e depois de estarem já no forno, convém anda fazer uma estufa. Enxaguar tudo o que seja humidade, porque a argila absorve-a. Se as peças forem húmidas para forno, partem-se. E subida da temperatura deve ser extremamente lenta.
Horácio Dá Mesquita faz uma pausa e começa falar da técnica da vidragem, que é a coloração que se empresta ao barro já cozido, para lhe dar uma apresentação mais ina e um brilho expositivo. É uma cobertura com óxidos metálicos, que vão ao forno, a mais de mil graus, que é o ponto de fusão dos metais.
A vidragem e composta de metais oxidados. Vem do cobalto, explica Dá Mesquita, misturado com fundentes: bórax, um fundente de temperatura. Este processo exige muitos ensaios, ou testes. “Os testes são constantes, visto que mudamos sempre de argila”.
– Vamos buscar a argila à Barra do Kwanza. Os caulinos – para fazer a porcelana e a faiança – estão a vir do Lubango. Do Uíje vem esta argila branca – mostra artista. – Depois de amassado, vai para o moinho, de onde sai já preparado e depois é condicionado em sacos de plástico, para não absorver nenhum outro elemento da natureza circundante, Senão ica duro. Depois de preparado, levo-o para a roda (torno manual).