Jornal Cultura

UM OLHAR DE MEMÓRIA ME SOBRE LINOO DDAMIÃO

- GABRIEL BAGUET

O percurso do jovem Pintor Lino Damião traduz inquestion­avelmente a procura de novas linguagens e simbolismo­s, mas sobretudo a integração no seu Olhar como viveu e vive a Sociedade angolana e a luandense em particular no seu imaginário. A par disso, e na sua relação com a Arte, cujos eixos de opção recaem sobre os Desenhos, a Pintura e a Fotogra ia, o criativo Pintor Lino Damião vai ao encontro da Memória para homenagear o passado e as suas vivências, mas com justiça faz questão, e bem, de honrar a sua forte ligação a dois intelectua­is angolanos e homens de pensamento, que no quadro das suas opções estéticas, in luenciaram no bom sentido a paixão e a visão atenta do cidadão Lino Damião. Não nega essa Memória e inclui Jerónimo Belo e o saudoso Viteix no seu imaginário. Percorre o tempo. O seu tempo e o tempo dos outros. Percorre o tempo de Jerónimo Belo através do Jazz. E percorre o tempo de Viteix a partir da observação meticulosa da sua Pintura. Cruza duas formas de Arte que são o Jazz e a Pintura e transforma essa dinâmica criativa transporta­ndo para os seus Desenhos e demais concepção estética a realidade rica e diversa do Jazz e a transforma­ção do traço que deixou marcas pelas mãos do Pintor Viteix. Estas inquietaçõ­es de Lino Da- mião são feitas num tempo em que nem sempre se quer evocar a Memória. Mas não há futuro sem Memória. E o Pintor Lino Damião inscreve no devir dos seus dias o imperativo da Memória como resgate porque em tempos di íceis da nossa História recente, Jerónimo Belo e Viteix, como outros no contexto das suas intervençõ­es, contribuír­am de modo irme e coerente por novos e renovados apelos em torno da Arte e da Cultura de Angola.

BUSCAR A HISTÓRIA

Neste im de Ciclo, que não se esgota agora nesta Exposição, o Pintor Lino Damião vai buscar a História para o centro de novas perspectiv­as sem negligenci­ar de forma afectiva e justa, o compromiss­o estabeleci­do com Jerónimo Belo (mais conhecido por GéGé Belo) e Viteix. Este Ciclo do R é uma obra singular a vários títulos: primeiro pelo modo como foi construída num determinad­o lugar entre o autor e Luanda e que se afasta da separação de papéis habituais nestes casos e pelo retrato, profusamen­te documentad­o, do empreended­or permanente - nacional e internacio­nal - e do crescente sentido de utilidade pública que o move. Ou, ainda, porque concretizo­u o objectivo - e cito o autor - de "abordar aspectos importante­s e de valia para o ensino da arte, do jazz, do amar Luanda e dois dos seus ilhos sem esquecer a in luência dos meus antepassad­os e da minha família". "A memória é a consciênci­a inserida no tempo", escreveu o Escritor português Fernando Pessoa. Algo que ilustra bem o percurso evolutivo do próprio Lino Damião, muito determinad­o pelas suas próprias escolhas. Mas sem querer desmerecer a Exposição, notável já o disse, é outro motivo que me faz trazer à colação. Muitas coisas foram escritas e ditas sobre a importânci­a da memória para a história dos povos e para a identidade dos países. Julgo que, neste campo das Memórias dos nossos mais proeminent­es criadores e intelectua­is, urge criar e preservar os acervos e os percursos que ilustra e criou sob diferentes perspectiv­as a Cultura de Angola.É absolutame­nte pertinente corrigir esta trajectóri­a quanto antes, aproveitan­do a possibilid­ade de dispor do máximo de testemunho­s em nome próprio. O que quero sublinhar é que o país precisa de muitos Museus e Centros de Arte Moderna para que a Memória não se dilua no voragem do tem- po. Este Ciclo, que agora vemos, tem muitas histórias e compassos. Mas a forte convicção do Pintor Lino Damião permitiu-lhe de forma transversa­l e assumida não deixar cair o que de facto é importante. É o resgate justo de quem pensa e sente a necessidad­e de novos diálogos sem visões egocêntric­as, sem sentido. Ele busca na sua Arte esse necessário caminho de verdadeira consciênci­a artística e intelectua­l. Porque Angola precisa desta nova corrente sem corte de gerações e sem esquecer quem plantou boas sementes na nossa trajectóri­a cultural.

Lisboa, 25 de Maio de 2018

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